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Corintianos dizem que estão presos na Bolívia apenas por serem brasileiros

Torcedores do Corinthians presos em Oruro dão entrevista na antessala do presídio - Aizar Raldes/AFP
Torcedores do Corinthians presos em Oruro dão entrevista na antessala do presídio Imagem: Aizar Raldes/AFP

Das agências internacionais

Em Oruro (Bolívia)

16/03/2013 06h00

Presos há quase um mês em Oruro, na Bolívia, os torcedores do Corinthians ainda tentam provar que não têm envolvimento com o assassinato do jovem boliviano Kevin Espada. Eles pedem justiça e afirmam que foram detidos somente por serem brasileiros.

“Estamos mal, esperamos justiça. Somos inocentes, somos inocentes”, repetia o torcedor Thiago Aurélio dos Santos, coberto pelas cores do Corinthians. “Nos prenderam por sermos brasileiros”, disse Tadeu Macedo.

O cárcere a 3700 m acima do nível do mar, com um clima frio e seco, abriga presos comuns que convivem com os 12 brasileiros acusados pela morte do boliviano Kevin, atingido por um sinalizador no olho na partida entre San José e Corinthians pela Copa Libertadores.

Seis dos 12 torcedores presos concederam entrevista à AFP em uma antessala da cadeia. Dois policiais vigiavam a reunião e acompanhavam com atenção a entrevista com os associados da facção corintiana Gaviões da Fiel que falavam em ‘portunhol’. Thiago, Tadeu e seus companheiros Reginaldo Coelho, Hugo Nonato, Marco Aurélio Nefeire e Fábio Domingos vestiam shorts curtos e chinelos.

Tadeu tentou defender o grupo e afirmou que o vídeo divulgado do momento do disparo comprova que eles não são os responsáveis pelo crime. Também lembraram que um menor brasileiro de 17 anos confessou ser o autor do disparo. A polícia boliviana desprezou esse depoimento dado no Brasil.

“Não há necessidade de ter 12 pessoas para cometer este feito, não são necessárias 12 pessoas para disparar. Pode haver um autor e um cúmplice”, insistiu.

Nonato cruzava as mãos como se estivesse fazendo uma oração. Estava calado e parecia estar prestes a cair em lágrimas. Nefeire também interviu na entrevista. "Queremos voltar ao Brasil como inocentes, e não culpados. Lá estão nossos filhos, esposas, pais e primos”, afirmou.

A promotora que investiga o caso, Abigaíl Saba, disse que o processo caminha de forma rápida. “Estamos em um processo de investigação. A lei assinala um período de seis meses, mas estamos agindo rapidamente”, disse ela, antes de completar. “Os 12 são, por hora, suspeitos”.

A entrevista foi precedida por um gesto de solidariedade de uma pequena colônia brasileira em Oruro com a chegada do almoço. Joana Sequeira, uma brasileira que vive na cidade, levou alimentos para a cadeia. "Eu trago comida típica brasileira: arroz, feijão, frango e salada", disse ele. "Os brasileiros são sempre apoiando", acrescentou.

Saba ainda mostrou à AFP um sinalizador, semelhante ao que foi disparado no jogo, e observou que este e outros artefatos foram apreendidos com os brasileiros Cleuter Barros Barreto e Silva Leandro de Oliveira, acusados de serem os responsáveis pela morte de Kevin. Os outros 10 presos são acusados de serem "cúmplices" no assassinato. A promotora informou ainda que o grupo de brasileiros pode pegar sentenças que variam de cinco a 20 anos de prisão.