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Thiago Silva planeja despedida com Fluminense e ser técnico do PSG

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris

28/11/2018 04h00

Aos 34 anos, falar de aposentadoria é normal para Thiago Silva, algo que encara sem ofensas. A sonhada despedida é com o clube do coração, o Fluminense, mesmo que somente por 45 minutos em um jogo de encerramento de carreira. Ao pendurar as chuteiras, o caminho traçado é o de técnico, sendo o Paris Saint-Germain o foco. O zagueiro é um viciado em futebol, daqueles que passa horas na frente da televisão acompanhando jogos até da Série C do Campeonato Brasileiro, e já tem os planos bem definidos. 

“Meu pensamento é de seguir essa linha de treinador. Não me vejo como diretor esportivo, presidente, trabalhando como marketing. Meu negócio é dentro de campo. Acho que meu papel dentro do PSG de ser capitão, ter liderança, tem que continuar dentro de campo. Não me vejo fora dele. Então acredito que seja por essa linha de treinador sabendo que ainda tem muito a ser estudado”, disse Thiago Silva, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, pouco antes de um treino pelo PSG, em Saint-Germain.

A aposentadoria ainda é vista como distante. Uma longevidade normal para quem está acostumado a fazer academia em dias de folga, dietas e encurtar as férias - zagueiro voltou ao PSG na pré-temporada três dias antes do previsto -. A Copa do Mundo de 2022 é encarada como uma difícil possibilidade. Só que Thiago Silva quer viver o jogo a jogo com a inteligência de deixar o lado “fominha”, e se preservar para grandes provações com o PSG. A começar pelo confronto decisivo diante do Liverpool pelo Grupo C da Liga dos Campeões, nesta quarta-feira, às 18h (de Brasília), no Parque dos Príncipes, em Paris - PSG é o terceiro colocado, com 5 pontos, e encara o risco de eliminação.

Na entrevista, Thiago Silva destaca a cobiçada Liga dos Campeões, o papel na seleção brasileira após ser o capitão na Copa do Mundo da Rússia, e a satisfação em ver Felipão conquistar o Campeonato Brasileiro com o Palmeiras. Um espaço para fazer uma das coisas que mais gosta: falar de futebol.

Confira as declarações de Thiago Silva:

Final contra o Liverpool

A avaliação nossa é positiva, mas se você olhar para o outro lado é preocupante. Faltam duas rodadas e temos que ganhar os dois jogos. Por esse aspecto estamos tranquilos, pois acreditamos na nossa força, no que podemos fazer, principalmente, em casa contra o Liverpool. Para ganhar esse jogo precisamos fazer 110%, 100% não basta para ganhar desse time. Mas é jogo bom de se jogar, um jogo de alto nível e todos vão estar aptos a jogar. Estamos super confiantes.

Thiago Silva contra o Napoli - Alberto PIZZOLI/AFP - Alberto PIZZOLI/AFP
Imagem: Alberto PIZZOLI/AFP
Dor por erro contra o Napoli

Pra mim esse lance já passou. Não adianta se martelar todo o tempo. Mas te confesso que durante 3, 4 dias fiquei mal. Acredito que não tenha sido o primeiro e nem será meu último erro. Fiquei triste porque a equipe fez um jogo bastante consistente e no meu erro assim ser penalizado por um empate. A vitória nos deixaria mais à vontade no grupo, estaríamos em primeiro podendo empatar com o Liverpool, então esse foi um erro individual que penalizou toda a equipe. Mas acredito que nos outros jogos eu tive minha contribuição para vitórias. Esse erro vai ficar marcado e espero que agora posso ajudar a equipe da melhor maneira possível. Seja com gol, ou segurando bem lá atrás. Espero que o resultado positivo possa vir para que eu fique mais tranquilo com relação a isso ai (erro).

Primeiro jogo: Liverpool 3 x 2 PSG

Como eu sempre falo para os meus atletas: em jogo de alto nível assim cada time vai dominar um pouco do jogo, impossível ter domínio por completo. E no momento que você é, tem que ter a inteligência e domínio da situação para que não sofra gols. A partir do momento que dominamos tem que aproveitar da melhor maneira possível. Esse é meu entendimento. Lá, eles criaram mais que a gente, e ainda acabou 2 a 1 o primeiro tempo. No segundo foi diferente, perdemos no último lance do jogo e tivemos oportunidades até de virar o jogo. Então é saber diferenciar o momento de estar sofrendo e atacando para ter o entendimento justo de não sofrer gols e quando for superior marcar o máximo possível.

Neymar vai jogar?

Neymar é muito fominha e quer jogar todos os jogos. Mas sabemos que a maratona é muito forte e como aqui jogamos mais tempo junto que na seleção, normalmente a convocação são 2 jogos, o nosso treinador tem inteligência para dosar isso. Infelizmente ele teve a pequena lesão. O jogo antes (da seleção) contra o Monaco foi complicado, campo pesado, e ele jogou os 90. Teoricamente ele não jogaria contra o Toulouse, e isso está acontecendo de uma forma forçada. Não quero dar uma de Tuchel, mas o que conheço já seria dessa maneira, ele teria vontade de jogar contra o Toulouse, mas seria poupado. Mesmo que não esteja 100%, se tiver 80%, ele vai querer jogar. E com 80% ele pode nos garantir a vitória pelo nível que tem. Mas também tem que pensar na saúde dele para que não venha a se prejudicar e também pensar no lado do clube por ser um jogo decisivo. Ele vai querer jogar, assim como o Mbappé.

Thiago Silva em entrevista - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
Thiago também é “fominha”

Sou praticamente como o Ney, quero jogar todas. Mas temos que ter a inteligência o suficiente para ter o entendimento do cansaço. Hoje tenho mais experiência para saber que não posso jogar todos, tem que conversar com o treinador para voltar mais forte.

Falta de Champions

Se eu falar que não me incomodo estaria mentindo. Quem me conhece sabe o quanto sou competitivo e quero ganhar uma competição como essa. Claro que queremos marcar o nome na história do clube com títulos. Ganhei vários aqui, mas o que mais me faz falta é a Champions. A gente tem que ter tranquilidade, não adianta querer ultrapassar as coisas. O passo tem que ser dado um de cada vez. Acho que já tivemos progresso muito grande nos seis anos. A situação atual vejo por um lado positivo, pois todos os anos foi muito fácil passar para as oitavas e esse ano é o mais complicado e com essa dificuldade podemos estar cada vez mais fortalecido para seguir nessa competição.

Copa de 2022

Primeiramente, por tudo que passei na seleção esse é o momento de passar coisas para os mais jovens, mas tendo consciência de que hoje, e isso não falo da boca pra fora, mas me sinto com 28 à 30 anos. Idade não quer dizer muita coisa desde que você esteja dentro de campo tendo rendimento de alto nível, isso é o que importa. Me sinto bem mentalmente e fisicamente. Nao como capitão, mas como líder assim como Ney, Miranda, Marquinhos, Renato Augusto, Dani (Alves),  que sendo fominha também quer voltar para a seleção. Me sinto líder como todos os outros, mas tendo o entendimento de que tenho que pensar no jogo a jogo, mês a mês, ano a ano, para poder ter focar o que vai acontecer dentro de 4 anos. Sendo que a Copa eu vou estar com 38 anos e meio, jogando meio ano pra frente (final de 2022) me prejudicou mais ainda. Mas não posso falar lá na frente, meu objetivo é momentâneo no PSG. A próxima convocação é em março, tem a Copa América e depois a gente vai vendo como a gente vai estar dentro de campo. Se o rendimento estiver alto, o Tite vai estar convocando e querendo o meu melhor.

Planos pós futebol

Primeiro quero continuar fazendo o que gosto. Apesar da idade, são 34, mas a gente sabe que você está em faixa etária que existe um pouco de receio com jogadores de 35, 36 anos. Tem essa coisas de idade no futebol, mas estou tranquilo por saber que posso render e  quantos anos tenho ideia de jogar. Quero chegar no final da carreira e decidir: ‘Thiago não dá mais’. E não ser parado. Isso teoricamente traria uma frustração para mim enorme. Não gostaria de ser parado, e sim parar no momento certo. A gente nessa faixa etária tem esse pensamento e também pensa no que vai fazer pós carreira. Tenho um tempo ainda para pensar como o (ex-volante Thiago) Motta que começou no sub-19 no clube (PSG) e está fazendo super temporada. Eu tiro ele como espelho para mim e meu pensamento é de seguir essa linha de treinador. Não me vejo como diretor esportivo, presidente, trabalhando como marketing. Meu negócio é dentro de campo. Acho que meu papel dentro do PSG de ser capitão, ter liderança, tem que continuar dentro de campo. Não me vejo fora dele. Então acredito que seja por essa linha de treinador sabendo que ainda tem muito a ser estudado.

Minha família é a base de tudo. Ela que fica comigo nos momentos complicados e minha esposa que está do lado sempre, com nossos filhos. Então antes de encerrar a carreira vamos ter longa conversa para que a gente possa terminar no tempo certo.

Quero encerrar a carreira aqui, tenho dois anos de contrato e gostaria de encerrar a carreira no PSG. Depois, de repente, tendo vontade de jogar futebol e motivação, voltaria para o Fluminense: ponto de interrogação. Voltaria para outro lugar? Então é melhor deixar o tempo correr, ver o que ter o que tem reservado para a gente. Mas a linha do (Thiago) Motta é a que me espelho. Temos contato diário, ainda temos amizade, e vou procurar seguir a linha dele que é muito boa de trabalho.

Thiago Silva pelo Fluminense - Photocamera - Photocamera
Imagem: Photocamera
Sonho de despedida

Não gosto de falar de futuro porque não podemos controlar. Vontade nossa é uma e de Deus é outra. Mas a minha vontade é de jogar minha última partida com o Fluminense. Quarenta e cinco minutos com o PSG e 45 minutos com o Fluminense acho que seria o fim da carreira dos meus sonhos. E quanto ao retornar ao Brasil para jogar é um pouco complicado, pois tenho minha vida aqui fora. Filhos nascidos e criados aqui, que acho que não se habituariam a viver no Brasil. Mas vamos ver o que está reservado pra gente. Se tiver que voltar para o Fluminense seria o maior prazer. Foi o clube que abriu as portas depois da minha doença (em 2005, em Moscou, Thiago Silva sofreu uma tuberculose que quase lhe custou a vida) e com certeza eu voltaria com uma gratidão enorme por tudo que o Fluminense fez por mim.

Vício pelo futebol

Eu amo futebol da forma que ele é jogado. Gosto de ter cuidado, aperfeiçoar situações, principalmente quando se erra. Aquilo não pode acontecer novamente, ficaria decepcionado comigo. Erros primários como acontecem jamais aceitaria novamente. Mas o fato de eu amar o futebol isso faz com que eu goste de estar no sofá vendo reprises, ou jogos ao vivo, seja pela Série B, C que também já vi um monte. Jogos do Brasil sábado e domingo, fico vendo jogo o tempo todo. Minha esposa fica maluca, que quer vida fora do futebol. Domingo eu saí de casa para jantar às 19h30, mas às 21h já voltei porque os jogos do Brasil iam começar. Eu tenho o gosto pelo futebol na parte tática e técnica.

Carinho por Felipão

Vi o jogo do Palmeiras e fiquei muito feliz com o Felipão. Passamos por situações duras juntos e ver ele com alegria como um menino ganhando seu primeiro título como treinador. Foi gratificante ver o gesto dos jogadores jogando ele para o alto. Sabemos do carinho que ele tem por seus jogadores por aquilo que faz. E é merecedor de tudo aquilo que vem passando com o Palmeiras. Eu, particularmente, fiquei muito feliz e mandei mensagem para ele logo depois do jogo dando os parabéns pois era um momento especial. Retorno ao Brasil: último jogo foi da forma que foi (se refere ao Alemanha 7 x 1 Brasil na Copa de 2014). E voltando, e em seis meses, o Palmeiras estava em sexto e acabou em primeiro com uma folguinha ainda. Vai falar o que do setentão? (risos). Ele é como um garoto que ganha seu primeiro título e fico muito honrado e feliz com o que vem passando.