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O que Paquetá fez para brilhar no Milan diante da comissão de Tite

Meio-campista revelado pelo Flamengo está na mira da seleção brasileira - Divulgação/Milan
Meio-campista revelado pelo Flamengo está na mira da seleção brasileira Imagem: Divulgação/Milan

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

11/02/2019 04h00

Lucas Paquetá ainda dá os primeiros passos no futebol europeu. Mas isso não intimida o meio-campista de 21 anos. No Milan, da Itália, já se firmou como titular. E agora pode ser convocado mais uma vez pela seleção brasileira. A comissão técnica de Tite quis vê-lo de perto e o que o garoto ofereceu pode até servir para solucionar problemas do time canarinho.

O auxiliar técnico Sylvinho foi escalado para acompanhar partidas de atletas brasileiros na França, na Itália e na Espanha. Em terras italianas, o foco esteve em Paquetá, que foi titular nos três jogos analisados por Sylvinho, fez um gol e ainda deu duas assistências. O principal, porém, está na forma como o meio-campista tem atuado, ocupando um espaço que ainda não foi preenchido por Tite.

No Milan treinado por Gennaro Gattuso, Paquetá é um dos três homens de meio de campo. Atua pela esquerda, com Bakayoko centralizado e Kessie pela direita. O trio dificilmente se desmancha. Eles procuram se manter próximos para proteger a entrada da área milanista e também para facilitar a saída de bola com tabelas rápidas.

A primeira partida assistida por Sylvinho foi a vitória do Milan por 2 a 0 sobre o forte Napoli, nas quartas de final da Copa Itália, em 29 de janeiro. O jogo foi em San Siro, mas quem tomou a atitude foi o Napoli, que conta com o volante Allan, também observado pela seleção brasileira. Os donos da casa adotaram postura cautelosa, pouco ficaram com a bola e tentaram explorar as linhas avançadas do time treinado por Carlo Ancelotti.

Contra o Napoli, Paquetá jogou mais recuado, alinhado ao primeiro volante e na frente da área - Reprodução/DAZN - Reprodução/DAZN
Contra o Napoli, Paquetá jogou mais recuado, alinhado ao primeiro volante e na frente da área
Imagem: Reprodução/DAZN

Paquetá teve desempenho destacado. Em muitos momentos, ficou alinhado a Bakayoko, o primeiro volante, fechando a entrada da área. O nível de concentração foi alto, sempre acompanhando a linha de marcação e mostrando bom poder de cobertura para ajudar o lateral-esquerdo uruguaio Laxalt, quando o ponta Borini falhava na recomposição. Esse é um cenário que pode ser revivido na seleção, com uma parceria com Casemiro e a necessidade de cobrir as costas de Neymar.

Na saída de bola, Paquetá foi essencial para o plano de jogo de Gattuso. O brasileiro se limitou a toques rápidos, quase sempre de primeira, para fugir da pressão do Napoli e tentar deixar o trio de ataque no mano a mano com os defensores rivais. Em uma dessas escapadas ligeiras, conseguiu lançar o polonês Piatek na ponta esquerda e viu o atacante marcar belo gol.

Sylvinho ainda veria mais uma assistência de Paquetá, desta vez contra a Roma, pelo Campeonato Italiano, em 3 de fevereiro. No clássico, o Milan entrou com força máxima no ataque - Çalhanoglu e Suso não enfrentaram o Napoli - e tentou propor mais jogo. Assim, o posicionamento de Paquetá foi alterado, em mais um cenário que pode ser encontrado pelo jovem na equipe de Tite.

Paquetá teve mais liberdade contra a Roma, quando o Milan todo jogou mais avançado - Reprodução/DAZN - Reprodução/DAZN
Paquetá teve mais liberdade contra a Roma, quando o Milan todo jogou mais avançado
Imagem: Reprodução/DAZN

Çalhanoglu é o camisa 10 do Milan e joga aberto pela esquerda. É do tipo de jogador que gosta de ficar com a bola, que abandona a posição para buscá-la mais atrás. Mais ou menos o que Neymar costuma fazer na seleção brasileira. Se Paquetá ficasse parado no triângulo de meio-campistas, acabaria minado pela movimentação do próprio companheiro. 

A solução foi se projetar mais ao ataque, aproveitando justamente o buraco deixado pelo recuo de Çalhanoglu. Foi assim que ele apareceu na ponta esquerda e cruzou para mais um gol de Piatek. A partida contra a Roma terminou empatada por 1 a 1, com Paquetá substituído no segundo tempo, mas com saldo muito positivo. Foram duas atuações convincentes, de muita maturidade, vigor físico para jogar de área a área e disciplina tática.

O último jogo sob os olhares de Sylvinho aconteceu no domingo passado. O Milan recebeu o modesto Cagliari no San Siro e venceu sem maiores esforços por 3 a 0. Paquetá teve ainda mais liberdade do que diante da Roma. Muitas vezes, quando o Milan recuava para jogar no erro do rival, era ele quem dava o primeiro combate, à frente até do centroavante Piatek.

Paquetá corre por trás da defesa do Cagliari para marcar seu 1º gol pelo Milan - Reprodução/Dazn - Reprodução/Dazn
Paquetá corre por trás da defesa do Cagliari para marcar seu 1º gol pelo Milan
Imagem: Reprodução/Dazn

Na jogada de seu gol, o segundo da partida e o primeiro pelo Milan, Paquetá demora a integrar o contra-ataque. Mas aparece com uma de suas virtudes nos tempos de Flamengo: a presença de área. Em cruzamento da direita, o brasileiro entrou sozinho na segunda trave e bateu de primeira. O gol foi muito festejado e premiou mais uma boa atuação do jovem, que foi importante para roubadas de bola ainda no campo ofensivo.

O único ponto negativo de Paquetá durante o período de observação de Sylvinho esteve no controle emocional. O meio-campista mostrou certa irritação pela quantidade de faltas que sofreu, algumas delas por trás, e discutiu demais com os árbitros. No duelo contra a Roma, ele chegou a levar cartão amarelo por reclamação.

Agora, Paquetá terá menos de um mês para tentar manter o nível de atuações antes da próxima convocação de Tite. A lista para dois amistosos - um contra a República Tcheca, dia 26 de março, e outro sem adversário definido por enquanto - deve ser divulgada no início do próximo mês. Será o derradeiro teste para o Brasil antes da Copa América.

Para a comissão técnica, o trabalho feito por Gattuso no Milan tem deixado Paquetá mais perto do modelo de jogador buscado para o meio de campo do Brasil. Há uma busca por reposição aos lugares de Paulinho ou Renato Augusto. O terceiro integrante de um trio que pode ter Casemiro e Philippe Coutinho, mas que ainda não encontrou a peça que pode dar mais equilíbrio e velocidade na transição da defesa para o ataque.