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Pivô de crise no Corinthians vendia carne e foi padrinho número 1 de Andrés

André Negão (esquerda) e Mané da Carne (direita) são padrinhos políticos de Andrés no Corinthians - Arquivo Pessoal
André Negão (esquerda) e Mané da Carne (direita) são padrinhos políticos de Andrés no Corinthians Imagem: Arquivo Pessoal

Dassler Marques*

Do UOL, em São Paulo

04/05/2016 12h00

"Eu dei o dinheiro a Fábio e ele me falou que ia dar para o Mané".

A entrevista do empresário americano Helmut Niki Apaza especificou o que já constava em mensagens de WhatsApp entregues ao departamento jurídico do Corinthians. O escândalo de desvio de dinheiro dentro do clube jogou luz sobre um personagem pouco conhecido fora de lá, que jamais ocupou grandes cargos, mas atua internamente grande relevância política há muitas décadas. Era chamado até de "centro nervoso" pelo ex-presidente Mario Gobbi.

Manoel Ramos Evangelista, mais conhecido como Mané da Carne, é acima de tudo um dos protagonistas do processo que transformou Andrés Sanchez em presidente e que o mantém como o principal líder do Corinthians. Um papel que Mané dividiu com dois ex-bicheiros: Jacinto Antônio Ribeiro, o Jaça, e André Luiz de Oliveira, o André Negão, que é acusado de ter recebido R$ 500 mil de propina da Odebrecht. A aliança entre eles se mantém firme, e começou a ser construída na década de 90.

Mané expandiu a relação com Andrés e hoje é secretário do deputado federal em Brasília. No Conselho Deliberativo do clube, onde ainda exerce forte influência, testará sua influência para evitar que seja expulso dos quadros pela polêmica com o americano Niki Apaza. O caso foi encaminhado pelo presidente Roberto de Andrade ao Comitê de Ética.

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Influência começou na base

Oriundo de Ferraz de Vasconcelos, Mané da Carne desde essa época era reconhecido como um agente facilitador para que jovens realizassem testes no Corinthians. Foi em torno das divisões de base que ele pavimentou caminho e se tornou o diretor de escolinhas, um cargo relevante para o contexto da época. Ali, em 1995, recebeu um pedido de Jaça para aceitar Andrés Sanchez, um então empresário bem sucedido fora do futebol, como seu auxiliar direto. Era o início de uma relação marcada, acima de tudo, pela fidelidade.

"André, Jaça e Mané são meus grandes amigos. Me ajudaram muito, e sou parceiro dos parceiros", reconheceu Andrés para a Revista Época em 2011.

Fornecedor de carnes no Corinthians e amigo de Marcelinho Carioca

André Negão e Mané da Carne são secretários remunerados pelo gabinete do deputado Andrés - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
André Negão e Mané da Carne são secretários remunerados pelo gabinete do deputado Andrés
Imagem: Arquivo Pessoal

Paralelo à base, Manoel Evangelista atuava principalmente como proprietário de açougues e frigoríficos. De acordo com aliados e inimigos, ele é o principal fornecedor de carne para o Corinthians dos últimos anos. Em especial, no Parque São Jorge, onde as divisões de base e restaurantes do clube eram abastecidos pelo produto que deu apelido a Mané.

Mas é no futebol, atestam as pessoas que o conhecem, que sempre residiu sua principal atividade. O conselheiro, mesmo sem ter ocupado cargos relevantes nos últimos anos, era até pouco tempo um membro frequente em viagens das delegações do Corinthians para jogos dentro e fora do Brasil. Adora estar próximo dos jogadores e bater papo. Foi assim que se aproximou também de um dos maiores ídolos corintianos em todos os tempos.

Mané é um dos mentores da breve carreira política de Marcelinho Carioca, abortada após uma polêmica. Eleito deputado federal suplente pelo PSB-SP, o ex-jogador abriu mão de assumir um lugar na Câmara para dar lugar a Elaine Abissamra, mulher de Jorge Abissamra, então prefeito de Ferraz de Vasconcelos e muito próximo de Mané da Carne. Marcelinho chegou a ser especulado para suceder Jorge na prefeitura de Ferraz.

Nomeado conselheiro vitalício por Dualib e sonha presidir Corinthians

Apesar de muitos aliados importantes, o principal laço de Manoel Evangelista no Corinthians foi firmado com Andrés. Em 2002, depois de fazerem campanha para Wadih Helu, eles acabariam nomeados conselheiros vitalícios do clube pelo então presidente Alberto Dualib. Mané, Andrés, Jaça e André Negão eram os nomes de maior confiança do ex-vice presidente Nesi Curi, o braço direito de Dualib. Foi o rompimento com ele, cinco anos depois, que alçou Sanchez à presidência.

Desde então, os laços só se estreitaram. Rejeitado pela ala política que tinha Mário Gobbi e o ex-vice presidente Luís Paulo Rosenberg como maiores lideranças, Mané da Carne foi nomeado assessor especial de Andrés Sanchez. Já durante a presidência de Gobbi, Mané perdeu espaço, e até nas divisões de base do Corinthians viu seu espaço se restringir. Gostava de trazer jovens e solicitava à direção que os jogadores levados por ele não participassem das peneiras e fossem avaliados diretamente no elenco. Indicava jogadores, como fez com Alyson, pivô da polêmica recente.

Por outro lado, ganhou relevância em outro segmento. Quando Andrés virou deputado, nomeou Mané como seu secretário de gabinete. Por essa função, ele recebe salário mensal de R$ 3095, além de R$ 835,06 em benefícios. André Negão tem a mesma função por um ordenado quase três vezes maior que o dele.

Conhecido pelo estilo direto, tão boquirroto quanto o ex-presidente Andrés Sanchez, Mané já chutou um jornalista em viagem do Corinthians no Recife, entrou em atrito com o empresário Giuliano Bertolucci pelas vendas de Marquinhos à Roma-ITA e ao PSG-FRA, porque considerava ter contribuído nas transações, e declarou a amigos que sonha em suceder Roberto de Andrade. Mas é nos próximos dias que, talvez, tenha seu maior desafio, evitar a expulsão.

Colaborou: Ricardo Perrone