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Corinthians tira camisa sobre Marielle de exposição após protesto e ameaças

Camisa "Quem Matou Marielle?" está exposta no memorial do Corinthians, entre outras do time de basquete - Reprodução
Camisa "Quem Matou Marielle?" está exposta no memorial do Corinthians, entre outras do time de basquete Imagem: Reprodução

Brunno Carvalho, Gabriel Carneiro e Samir Carvalho

Do UOL, em São Paulo

30/07/2019 15h46

Atual supervisor da categoria sub-19 do basquete do Corinthians, o ex-armador Gustavinho foi campeão da Liga Ouro de 2018 dentro das quadras. Após a decisão do campeonato que deu vaga no NBB, quando subiu ao pódio para receber premiações, ele apareceu com uma camiseta escrito "Quem Matou Marielle?". Mais de um ano depois, a peça de roupa foi doada ao memorial do clube, colocada em uma exposição sobre a história do basquete corintiano e virou pivô de grande polêmica nos bastidores, que terminará com sua retirada após protestos de conselheiros do clube.

Horas após a publicação do registro da contrariedade em relação à exposição, o UOL Esporte apurou que o Corinthians concordou em retirar a peça e manter apenas uma fotografia do momento no museu. O discurso é de que a camisa não foi usada na partida, ao contrário dos outros itens em exposição.

De acordo com um grupo de 25 conselheiros eleitos pela chapa "Fieis Escudeiros", a segunda mais votada para o Conselho Deliberativo do clube com 274 votos, em fevereiro do ano passado, a exposição da camisa representava "uso do clube por dirigentes (...) como "palanque" na exposição de suas ideias políticas pessoais". Assim, a chapa solicita "a imediata exclusão de quaisquer alusões de cunho político, religioso ou de outra natureza...".

A exposição "Corinthians Basquete" foi lançada na última sexta-feira (26) e aberta ao público no sábado (27), no memorial do clube no Parque São Jorge. Ontem (29), grupos de conselheiros começaram a demonstrar contrariedade em relação à exposição da camisa de Gustavinho por considerarem que seja um gesto político. No mesmo dia foram enviadas cartas ao Conselho de Orientação (CORI), Conselho Deliberativo e presidência do clube pedindo a retirada da peça. O Corinthians aceitou hoje.

Gustavinho - Arquivo Pessoal/Pedro Chavedar - Arquivo Pessoal/Pedro Chavedar
Gustavinho comemora o título da Liga Ouro pelo Corinthians; ele se aposentou em junho
Imagem: Arquivo Pessoal/Pedro Chavedar

Carlos Roberto Elias, diretor cultural do Corinthians, foi procurado pelo UOL Esporte, e se limitou ao seguinte comentário, antes da decisão pela retirada: "É uma exposição normal sobre o basquete do Corinthians que tem um símbolo da conquista da Liga Ouro entre os itens. Segue até o fim do mês". Sobre as polêmicas, disse "vamos aguardar o barco correr".

O Conselho Deliberativo informou que não se posicionaria sobre o tema, mas entendia que havia uma série de outros membros do colegiado e torcedores insatisfeitos com a exposição. De acordo com relatos ouvidos pela reportagem, nas últimas horas houve até ameaças de invasão para a camisa ser retirada a força do memorial do clube. Também por isso é que a presidência do clube determinou a retirada da peça.

Marielle Franco foi uma vereadora do Rio de Janeiro então filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) morta a tiros dentro de um carro na região central da cidade em 14 de março de 2018. O motorista do veículo, Anderson Gomes, também foi baleado e morreu. O crime segue em investigação, sem desfecho, e se tornou pauta na luta por direitos humanos.

Gustavinho, que é politicamente engajado e já escreveu sobre o tema à coluna "Campo Livre", do UOL Esporte, personalizou a camisa de basquete do Corinthians no dia em que se completaram cem dias da morte de Marielle.

"Perdemos todos", diz viúva de Marielle

Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, foi informada sobre a decisão do Corinthians de retirar da exposição a camisa de basquete que faz alusão ao assassinato. "Acho que diante desse argumento que só podem ser utilizadas as camisas que foram utilizadas em jogo, se esse é um argumento do clube, acho válido", afirmou, antes de comentar o contexto do acontecimento.

"Agora, acho muito pobre, triste, e perdemos todos, principalmente a democracia, quando o argumento que é utilizado é um argumento que não se pode falar de política ou religião. Porque falar de Marielle não é falar de política ou religião, é falar de defesa da democracia em tempos de barbárie, que a gente vive hoje", relatou Benício.

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