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Chamado de Messi, jogador morto Daniel era tímido e queria retomar carreira

Marcello Zambrana/Agif
Imagem: Marcello Zambrana/Agif

Do UOL, em São Paulo*

30/10/2018 04h00

O meia Daniel Corrêa Freitas foi descrito como um rapaz tímido, de bem com a vida e dono de um grande coração por aqueles que o conheceram. Ele estava emprestado do São Paulo ao São Bento de Sorocaba (SP), que disputa a Série B do Brasileiro, mas por opção do treinador não jogava desde agosto. Prejudicado por lesões, o atleta tentava recuperar os melhores momentos de sua carreira.

Em 2014, após se profissionalizar no Botafogo, chamou atenção da torcida ao marcar três gols em uma goleada por 6 a 0 sobre Criciúma, o que lhe renderia o apelido de “Daniel Messi”.

No último sábado, seu corpo foi encontrado em uma plantação de pinheiros em São José dos Pinhais (PR). Aos 24 anos, ele teve o pênis cortado e a cabeça parcialmente degolada, o que de acordo com a polícia seriam indícios de tortura. A polícia investiga o que o jogador estava fazendo na região metropolitana Curitiba. Daniel tinha amigos na cidade, onde defendeu o Coritiba no ano passado.

Jogadores do São Paulo fizeram uma homenagem ao colega no treino da última segunda.

São Paulo homenagem - saopaulofc.net - saopaulofc.net
São-paulinos se reúnem em corrente por Daniel, que tinha contrato até o fim do ano
Imagem: saopaulofc.net

Emprestado ao São Bento, ele não conseguiu atingir a melhor forma física e vinha sendo preterido pela comissão técnica. No mesmo dia em que seu corpo foi encontrado, o time de Sorocaba venceu o CRB por 1 a 0, mas Daniel não havia sido relacionado.

Mineiro, era filho de uma dentista que vive em Conselheiro Lafayete (MG) e de um fisioterapeuta de Juiz de Fora (MG). Formado nas categorias de base do Cruzeiro, o jogador sempre voltava à casa de um dos pais nos períodos de folga. “Eu sempre deixava ele na rodoviária para ele ir ver os pais”, lembra o amigo Matheus Santos, que jogou com Daniel nos times inferiores do Cruzeiro, e se formou com ele no ensino médio, na escola que o clube mantinha para seus jogadores.

“A mãe dele sempre dizia para ele estudar, porque jogador de futebol geralmente larga os estudos cedo. O Daniel tirava as melhores notas, conversava sobre qualquer assunto. Era um cara fora de série”, conta Matheus.

Transferido para o Botafogo ainda na base, Daniel se profissionalizou e fez o melhor jogo de sua carreira no Maracanã, quando a equipe goleou o Criciúma com uma assistência e três gols seus. No mesmo ano, sofreu uma grave lesão no joelho, o que o deixaria no estaleiro por meses.

Daniel foi alvo de disputa entre Palmeiras e São Paulo

No final de 2014, o meia foi sondado pelo Palmeiras, chegou a fazer exames médicos, mas a negociação não se concretizou. O São Paulo resolveu contratá-lo, assumindo os riscos do tratamento. A estreia demoraria ainda mais alguns meses porque Daniel se machucaria em um acidente doméstico durante as férias de fim de ano.

“Um menino que tinha um futuro, nunca deu um problema, sempre treinando nos horários”, disse o gerente de futebol Alex Brasil, que conseguiu o empréstimo do meia do São Paulo ao Coritiba. “Mesmo com a lesão, toda a pressão que recebia, seguia quietinho trabalhando."

O meia também foi emprestado à Ponte Preta antes de chegar ao São Bento. "Quem não era amigo de verdade não conhecia ele direito”, afirmou o zagueiro Luan Peres, que conviveu com Daniel na Ponte e hoje defende o Brugge, da Bélgica.

Daniel - Divulgação/Site oficial do São Paulo - Divulgação/Site oficial do São Paulo
Imagem: Divulgação/Site oficial do São Paulo

“No treino, no clube, ele parecia um cara muito sério, era fechado. Se a pessoa fosse conversar, ele conversava. Mas se não fosse ele não conversava, não era o cara que puxava assunto. Era muito fechado, não se abria. Achavam que era meio mala, sério demais, porque não conversava com quase ninguém no vestiário. Mas no fundo era um cara do bem, trabalhador, que sofria muito pelos problemas físicos e gostava de aproveitar a vida."

Apesar da timidez, o jogador conservou amigos em todos os clubes por onde passou e ganhou apelidos como “Mr. Bean”, pela semelhança física com o personagem do humor britânico e por falar pouco.

De acordo com Edmilson Pereira, o superintendente da Polícia Civil do Paraná, os sinais no corpo de Daniel indicam “malvadeza” por parte de quem cometeu o crime. “Possivelmente pelo sangue que estava ali foi identificado que não fazia muito tempo que o corpo estava ali. Foi uma coisa com bastante malvadeza, quem fez estava com raiva. Foi uma morte dolorosa, ele sofreu.”

Um dos primos do jogador fez a identificação do corpo do domingo e o IML o liberou na segunda-feira. O corpo de Daniel é esperado em Conselheiro Lafayete nesta terça. Ele deixa uma filha de dois anos.

* Colaboraram Adriano Wilkson, Bruno Grossi, Gabriel Carneiro, José Edgar de Matos e Napoleão Almeida