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Venezuelana, paraguaio e chileno julgarão Grêmio, que pode tentar recurso

Após semifinal, disputa entre Grêmio e River Plate segue nos tribunais - Lucas Uebel/Getty Images
Após semifinal, disputa entre Grêmio e River Plate segue nos tribunais Imagem: Lucas Uebel/Getty Images

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

02/11/2018 04h00

Neste sexta-feira (2), às 11h (Brasília), o Grêmio terá seu pedido de reversão no placar da derrota para o River Plate pela Libertadores julgado. Na sede da Conmebol, em Luque, no Paraguai, o destino azul, branco e preto estará nas mãos de uma venezuelana, um paraguaio e um chileno. Dependendo do resultado, cabe recurso.

A audiência, originalmente marcada para às 13h30 (Brasília) de sábado, foi antecipada na quinta-feira à noite. A decisão surpreendeu o Grêmio, que precisou se mobilizar para conseguir enviar advogados ao Paraguai em voo fretado.

O grupo de julgadores do Comissão Disciplinar da Conmebol é formado por cinco pessoas, mas o argentino Diego Pirota e o brasileiro Antonio Carlos Meccias não poderão participar do julgamento por ele envolver clubes de seus países.

Restam, portanto, o presidente da comissão, o paraguaio Eduardo Gross Brown, a vice, venezuelana Amarilis Belisario, e o chileno Cristóbal Valdez. Serão eles que ouviram as manifestações das partes e definirão o que ocorrerá com o técnico Marcelo Gallardo e o River Plate pelo descumprimento da suspensão que ele tinha no duelo vencido pelos argentinos por 2 a 1 na última terça-feira, na Arena do Grêmio.

O procedimento lembra um julgamento convencional. Inicialmente, há apresentação do caso, a sustentação do Grêmio, a manifestação do River em seguida, o debate do julgamento e a decisão. Não há outro julgamento no mesmo dia, até pela importância do caso.

Serão dois atos. No primeiro, a Comissão irá embasar seu julgamento no relato do delegado da Conmebol presente no jogo. Lido em linhas gerais em entrevista coletiva pelo presidente gremista Romildo Bolzan Júnior, o documento relata a ida de Gallardo ao vestiário do River acompanhado por dois seguranças do clube. Ao tentar entrar, o delegado foi impedido pelos profissionais argentinos.

"Não há uma conexão dos processos, e por que eu digo isso? Como a gente não participa do procedimento de ofício, que foi selado pela Conmebol com base no relatório do delegado, e que tipifica a conduta, aquilo seria suficiente. O delegado do jogo tem uma coisa que nós não temos – o clube tem que provar os fatos que alega, mas o delegado tem fé pública. É o representante oficial da Conmebol. O que ele diz é o que ele viu e não precisa ser provado. Como ele tem fé pública para os efeitos administrativos da Conmebol, não precisaria mais nada. Se a Conmebol resolver antecipar a avaliação do expediente de ofício que instaurou e tomar uma decisão que não conflite, o nosso recurso até fica sem objeto. Só quero colocar isso porque é uma outra situação processual que não estamos dentro, não estamos provocando, provocamos a nossa, mas cujo objeto e o resultado final se dão da mesma forma", disse Romildo.

Caso o objetivo gremista já seja contemplado, sequer haverá o segundo julgamento. No entanto, caso a punição prevista não agrade, a sessão segue, e pode ser que a decisão não saia imediatamente. Segundo apurou o UOL Esporte, há possibilidade de encerramento da audiência e, isolados, os membros da Comissão tomarem a decisão, informada posteriormente aos clubes. Porém, a tendência é que não demore, até pela proximidade com a final

Normalmente nenhuma informação sobre definição vaza antes que se torne oficial. Nos bastidores, o Grêmio acredita que a decisão já venha tomada, com a leitura das manifestações dos clubes por escrito e o entendimento prévio dos julgadores, seja ela qual for. Mas a crença do clube gaúcho é que ao menos provoque-se dúvida na entidade, sublinhando-se o precedente que o descumprimento da suspensão de Gallardo pode abrir. 

Recurso, tempo e expectativa

O Grêmio está, ao menos publicamente, muito otimista. "Se for um julgamento técnico, tenho convicção que o Grêmio seja atendido no que pretende, que é o cumprimento do regulamento com o placar sendo determinado de 3 a 0", disse Bolzan. Nos bastidores, advogados e representantes do clube tratam o tema com tranquilidade e, mesmo que repitam não pretender passar falsa expectativa para torcida, agem com convicção que sua tese será acolhida.

Caso não seja, abre-se uma dúvida: entrar ou não com recurso. A esfera seguinte à Comissão Disciplinar é a Câmara de Apelações da Conmebol. No entanto, com a proximidade da final, cujo jogo de ida está marcado para 10 de novembro, o passo seguinte poderia se tornar sem efeito.

Nos bastidores, o Grêmio acredita que seria sem efeito uma eventual tentativa de paralisar a Libertadores até o julgamento em última instância. Portanto, caso não seja atendido no julgamento deste sábado, o clube dificilmente seguirá no pleito.

Representado pelos advogados do clube, Jorge Petersen, Guilherme Stumpf, Henrique Soares, Nestor Hein e Leonardo Lamachia, o Grêmio ainda contratou um advogado uruguaio para participar da sustentação no Paraguai.

Entenda o caso

Na segunda-feira à noite, Marcelo Gallardo foi suspenso por uma partida, e o River Plate multado em 20 mil dólares (R$ 74,4 mil, na cotação atual) por reincidência em atraso para o segundo tempo. No dia seguinte, o treinador assistiu ao jogo contra o Grêmio em uma cabine de imprensa da Arena.

A transmissão do Sportv, contudo, flagrou o uso de um rádio comunicador para contato direto entre Gallardo e a comissão técnica do River. Além disso, o treinador foi ao vestiário visitante no intervalo para passar instruções.

Ao ver a cena, dirigentes do Grêmio denunciaram a entrada do argentino aos funcionários da Conmebol, e os mesmos aguardaram para produzir provas. Depois da partida, com a virada e classificação à final, Gallardo cometeu outra infração e deu coletiva na zona mista. Antes, o auxiliar Matías Biscay ironizou. "Talvez ele estivesse falando com sua família na Argentina", disse, ao responder sobre o uso do rádio comunicador.

"Talvez eu tenha descumprido uma regra de não poder entrar no vestiário, porque não estava permitido. Eu reconheço e assumo (o erro), mas era o que eu precisava. O que eu sentia que tinha que fazer e não me arrependo", afirmou Gallardo, depois do jogo.

O Grêmio quer punição semelhante à aplicada nos casos de Chapecoense e Santos, em 2017 e 2018, respectivamente. A tese do clube gaúcho é que Marcelo Gallardo foi utilizado de forma irregular. Os dirigentes citam os artigos 176 do Regulamento Geral de Competições da Conmebol e artigos 19, 56 e 76 do Regulamento Disciplinar. No mesmo recurso, os gremistas contestam a ação da equipe do árbitro de vídeo da partida em Porto Alegre quando do primeiro gol do River Plate, marcado por Rafael Borré.