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Juarez Soares: velório tem coroas de flores enviadas por Corinthians e CBF

Juarez Soares morreu na tarde de ontem, em São Paulo - Divulgação
Juarez Soares morreu na tarde de ontem, em São Paulo Imagem: Divulgação

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

24/07/2019 10h39

O velório do jornalista Juarez Soares acontece na manhã de hoje no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Entre as homenagens, estão coroas de flores enviadas pelo conselho deliberativo e pela diretoria do Corinthians.

Coroa de flores da CBF - Vanderlei Lima/UOL - Vanderlei Lima/UOL
Imagem: Vanderlei Lima/UOL
Há também homenagens da família e de diversas entidades da imprensa, incluindo uma coroa de flores enviada pela produção do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, ao filho de Juarez, Alexandre, funcionário do canal. CBF; Domingo Espetacular, da Rede Record; a Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp) e o Sindicato dos Radialistas de São Paulo igualmente enviaram coroas. Antigos colegas de trabalho como Osmar Santos marcaram presença.

O ex-jogador Marcelinho Carioca esteve presente na cerimônia de despedida de Juarez Soares. No local, Marcelinho se lembrou da influência do ex-colega em sua carreira como comentarista esportivo.

"(Foi) um grande mentor para a minha carreira jornalística, juntamente com a Alessandra Zanchetta (produtora da rádio Capital e assessora de Marcelinho) e a professora Patrícia Rangel. Esses três são os grandes mentores, grandes precursores para eu seguir o caminho da comunicação, para não deixar eu ir para a política. É engraçado que, quando eu fui trabalhar com o Juarez, a primeira coisa que ele falou para mim foi: 'menino, vai pegar seu canudo, vai estudar jornalismo'. Eu falei: 'não dá, Juarez, não tem como'. Ele falou: 'se vira'. Parecia meu pai falando comigo, e eu honrei isso. Não só para o Juarez, como também para meu pai, seu Adílson, que sempre me cobrou os estudos. Aí mostrei para ele o canudo de comunicação social, de jornalismo", lembrou Marcelinho.

Osmar Santos no velório de Juarez Soares - Vanderlei Lima/UOL - Vanderlei Lima/UOL
Osmar Santos compareceu ao velório
Imagem: Vanderlei Lima/UOL
"Fomos trabalhar juntos, criamos o Capital da Bola, o programa de esportes diário (na rádio Capital), das 18h às 19h. Durante uma hora de programa, ele ficava às vezes 15, 20 minutos calado. A gente falava: 'o Juarez está calado, não está falando nada, o que está acontecendo?'. Daqui a pouco, ele vinha... É igual o craque: quando está sumido no jogo, ele vai lá e decide. Ele dava de três dedos, de curva, de chapa, driblava e decidia o programa, decidia em um comentário incisivo, forte, não ficava em cima do muro. Para mim, é um exemplo na comunicação, junto com a admiração que eu tenho pelo próprio Milton Neves", acrescentou.

Ainda na cerimônia de despedida, Marcelinho se lembrou dos contatos diários que tinha com Juarez, mesmo nos últimos dias do colega. "Ele saiu para fazer o tratamento, a quimioterapia, depois a radioterapia. Mas eu sempre falava com ele por telefone. Eu estava com ele sempre, direto, diariamente", contou Marcelinho, que esperava o retorno de Juarez às atividades. "Ele saiu para poder fazer o tratamento e já ia retornar na segunda. Agora já ia retornar. Levamos o chocolate que ele queria, a Alessandra comprou o chocolate dele. Ele gostava de água de coco, então comprava água de coco para ele. Às vezes eu chamava ele no canto e falava: 'surgiu essa notícia e tudo, temos que fazer uma crítica contundente, como que faz?'. Ele falava: 'seja firme, forte, fala o que você achou, viu e pensou, não fique em cima do muro'. Até por telefone o cara era diferenciado."

Casagrande em velório - Vanderlei Lima/UOL - Vanderlei Lima/UOL
Casagrande lembrou influência de Juarez na carreira de comentarista
Imagem: Vanderlei Lima/UOL
Outro ex-jogador e atual comentarista presente ao velório foi Walter Casagrande Jr.. Apesar da passagem rápida, de menos de 10 minutos, Casagrande também se lembrou de como aprendeu seu ofício na imprensa com a influência de Juarez.

"O plano tático, a gente que foi jogador conhece, tem um pouco mais de conhecimento. Mas o lado da opinião, ter uma opinião forte, é uma coisa que eu tenho e busquei em vários outros. O Juarez era um deles", contou. "Me espelhei muito nele. Meu amigo, me viu começar (como jogador), terminar, viu começar como comentarista... Fez um movimento contra ex-jogadores que eram comentaristas, uns 10 ou 15 anos atrás, aí me ligou e falou: 'não é com você, fica tranquilo'. Nunca tivemos uma incompatibilidade, muito pelo contrário. Sempre tivemos ótimas conversas, sempre muito educado comigo."

Em conversa rápida com a imprensa, Casão lembrou momentos especiais com o comentarista. "Quando a pessoa vai embora, você começa a pensar. Todos os contatos são especiais. Quando você vivencia, você não percebe o que pode acontecer no futuro. Mas quando acontece de a pessoa ir embora, você percebe que todos os contatos foram especiais, foram legais, divertidos, importantes", relatou, destacando o legado do jornalista. "A marca é o legado que ele deixa, de amigos, de opinião forte. Sempre esteve à frente de qualquer movimento", completou.

Paulo Soares, hoje nos canais ESPN, também citou sua própria trajetória ao lado de Juarez Soares como profissional da imprensa. "O Juarez foi um cara brilhante. Vai fazer muita falta. Eu trabalhei com o China na rádio Globo na metade dos anos 1990 e no SBT, fizemos junto a Copa do Mundo da França (em 1998) com o Sílvio Luiz. Ele é um dos meus professores, porque toda a minha escola, minha universidade, vem de ouvir rádio e ver televisão. Desde a Equipe 1040 (rádio Tupi), no começo dos anos 1970, com o Pedro Luiz (Paoliello), eu descobri o Juarez, descobri o rádio esportivo e me apaixonei", disse Paulo Soares, indo além.

"Na (rádio) Capital, ele fez uma dupla com o Roberto Silva, o 'Olho Vivo', talvez a melhor dupla de metas, de repórteres atrás do gol. Aliás, para o Pedro Luiz, Juarez foi o melhor repórter atrás do gol. A história dele no canal do esporte (em referência à Bandeirantes) com o Luciano do Valle, com o Sílvio Luiz, com Ely Coimbra, aquelas feras... É um cara muito querido, com uma linguagem simples, clara, limpa, objetiva e muito inteligente. Era capaz de falar cinco, oito, dez minutos sem repetir uma palavra. Como comentarista, repórter ou apresentador, o Juarez jamais esqueceu a veia do repórter."

Rui Chapéu, jogador de sinuca que ganhou destaque nacional na década de 1980, quando tinha suas partidas transmitidas pelo Show do Esporte, na Band, foi mais um nome presente no velório. Aos 79 anos, lembrou não apenas de Juarez como jornalista, mas como um amigo.

"Para mim, ele não foi um apresentador, foi um irmão. Juarez foi o que enalteceu a sinuca, enalteceu o nome Rui Chapéu. Graças a Deus, tivemos uma amizade de muito tempo. Foi uma pessoa maravilhosa, um dos homens mais corretos e direitos que eu conheci na minha vida. Do Juarez Soares, a gente não pode nem fazer comentário dele, porque tudo de humildade, respeito, carinho pelo ser humano, o Juarez foi tudo isso. Um homem muito direito. O Juarez não deixa rastro na vida dele", elogiou.

Juarez Soares morreu ontem (23), em São Paulo, na Santa Casa de Misericórdia. O jornalista esportivo lutava contra um câncer do reto, e a informação de seu falecimento foi confirmada pelo UOL Esporte junto ao irmão Edgard Soares. Debilitado, ele estava em casa e foi levado às pressas para o hospital.

Coroa de flores enviada pelo Corinthians ao jornalista Juarez Soares - Vanderlei Lima/UOL - Vanderlei Lima/UOL
Coroa de flores enviada pelo Corinthians para homenagem ao jornalista Juarez Soares
Imagem: Vanderlei Lima/UOL

O profissional teve uma parada cardiorrespiratória por volta das 13h. A família chamou uma ambulância, e o jornalista foi reanimado, mas teve uma segunda parada cardiorrespiratória 10 minutos depois e não resistiu. Segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa, o óbito ocorreu às 14h.

Ele deixa seis filhos (cinco mulheres, Clarissa, Larissa, Melissa, Juliana e Ana Júlia, e um homem, Alexandre, frutos de casamentos diferentes) e a mulher Helena de Grammont, também jornalista. Conhecido como "China", Juarez nasceu em São José dos Campos (SP), no dia 16 de junho de 1941. Durante a carreira, cobriu Copas do Mundo por Globo, Band e SBT.

Confira mais depoimentos de amigos de Juarez Soares:

Gilson Ribeiro, repórter

"É difícil esse momento, porque na verdade eu devo muito ao China. Não são palavras ao léu, digamos assim. Quando eu entrei na Globo, ele era o repórter, ele o J. Hawilla, e eu tinha que sair com ele, por ordem da direção, para aprender. Olha o professor que eu tive. Eu falei: 'estou ferrado, o China não gosta de usar lapela'. Falava de improviso praticamente, não errava. Eu falava: 'meu Deus, aprender assim, acho que eu nunca vou'. Além disso, trabalhamos depois disso a vida toda, foi toda uma vida. Trabalhamos na Globo, juntos fomos para a Rede Bandeirantes, fizemos Copas do Mundo variadas, ele inclusive foi como chefia para a Copa de 1994. Sou muito amigo da família. O mais legal é que deu tempo de a gente realizar um documentário da vida dele, junto com a Larissa Soares, em São José dos Campos (SP), do qual eu participei."

Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo e atual deputada federal

"O China era meu amigo pessoal. Além de ter me ajudado no governo na secretaria de esportes, ele me ajudou a trazer o GP de Fórmula 1 para São Paulo. Era uma pessoa muito interessante no ponto de vista humano, no ponto de vista das relações. Eu estive com ele há uns dois meses, em um evento dos 30 anos do nosso governo. Ele resgatou alguns momentos da nossa experiencia naquela gestão. É uma pessoa que vai fazer falta ao coração da gente e à vida. Sobretudo à política de esporte, porque ele era um mestre, um especialista. Estamos tristes, sentidos, mas sabendo que ele teve a acolhida de um lugar muito bom, porque ele era uma pessoa muito bem. O Juarez vai e a gente fica esperando aqui esperando a ajuda dele, para a gente enfrentar essas maldades todas que estão fazendo com nosso povo."

Basílio, ex-jogador de Portuguesa e Corinthians

"O China era uma pessoa maravilhosa, que tive o prazer de conhecer ainda como adolescente, jogando pelas categorias já de aspirante da Portuguesa de Desportos. A minha mãe o acompanhava em todos os comentários, principalmente pela Globo. Eu tinha um relacionamento muito bom o China, uma pessoa que vai fazer uma falta muito grande. Eu tenho um número muito grande de pessoas que ele só ajudou, só ensinou pela sua larga experiência."

"Tenho um comentário muito especial. Ele esteve recentemente lá na Arena do Corinthians fazendo jogo [entre Corinthians e Deportivo Lara pela Sul-Americana], eu fiquei com eles lá. O Rogério (Andrade), diretor, falou comigo que era a primeira vez que o China estava indo. Eu não acreditei. Cheguei e fiquei brincando com ele. E até falei: 'pô, China, se você tivesse falado comigo antes, você tinha vindo na Arena há muito mais tempo'. Como ele era muito brincalhão, ele falou: 'abaixa aí'. Eu abaixei e ele falou: 'Eu tinha vergonha'."

"Mas ele é uma pessoa que vai fazer uma falta muito grande, já está fazendo essa falta. A gente lamentou muito já quando ele pediu o afastamento da rádio."

Eduardo Suplicy, vereador pelo PT

"É com muita tristeza que venho aqui prestar minha homenagem, mas também dizer que Juarez Soares foi um exemplo extraordinário para sua família, suas filhas, para todos seus amigos, para todos seus companheiros jornalistas de tantas emissoras e jornais para os quais trabalhou. Como torcedor do Santos, brincava muito com ele, que era corintiano. Quando havia Santos e Corinthians, que era um dos jogos que eu mais gostava de assistir, eu comentava com ele. O Juarez era uma pessoa realmente formidável, quero externar o quanto considero Juarez Soares, um gigante do jornalismo esportivo brasileiro e um grande companheiro de lutas em favor da democracia por justiça em nosso país."