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Presidente da Mancha confirma reunião e clima tenso antes de assassinato

Câmera registra morte de um dos fundadores da Mancha Verde

UOL Esporte

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

07/03/2017 18h49

O presidente da Mancha Alvi Verde, Anderson Nigro, confirmou em entrevista exclusiva ao UOL que Moacir Bianchi, fundador da organizada morto com 22 tiros em uma emboscada na madrugada do dia 2, participou de uma reunião com outros integrantes da torcida horas antes de ser assassinado. De acordo com Nigro, a reunião aconteceu na noite do dia 1, e foi interrompida logo no começo pois virou bate-boca entre os grupos rivais que disputam espaço e poder dentro do grupo. A torcida chamava Mancha Verde e trocou de nome depois de ser fechada pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) no final dos anos 1990.

"Do lado de dentro tinha 30 pessoas, mas do lado de fora tinha mais 500", afirmou ele sobre o encontro na sede da entidade. "Aí virou bate-boca e bagunça, com todo mundo querendo falar ao mesmo tempo e nem deu para discutir nada. Durou menos de 30 minutos", diz o presidente da Mancha. Nigro negou que tenha tido algum desentendimento com a vítima no encontro ou que tenha levado para a agremiação integrantes de uma facção criminosa. "Isso é loucura, quem estava lá é da Mancha e conhecido. Queria que quem espalhou esse boato no WhatsApp viesse a público mostrar a prova de onde tirou essa informação."

O presidente da organizada do Palmeiras prestou depoimento por cerca de três horas sobre o caso nesta terça-feira (7) no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil na capital, que investiga o caso. Ao longo da semana passada, áudios em grupos do aplicativo de mensagens acusavam Nigro de ter colocado a diretoria da entidade à disposição da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O fundador da agremiação seria contra o "aparelhamento", e por isso teria sido morto após a confusão na reunião.

Áudios nas redes sociais falam de divisões e crime organizado na torcida

Em um dos áudios, a própria vítima fala sobre as divisões internas na torcida, mas não faz acusações sobre crime organizado. "Não existe essa história de crime organizado no comando da torcida. Temos CNPJ, conta bancária, é só ir atrás e investigar a instituição pra ver que não tem nada a ver. Não sei por que o Bianchi foi morto e espero que a polícia esclareça o crime. Foi isso que eu disse na delegacia", afirmou ao UOL após o depoimento. Policiais ligados à investigação do caso confirmam o teor do depoimento.

A polícia possui ao menos dois suspeitos de praticar o crime. De acordo com reportagem veiculada pelo SBT na segunda-feira (6), um deles seria o Marcelo Jony Maciel, também integrante da organizada. Segundo a emissora, Maciel é "integrante de uma facção criminosa".

Sobre sua relação com o possível suspeito, Nigro confirmou que o conhece, mas negou que sejam próximos. "Eu sou presidente de uma organizada e, nessa condição, tenho que falar e me relacionar com todo mundo lá. Conheço o torcedor mas não somos amigos e também não sei da relação dele com nenhuma quadrilha", afirmou.

Imagens de vídeo mostram o momento em que Bianchi foi alvo da emboscada. Ele morreu pouco após ter seu carro prensado por dois veículos em um semáforo em São Paulo.

Bianchi parou o veículo no sinal, que estava vermelho. Um carro estava à frente. Outro veículo se aproximou por trás do carro de Bianchi, impedindo que o fundador da Mancha Verde conseguisse escapar. Um homem saiu rapidamente do carro de trás e efetuou vários disparos contra Bianchi, que ainda tentou dar ré e acabou batendo num poste, com o carro desgovernado. 

Apesar de afastado da diretoria da torcida, Bianchi era considerado uma figura importante na agremiação, e em suas redes sociais sempre postava fotos ao lado dos atuais integrantes, tanto da torcida quanto da escola de samba, de cuja diretoria ele fazia parte. Ele participou ativamente do Carnaval de 2017 e inclusive estava no Anhembi durante a apuração dos desfiles na última terça-feira (28).

Justiça decreta sigilo em investigações

A Justiça decretou sigilo nas investigações sobre o caso. Os depoimentos começaram na segunda-feira, quando a ex-mulher e duas filhas de Moacir Bianchi compareceram à sede do DHPP para responderem a perguntas sobre o caso.

No entanto, Jonas Marzagão, advogado da família, relatou que a família desconhecia ameaças sobre o fundador da torcida organizada, que participou de uma tensa reunião horas antes de ser morto, na sede da Mancha Alviverde, segundo indica o início das investigações.

Após o crime, a torcida organizada descaracterizou completamente a sua sede que ficava na Rua Caraíbas, quase em frente ao Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo. Na noite da última segunda-feira (6), o local teve as suas paredes externas mantidas apenas na cor bege, sem menções ao grupo. Além disso, o boneco que representava os torcedores também não é mais usado como decoração.

A agremiação chegou a anunciar o fim das atividades, mas depois voltou atrás em comunicado publicado nas suas redes sociais. Na sexta-feira (3), um dia após o assassinato, a polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão na sede da Mancha Alvi Verde.