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Amazonense faz maratona para voltar ao UFC e lembra vida com "R$ 200 de miojo"

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

30/03/2012 11h00

Passar pelo UFC e não ter sucesso é um tropeço complicado para qualquer lutador que queira se firmar entre os melhores da atualidade. Ronys Torres é um exemplo disso. O amazonense teve uma passagem pelo Ultimate, mas lesões minaram seu desempenho. Ele entra no ringue do Amazon Forest Combat, em Manaus neste sábado, em uma maratona de combates para retomar seu posto e com a lembrança de épocas difíceis, em que chegou a viver com "R$ 200 de miojo".

Ronys, peso leve de 25 anos, entrou no UFC em 2010, mas duas derrotas seguidas causaram sua demissão. A promessa era de que uma série de vitórias poderia colocá-lo de volta na organização e sua parte foi feita: já são nove seguidas.

“Eu só quero trabalhar e lutar. Fiz nove lutas em um espaço de um ano, não me machuquei. Estou na ponta do casco e, mesmo sem eles terem me chamado ainda, continuo fazendo minha parte até as portas se abrirem. Quando voltar, vou dar minha vida lá”, afirma ele, que enfrenta Ferrid Kheder, que não vence desde 2010. No primeiro AFC, Torres nocauteou em 47 segundos.

Batalhas fora do ringue e 200 reais em “miojo”

Além de toda a dificuldade da puxada vida de lutador, Ronys Torres teve de batalhar muito para chegar a isso. Natural de Manacapuru, no interior do Amazonas, ele se iniciou no judô aos 14 anos e, com ajuda de bolsas, passou a praticar jiu-jítsu.

Foi apenas quando conseguiu uma vaga para treinar no Rio, com o técnico de José Aldo, Dedé Pederneiras, que sua vida mudou. Mas também com muito custo. O amazonense chegou à capital fluminense com R$ 3 mil. Após algum tempo, no entanto, ele teve o dinheiro roubado, em uma invasão à academia onde treinava.

“O Dedé me deu então duzentas pratas para eu me manter. Comprei tudo de miojo (risos)”, conta o lutador, sobre o jeitinho que deu para economizar ao máximo e garantir comida com sobras antes de voltar a ficar sem dinheiro.

“Mas acho que é coisa de Deus. Eu planejava voltar para o Amazonas, talvez voltasse a trabalhar lá em um mercadinho, mas quando fiquei arranjei uma luta”, relembra ele.

Ronys fez sua primeira luta oficial no Cidade de Deus Fight, em 2006. O detalhe é que traficantes eram os organizadores do evento - e não queriam saber de finalização, apenas de nocaute. O amazonense fez sua parte, nocauteou ainda no primeiro round e ganhou R$ 500. Foi o início desta jornada que o levou ao UFC e, se depender dele, o colocará de volta ao maior evento da atualidade.

Olho de gavião

Além de uma história de vida de superação no interior de Manaus, Ronys também enfrenta uma dificuldade física em seus combates. Ele teve um deslocamento de retina e precisou operar o olho.

“Eu ainda enxergo bem embaçado do olho esquerdo. Mas o direito é como se fosse um olho de gavião”, brinca ele. “O único risco é tomar golpes e inchar, mas graças a Deus eu nunca tive problemas e tenho superado isso.”

A segunda edição do AFC, em Manaus, terá Murilo Bustamante reeditando a luta em que foi campeão do UFC. Ele cede a revanche a Dave Menne, em evento que será transmitido pela RedeTV!, sábado, à 0h30 (de Brasília).