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Vaidoso e boa praça mesmo na crise, presidente do Palmeiras adota cães e divide salão com Silvio Santos

Arnaldo Tirone é vaidoso e mantém os ternos impecáveis, especialmente em fotos - Thiago Vieira/Folhapress
Arnaldo Tirone é vaidoso e mantém os ternos impecáveis, especialmente em fotos Imagem: Thiago Vieira/Folhapress

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

04/10/2012 12h01

Comandar o Palmeiras não é fácil. Arnaldo Tirone tem a árdua missão de ser presidente de um clube marcado pelas pressões políticas e uma instabilidade que vai, em poucas semanas, do título da Copa do Brasil ao risco de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. É com muita calma e com seu peculiar jeito ‘político’ que ele tenta driblar as dificuldades, sem deixar de lado o cuidado minucioso com o visual.

Tranquilidade é a palavra que melhor define Tirone, segundo a família e companheiros de clube. Não ‘explode’, mantém a calma diante dos piores problemas e pensa bem antes de decidir. Às vezes, pensa até demais.

Muitos veem o excesso de ponderação como uma grande qualidade. “Ele tem a cabeça no lugar, ouve todas as partes antes de tomar uma decisão. Em um momento de crise, nunca sai do prumo. Fala baixo e ouve”, diz o diretor jurídico Piraci Oliveira, que convive diariamente com ele. Seu caráter também é elogiado. “Ele não aceita nada por baixo dos panos”, ressalta o irmão e também conselheiro do clube Marco Tirone.

A calma, no entanto, pode se tornar um grave defeito. Tanto que chegou a ser exposta e criticada pela imprensa, opositores e até por parte da situação. Os críticos veem o zelo do cartola em refletir diante da crise como uma saída para adiar resolução de problemas.

Num português claro, Tirone enrola. E acaba travando muitas questões no clube que vão desde o valor do bicho dos jogos a contratações de atletas e burocracias internas. Demorou, por exemplo, para fechar no ano passado o contrato de direitos de transmissão com a TV Globo. Em nenhum momento foi protagonista na discussão que mobilizou os principais cartolas do país.

Além de passar a imagem de indeciso, o presidente sofre do mal de ser ‘político demais’, de acordo com uma pessoa próxima. Quer agradar a todos e não sabe dizer ‘não’. Assim, muda de opinião facilmente para não ficar mal com ninguém e acaba tendo dificuldades de formar seu grupo e ganhar a confiança das pessoas.

O exemplo mais claro disso ocorreu no episódio da saída do técnico Luiz Felipe Scolari. Tirone foi pressionado pelos seus homens de confiança na diretoria a afastar o departamento de futebol formado por Roberto Frizo e Cesar Sampaio. O mandatário se mostrou favorável, mas dias depois foi flagrado na companhia do vice de futebol, quando vândalos invadiram o restaurante Frevo e promoveram um quebra-quebra. Seus colegas se sentiram traídos.

OS GOSTOS DO PRESIDENTE

Cabelereiro Jassa

Tirone frequenta o mesmo salão de beleza de famosos como Silvio Santos, Gugu Liberato e César Filho. Lá, corta e pinta as madeixas.
Forneria São Paolo

O elegante restaurante do Itaim Bibi é um dos preferidos do presidente. Gosta de jantar, mas não é fã de bebidas alcoolicas.
Galeria dos Pães

Apesar de levar os filhos na escola por volta de 6h, Tirone não dorme antes de 2h. Nas madrugadas, pode ser visto com a namorada na padaria dos Jardins
Viagens para o exterior

Um de seus hobbys preferidos é viajar. Já foi mais de dez vezes à Europa e aos EUA. Visita a Argentina até três vezes ao ano
Loja Reserva

A marca carioca faz moda para jovens. Mas o moderno presidente do Palmeiras é fã de suas coleções e as adquire com frequência

Para disfarçar a situação, ele exigiu que o diretor financeiro Marcos Bagatella negociasse a contratação de Gilson Kleina e jogou Sampaio e Frizzo para escanteio. No fim das contas, acabou sozinho.

Apesar das dificuldades de lidar com a pressão interna no clube, Tirone vive uma fase mais tranquila. As duas vitórias seguidas no Campeonato Brasileiro o deixaram confiante de que acertou na contratação do técnico e o time vai se salvar.

“Ele acredita sempre, tem muita fé. Sabe que a vida é cheia de altos e baixos e uma hora Deus muda. Quando está em situação ruim, tenta fazer o melhor para mudar, mas sem desespero. Para ele, o passado já passou e o futuro não existe. Perguntei como seriam as eleições de dezembro. Ele respondeu: “Sou Nostradamus? Não sei o que vai acontecer nem daqui a meia hora”, diz o seu irmão Marco.

O momento difícil do Palmeiras e os risco de rebaixamento expuseram um lado pouco conhecido da personalidade de Tirone. Católico praticante, ele se apegou à fé para ganhar forças. Ficou muito preocupado, mas não desesperançoso.

Em uma das poucas vezes em que o presidente expressou um desânimo em relação à permanência na Série A, foi em seu restaurante, no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo, que esfriou a cabeça. Após a derrota por 3 a 0 para o Atlético-MG, em 9 de setembro, tomou um chopp e uma água. Saiu pouco depois com cara de ‘poucos amigos’.

O local também é palco de encontros com os gestores do Palmeiras e da alta cúpula dos grandes paulistas. Tirone já se reuniu ali com presidentes rivais como Andrés Sanchez e Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro para discutir direitos de transmissão. Sempre acompanhado de um carpaccio.

O bairro é um dos preferidos do presidente. É fã das lojas do shopping Iguatemi e de restaurantes na tradicional rua Amauri. Também cuida dos cabelos no salão de beleza Jassa, frequentado por famosos como Silvio Santos e Gugu Liberato. O cabeleireiro, no entanto, mantém sob sete chaves os segredos para as madeixas do presidente.

Os amigos mais próximos confessam que, apesar de ter herdado a farta cabeleira de seu pai, ele pinta o cabelo e faz tratamento dermatológico contra queda. Os cuidados com a aparência o fazem aparentar ser mais jovem que os seus 62 anos.

Tirone não repete roupas e chega a doar as camisas depois de usá-las uma única vez. De acordo com um amigo, é capaz de trocar de roupa três vezes se tiver compromissos em sequência. “A mala é bem pior que de mulher. Se fica um dia, leva roupa para um mês. E quando tem entrevista, ele liga para saber se ficou bem, se ficou bonito”, brinca.

Apesar da vaidade, considerada às vezes excessiva, Tirone é elogiado pelo seu lado humano. Passeia pela cidade de madrugada, por volta de 2h, para recolher cães. Já teve oito cachorros em sua casa. Todos de rua, que passaram por um bom trato no pet shop.

Os funcionários do restaurante também o elogiam como chefe. É considerado humilde e gosta de conversar com os clientes nas mesas. Mas ainda assim faz prevalecer um de seus defeitos. Está devendo uma camisa do Palmeiras para o manobrista há um bom tempo.