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Atacado por fake news sobre bar, árbitro da final se resguarda após ameaças

Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza apita na elite desde 2006 e é empresário desde 2010 - Thiago Bernardes/FramePhoto/Estadão Conteúdo
Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza apita na elite desde 2006 e é empresário desde 2010 Imagem: Thiago Bernardes/FramePhoto/Estadão Conteúdo

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

13/04/2018 04h00

Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza teve a vida virada do avesso há cinco dias. O árbitro de 45 anos apitou um pênalti de Ralf em Dudu, mas voltou atrás após sete minutos e muita confusão na final do Campeonato Paulista, domingo, entre Palmeiras e Corinthians. Ele é acusado pelo Palmeiras de ter sofrido interferência externa em sua decisão no Allianz Parque, o que levou o time vice-campeão a pedir a impugnação da partida que decretou o Corinthians campeão nos pênaltis. Em meio à polêmica que está nos tribunais, o árbitro da final tenta recolocar a vida nos trilhos.

Desde domingo, Marcelo Aparecido tem sofrido ameaças e sido alvo de fake news, as notícias falsas que se espalham com velocidade pelas redes sociais. Ele está desautorizado pela Federação Paulista de Futebol (FPF) de dar entrevistas até a realização do julgamento, no próximo dia 23, e pretende se resguardar até lá - inclusive na vida pessoal.

Bar do árbitro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Uma das mensagens que circulou supõe uma relação do árbitro com o Corinthians
Imagem: Reprodução/Facebook

Nas mensagens que circularam pela internet, o árbitro é chamado de "torcedor declarado do Corinthians" e "dono de um bar em Itaquera" cujo "maior frequentador é Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, além da maioria dos jogadores do time", e questionando a imparcialidade de sua atuação. Ainda circularam mensagens com endereço do estabelecimento comercial de Marcelo e da própria residência do árbitro. Esta relação com Itaquera e supostamente com o Corinthians já havia sido propagada no ano passado, antes da partida entre Ponte Preta e Corinthians, na reta final do Brasileirão. Também houve vazamento de prints apontando temor por uma arbitragem tendenciosa no jogo que acabou vencido por 1 a 0 pela Macaca, e que reabriu a briga pelo título na ocasião.

Na verdade, Marcelo Aparecido é proprietário de um bar chamado "Chopperia Espetinho do Juiz", na Zona Leste de São Paulo, região onde vive. Entretanto, não há registros de presença de dirigentes ou atletas do Corinthians desde a inauguração da unidade, em 2010. No clássico que decidiu o Campeonato Paulista, inclusive, há fotos nas redes sociais de mesas com corintianos e mesas com palmeirenses no mesmo estabelecimento.

A divulgação dos endereços nas redes sociais, porém, fez o árbitro contratar segurança particular para evitar depredações de patrimônio, já que o teor de uma das mensagens que viralizou sugeria aos palmeirenses "curtir o bar do juizão". Isso não evitou que funcionários fossem ameaçados, especialmente por telefone e pelas redes sociais, além da família e do próprio Marcelo, que nos dois primeiros dias após o jogo só saiu de casa com seguranças ao lado.

Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza trabalha na arbitragem desde 2000 e apita na elite do Campeonato Paulista e do Campeonato Brasileiro desde 2006. Ele foi eleito como o terceiro melhor árbitro do Brasileirão em 2016 e foi o quinto com maior número de jogos apitados em 2017, quando ainda esteve na final da Copa do Brasil. O Estadual deste ano foi seu último, pois ele já está com 45 anos - a idade limite na Federação Paulista de Futebol é 46, que ele completa em outubro deste ano. Ele ainda pode apitar pela CBF por mais cinco temporadas, mas está em xeque e não foi escalado na primeira rodada, já neste fim de semana.

Bar do árbitro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Final do Paulistão teve torcida dividida segundo a publicação do bar do árbitro
Imagem: Reprodução/Facebook

Logo após a final do Paulistão, o experiente árbitro teve conversas com dirigentes da Federação Paulista e recebeu orientações a respeito dos próximos passos dentro da polêmica. Ele deu entrevistas a diversos veículos até a data em que foi marcado o julgamento, quando a FPF pediu para ele se resguardar de declarações públicas. No próximo dia 23, o TJD-SP analisará o caso e ouvirá o próprio árbitro a respeito do caso. Marcelo Aparecido diz que não houve interferência externa, e sim uma decisão baseada em conversas com seus assistentes.