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Libertadores - 2019

Lomba sucumbiu a "caso Bruno" no Fla e virou melhor do Brasil pelo Inter

Marcelo Lomba foi eleito melhor goleiro do Brasileiro de 2018 pelo Inter e é cria do Fla - Ricardo Duarte/Inter
Marcelo Lomba foi eleito melhor goleiro do Brasileiro de 2018 pelo Inter e é cria do Fla Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Leo Burlá e Marinho Saldanha

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre

28/08/2019 04h00

Ídolo no Internacional, Marcelo Lomba é cria das categorias de base do Flamengo, mas pelo Rubro-Negro pouco brilhou. Hoje, o colorado é responsável por parar a artilharia do ex-clube na partida que define quem avança para as quartas de final da Copa Libertadores, às 21h30, no Beira-Rio.

Se agora o desafio será o de frear um ataque comandado por Gabigol e Bruno Henrique, o goleiro já teve de lidar com um desafio maior que começou dentro de campo e que só aumentou quando o "problema" passou para fora das quatro linhas. Sem oportunidades enquanto Bruno reinava soberano na meta do Flamengo, Lomba foi promovido ao posto de titular com o afastamento e consequente prisão do antigo dono da vaga, em 2010.

Com a Gávea em chamas pelo escândalo da morte da modelo Eliza Samudio, com quem Bruno teve um filho, Lomba foi bancado por Rogério Lourenço, então treinador do Fla, e Zico, que ocupava a direção de futebol.

O respaldo, no entanto, não encontrava eco em outros setores do clube e também na arquibancada. Ainda que tenha feito um Brasileiro sem maiores sobressaltos, sucumbiu em um Fla que vivia dias delicados. Ante a impaciência da arquibancada, virou o ano sem prestígio com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que pediu a contratação do goleiro Felipe, ex-Corinthians. A partir daí, o jogador começa a trilhar o caminho do sucesso. Mas bem longe da antiga casa.

Sombra de Bruno
Lomba e Bruno conversam com técnico Joel Santana no Flamengo - Paulo Sergio/AGIF/FOLHA IMAGEM - Paulo Sergio/AGIF/FOLHA IMAGEM
Lomba e Bruno conversam com técnico Joel Santana no Flamengo
Imagem: Paulo Sergio/AGIF/FOLHA IMAGEM

O assassinato de Eliza Samudio varreu o clube. Com uma das principais referências do time envolvido em um escândalo de grandes proporções, Lomba era perseguido por essa sombra dia e noite.

Apesar de ter conseguido fazer bons jogos, a cobrança foi implacável, além das cornetas dentro do próprio Fla, conforme lembrou Lourenço ao UOL Esporte:

"Por mais que alguns quisessem contratar, a gente queria ele como titular. Procurávamos evitar o assunto Bruno no clube. Acho que qualquer goleiro ali ia ter uma cobrança muito grande. Mas quando se é jovem, a cobrança é muito grande. Era um momento de impaciência, a situação do goleiro é a mais complicada, é diferente de outras posições. Além de o Bruno ser um ídolo, o Lomba era um jovem da casa".

Ídolo e tutor

Lomba contou com o suporte de Cantarele, que era preparador de goleiros do clube nesta fase difícil. Ex-goleiro do Fla durante os anos de ouro do clube, ele vê "culpa" do clube neste caso.

"Para mim, ele não demonstrou insegurança com nada disso. O Flamengo é que não soube aproveitar. Aí, quando saiu, virou o goleiro que virou. Eu tentava passar minha experiência do clube, eu sabia que a cobrança ia ser muito grande. A imagem do Bruno era muito grande", relembrou ele.

Sina rubro-negra
Lomba durante sua passagem pelo Flamengo - Márcia Feitosa/ VIPCOMM - Márcia Feitosa/ VIPCOMM
Lomba durante sua passagem pelo Flamengo
Imagem: Márcia Feitosa/ VIPCOMM

É o próprio Cantarele que lembra que poucos goleiros formados em casa conseguiram ter uma projeção grande no clube. Como exemplo, usou a sua própria situação e a de Júlio César como exceções, embora Zé Carlos também tenha marcado história.

"O Flamengo demora a reconhecer a prata da casa. Os únicos que vingaram fomos eu e o Júlio César. Muitos goleiros muito bons não tiveram vida longa no clube", lembrou.

Mais recentemente, Pulo Victor, hoje no Grêmio, também foi alvo de muitas reclamações e acabou saindo para o Gaziantepspor, da Turquia.

Luxemburgo exige medalhão

A sorte do jogador no clube virou no início da temporada de 2011. Embalado pelas contratações de Ronaldinho e Thiago Neves, o Fla foi ao mercado e acertou com Felipe, ex-Corinthians. Estava selado o destino de Lomba.

Insatisfeito por perder espaço, foi para o Bahia e começou a se destacar. Em Salvador, conseguiu uma grande sequência e as taças dos Baianos de 2012 e 2014. Ainda somou uma passagem na Ponte Preta antes de voltar para o Tricolor baiano.

"O Lomba é bom, arrojado e domina muito bem o gol. Está entre os 5 ou 6 melhores do Brasil. No clube grande só vitória importa. Se viesse um goleiro de nome e o time não embalasse, ele ia sofrer também. Vieram goleiros de fora que não deram certo", pontuou Cantarele.

Escala em Campinas

No meio destas duas passagens pelo Bahia, o atleta foi para vai Ponte Preta. Com os tricolores na Série B, viu em Campinas a chance de seguir se destacando. Ele faz um ótimo Brasileiro em 2015 e seu caminho começa a se virar para Porto Alegre.

Salto para o Inter
Marcelo Lomba em ação pelo Internacional - Ricardo Duarte/Inter - Ricardo Duarte/Inter
Marcelo Lomba em ação pelo Internacional
Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Antes em times que não brigavam por títulos grandes, ele é contratado pelo Internacional. Ainda amargou um rebaixamento em 2016, mas ainda não era dono absoluto da posição. Sua contratação surgiu com a lesão de Danilo Fernandes, em 2016. Muriel, atual goleiro do Fluminense, não tinha respaldo do comando técnico e acabou envolvido na troca com o Bahia. O Colorado arcou com salário dele, que foi emprestado, e ainda pagou R$ 2 milhões pela chegada de seu atual titular. Absoluto em Porto Alegre, foi eleito melhor goleiro do Brasileiro de 2018 e caiu de vez nas graças dos colorados.

"Lomba chegou em um momento difícil no clube, quase sem tempo de adaptação e já tendo que estrear em dois dias após sua contratação. Depois desse período, ele teve a oportunidade de fazer uma pré-temporada conosco, adaptou-se à metodologia e teve grande evolução em todos aspectos. É um goleiro muito seguro, de ótima colocação, muita força e explosão e um grande líder dentro grupo", opinou Daniel Pavan, preparador de goleiros do Inter".