Sob domínio paulista

Conquista palmeirense é a quarta seguida de clubes de São Paulo; o que ainda está em jogo?

Do UOL, em São Paulo Bruna Prado/Getty Images

É algo para dirigentes de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre e demais capitais pensarem: o que fazer para se contrapor a um domínio dos clubes de São Paulo no Brasileirão? Ao bater o Vasco por 1 a 0 neste domingo, o Palmeiras conquistou o campeonato pela segunda vez nos últimos três anos, ao mesmo tempo em que deu aos paulistanos o quarto troféu consecutivo. O que vale à cidade o mais longo período hegemônico no atual formato de disputa, com 20 clubes. 

Foi em 2006 que campeonato passou a contar com 20 clubes, se enfrentando em sistema de turno e returno. No ano anterior, o Corinthians levou o caneco ainda com 22 clubes. Na sequência veio o tricampeonato histórico do São Paulo. Esse período de domínio foi interrompido pelo Flamengo em 2009 numa temporada emocionante. Agora, a concorrência vê o Palmeiras alternar triunfos com seu arquirrival do Parque São Jorge. A sequência vitoriosa vem depois de três anos de jejum de 2012 a 2014.

Em uma perspectiva mais ampla, os quatro anos seguidos de título para a capital mais populosa do país se equivalem também ao período mais frutífero desde que o Campeonato Brasileiro foi criado em 1971. Se formos levar em conta as competições nacionais anteriores, aí a conta é outra, para constar: o Santos ganhou a Taça Brasil de 1961 a 1965. 

Se há algum consolo nessa história para os demais centros do futebol brasileiro é o fato de que ao menos dessa vez o vice-campeonato não ficará com paulistas: ao Flamengo cabe essa honra agora. Em 2016, o Santos ficou em segundo. No ano passado foi a vez do Palmeiras.

Bruna Prado/Getty Images

Veja os gols da penúltima rodada

Foram bem

  • Deyverson (Palmeiras)

    O centroavante parece ter conquistado lugar cativo nesta lista na reta final do campeonato. Saiu do banco e fez o gol do título

    Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images
  • Éverton Ribeiro (Flamengo)

    Vaiado pelos cruzeirenses, respondeu em campo com mais uma pintura contra sua ex-equipe e deu muito trabalho

    Imagem: Marcelo Alvarenga/AGIF
  • Nico López (Internacional)

    Foi dele o lance mais bonito - e decisivo - da vitória sobre o Fluminense: um golaço com um chute de primeira da entrada da área

    Imagem: Ricardo Duarte/Internacional
  • Gabigol (Santos)

    Num provável jogo de despedida na Vila, o artilheiro do Brasileirão fez um pouco de tudo, incluindo seu 18º gol na competição

    Imagem: GUILHERME DIONíZIO/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Foram mal

  • André (Grêmio)

    Está aqui um caso de veterano que Renato Gaúcho não conseguiu impulsionar. Falhou em passes, chutes e até mesmo em domínio

    Imagem: Jeferson Guareze/AGIF
  • Borja (Palmeiras)

    O colombiano não foi bem no jogo do título. Participou pouco, não apareceu na área para finalizar e teve pouca intensidade na marcação

    Imagem: Bruna Prado/Getty Images
  • Romero (Corinthians)

    O paraguaio voltou ao time e estava claramente sem ritmo. Pior: estava isolado no ataque e se enrolou nas raras vezes em que recebeu a bola

    Imagem: Marcelo Alvarenga/AGIF
  • Jonatan Álvez (Internacional)

    Teve desempenho bem diferente de López, seu compatriota uruguaio. Apagado, perdeu boa chance

    Imagem: Divulgação
PAULO SéRGIO/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO PAULO SéRGIO/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO

Frases de uma conquista

Não sou ultrapassado, não sou o melhor, não sou o pior. Sou um bom técnico, com um método igual ao dos outros. Então fico ouvindo e deixo falar

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Felipão, quatro anos após o 7 a 1

Agora posso falar, pois terminou o campeonato: escolheria o Dudu como o melhor [do Brasileirão]. Por tudo o que ele representou para o Palmeiras

Felipão, agora mais à vontade

De pequeno, eu era vascaíno. Agora, sou palmeirense. Pensei que meu sangue fosse vermelho, mas é verde

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Deyverson, oficialmente um xodó alviverde

A última vez que falei que era ídolo caíram de pedra em mim. Hoje entro pra história com um título importante

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Felipe Melo

A parceria continua, vamos renovar por mais três anos. Tia Leila é palmeirense, mas agradeço demais pelo carinho

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Leila Pereira, dona do patrocinador palmeirense

O Flamengo fez tudo o que foi possível para passar o Palmeiras. Temos que reconhecer a conquista deles, uma conquista brilhante, digna de todos elogios

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Dorival Júnior, técnico do Flamengo, vice-campeão

Opinião dos blogueiros: a análise de uma conquista

Reprodução

PVC: o Palmeiras não teve pressa

Diferentemente de quando invertia lançamentos longos contra o vento, semana passada, em Londrina, contra o Paraná, o time trocou passes curtos e suportou a pressão do Vasco, melhor no primeiro tempo.

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UOL

Juca: país nunca foi tão verde

Agora é só festejar e coroar a festa em casa, no domingo, contra o Vitória, para fechar o returno invicto, outra façanha inédita em Brasileiros com pontos corridos. Não é para qualquer um, definitivamente.

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Fox Sports/Divulgação

Beting: o Vasco sempre na rota

O clube de São Januário esteve no caminho palmeirense em diversas de suas campanhas mais marcantes. Dessa vez o Palmeiras precisou só de um bom segundo tempo para vencer e ser campeão.

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Flávio Florido/UOL

Mattos: Felipão quebra escrita

O campeonato de pontos corridos costuma premiar os clubes mais estáveis que mantêm seus treinadores durante toda a disputa. Foi assim nos últimos oito anos. Luiz Felipe Scolari quebra esse paradigma.

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Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O que ainda está na mesa

O campeão é o Palmeiras. O vice? Flamengo. Terceiro colocado: Internacional. O Brasileirão já conhece seu pódio. A última vez em que o campeonato foi decidido na rodada final foi em 2011, com o Corinthians se desdobrando para manter uma vantagem de dois pontos sobre o Vasco. Para a jornada derradeira, não obstante, ainda há pelo que se brigar. 

Comecemos pelo mais dramático, que é a ameaça do descenso. O Vitória passou a fazer companhia ao Paraná no grupo dos rebaixados, depois de empatar com o Grêmio e permanecer a quatro pontos da Chapecoense, que está em 16º. Restam, então, duas vagas na lista mais ingrata da temporada, e, para a 38ª jornada, há seis equipes jogando ameaçadas. São elas: Sport (que ainda enfrenta o São Paulo nesta segunda-feira), América-MG, Chapecoense, Vasco, Fluminense e Ceará.

Na outra ponta da tabela, o São Paulo se vê numa disputa com o Grêmio por uma vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores, independentemente do resultado da equipe de André Jardine nesta segunda. Ambos os tricolores já têm participação garantida no torneio, de toda forma. A diferença é que quem ficar em quinto vai ter de se conformar em começar sua campanha um mês mais cedo, em sua fase preliminar. 

Thiago Parmalat/RCortez/CSA

Quem é que sobe?

Soberano, o Fortaleza de Rogério Ceni já havia garantido o título da Série B e seu lugar na elite nacional para a próxima temporada, assim como o Goiás. A definição das duas vagas restantes, porém, ficou para uma última rodada que mexeu com os nervos de muitas torcidas: eram quatro clubes em uma disputa muito equilibrada.

No final, a comemoração ficou para CSA, vice-campeão com 62 pontos, e o Avaí, terceiro colocado com 61. O Goiás terminou em quarto com 60, mesma quantia da Ponte Preta, que acabou superada por ter duas vitórias a menos que os esmeraldinos. 

O Avaí conseguiu, desta forma, o bilhete de retorno à Série A após ficar apenas uma temporada na Segundona. Mas, nesse sentido, não há festa maior que a dos alagoanos: o Azulão de Maceió volta ao primeiro escalão do Brasileirão após... 31 anos. Esse é o terceiro acesso seguido do clube, diga-se. A arrancada começou com o vice da Série D em 2016 e passou pelo título da Série C em 2017.

Palmeiras ainda busca dois recordes após o título

RUDY TRINDADE/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

O efeito Deyverson

Luiz Felipe Scolari é daqueles treinadores que reluta o quanto puder para destacar um jogador de sua equipe. O discurso se pauta invariavelmente pelo coletivo. Neste domingo, com o título assegurado, o treinador admitiu se sentir confortável para eleger Dudu como o craque do título e do campeonato em geral. 

Felipão, porém, também não se esquivou de mencionar a importância de Deyverson na caminhada palmeirense. Nem havia como, aliás. O centroavante pode muito bem terminar a temporada como o símbolo da conquista. Seu rendimento, aliás, se deve muito ao próprio treinador: todos seus nove gols neste Brasileirão aconteceram sob sua orientação. 

Separamos aqui um dado que reforça seu protagonismo: quando Deyverson anotou pela primeira vez neste campeonato -- curiosamente contra o próprio Vasco, pela 18ª rodada --, o Palmeiras estava oito pontos atrás do líder, o São Paulo. Desde então, dá para dizer que o atacante teve influência direta em pelo menos cinco vitórias. Ou seja, em 15 pontos somados. Relembremos:

  • 13.ago - Palmeiras 1 x 0 Vasco - 1 gol
  • 19.ago - Vitória 0 x 3 Palmeiras - 2 gols
  • 9.set - Palmeiras 1 x 0 Corinthians - 1 gol
  • 14.out - Palmeiras 2 x 0 Grêmio - 2 gols
  • 25.nov - Vasco 0 x 1 Palmeiras - 1 gol

(E nem contamos aqui o gol que fez sobre o São Paulo em vitória por 2 a 0 em 6 de outubro, depois de Gustavo Gómez já ter aberto o placar).

Bonde do campeão

Ah, as redes sociais: tem espaço para tudo, né? Ainda mais quando o título do Brasileirão é definido. 

Primeiro, em canal oficial, o Palmeiras já lançou um funk para comemorar a conquista: "O meu Palmeiras é mais", de MC Andrey. Podemos dizer que o refrão da música é de ostentação: "Olha o deca aí, o meu Palmeiras é a mais. Quem tem mais tem 10, quem não tem corre atrás". Outra parte provoca rivais em tempos de vacas gordas: "Os antis podem chorar". E vocês achavam que Deyverson ficaria fora dessa? O artilheiro preferido de Felipão participou da canção. 

Depois foi a vez de o presidente eleito Jair Bolsonaro, em tom mais sereno, parabenizar seu clube do coração. 

Mais tarde, foi a vez de outros jogadore entrarem em cena. Aí teve provocação direta. Ao passarem à frente de uma loja do Flamengo no Aeroporto Santos Dumont, alguns jogadores fizeram alusão ao famigerado "cheirinho", termo que por muito tempo apenas alegrou rubro-negros e agora virou uma tormenta:

Ivan Storti/Santos FC

Outro figurino

O volante Renato vestiu a camisa do Santos pela primeira vez em 2000. Neste sábado (24), se despediu da torcida na Vila Belmiro depois de disputar 425 partidas com essa mesma camisa, segundo as contas do clube. Num futebol em que o mercado da bola balança mais do que as ondas na costa santista, esse é o tipo de estatística que será cada vez mais rara.

Então nada mais que justo que o meio-campista, bicampeão brasileiro pela equipe (2002 e 2004), tenha sido mais celebrado que a própria vitória sobre o Atlético-MG. Algo bastante saudável não só por sua identificação com o Santos, mas também pelo também incomum reconhecimento a um jogador com suas características. Foi daqueles que talvez tenha se destacado mais sob o olhar de treinadores e scouts do que do do público em geral. Nunca foi um artilheiro. Sem a bola, também não foi daqueles volantes que ralasse constantemente o joelho. Foi com a bola no chão, sem muitos arranques ou dribles, mas com o passe de em pé que ele construiu uma carreira vencedora, que o levou à Europa e à seleção brasileira. 

Agora, de paletó, Renato vai se dedicar exclusivamente à carreira diretor executivo do Santos. A torcida espera que sua assistência seja tão produtiva como a dos tempos de jogador. Mesmo que discreta.

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O Santos não pode ficar nessa. Tivemos um campeonato de recuperação. Agora é encerrar com o dever cumprido e no ano que vem planejar para dar títulos

Renato, agora cartola

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