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Magnano impõe "pacote" de mudanças e busca Brasil argentino - 26/08/2010 - UOL Esporte - Basquete
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Divulgação/CBB

Magnano orienta Raulzinho, 18, durante treino da seleção

26/08/2010 - 13h00

Magnano impõe "pacote" de mudanças e busca Brasil argentino

Murilo Garavello
Em São Paulo

Treinos fechados à imprensa e -segundo os atletas- muito mais intensos do que os de seus antecessores. Foco nos detalhes de cada jogada. Estilo professoral, em tom típico de aulas para iniciantes. Discurso motivacional com toques de auto-ajuda. Ênfase total à defesa. Ataque mais cadenciado. Entrevistas ainda mais francas. As principais mudanças na preparação do Brasil para o Mundial de basquete a partir deste sábado vêm todas do "banho de loja" retórico e prático promovido pelo técnico argentino Rubén Magnano.

PÍLULAS DO "PACOTE MAGNANO"

Tom professoral: Marquinhos lança bola nas costas de Alex em tentativa de contra-ataque no amistoso contra a China. Magnano se vira ao banco e diz: "Não se pode fazer o passe só porque viu o companheiro correndo. É preciso que haja contato olho a olho ou pelo menos um grito".
Imprensa à distância: Todos os treinos foram fechados à imprensa. TVs e fotógrafos puderam fazer imagens nos minutos iniciais e finais. Nos amistosos, não permitiu câmeras durante as paradas técnicas. Entretanto, após os treinos, atendeu a todos os veículos com educação e paciência.
Comunicação: Magnano emite ruído de beijos para chamar os jogadores durante os jogos. "Quando ouvimos o beijinho, deixamos o olho "grandão assim" para ouvir o que ele quer. O armador, Marcelinho Huertas, direciona o olhar ao técnico antes de cada jogada para checar eventuais instruções.
Bronca imediata: No amistoso contra a França, Guilherme tenta infiltração. É barrado pelo marcador e erra o passe. Em seguida, comete falta na defesa. É substituído imediatamente, e as câmeras flagram Magnano conversando e gesticulando com o ala-pivô.
Franqueza: Admitiu que o amistoso contra Porto Rico, disputado a céu aberto em uma quadra no Harlem, em Nova York, não somava à preparação. "É um evento de sponsorização, para agradar ao patrocinador", disse. "Essa viagem (para os EUA) só faz sentido porque teremos o jogo contra a China".

Credenciado pelo título olímpico em Atenas-2004 e pelo vice-campeonato mundial de 2002 com a seleção de seu país, Magnano elege dois conceitos como pilares de sua filosofia: atitude e solidariedade. O primeiro denota uma preocupação com aspectos psicológicos; o segundo transparece a busca por um estilo de basquete mais europeu do que americano.

À frente de um grupo de jogadores talentosos que colecionam resultados fracos com a seleção, Magnano prega uma mudança de mentalidade. É reveladora uma declaração em entrevista ao diário "Olé": "todos falam do caráter do jogador argentino. Devemos desenvolver a fome de glórias. Que não seja a mesma coisa ganhar e perder".

O técnico faz do otimismo uma ferramenta para melhorar o estado de espírito dos jogadores. "Gente que conduz gente, se não transmite otimismo dificilmente vai chegar a algum lugar. Se eu não injeto confiança, coisas positivas, já começamos perdendo. Isso se transmite minuto a minuto, em cada momento. Isso é importante não apenas nas conversas, nas entrevistas, mas dentro da quadra".

Dentro de quadra, Magnano quer o Brasil também semelhante à Argentina campeã olímpica. Ou seja, com defesa forte e ataque cadenciado. A defesa é o setor em que há mais cobrança. "Nossa defesa tem que ser agressiva. Temos de sempre atacar a linha da bola", explica o pivô Tiago Splitter. "Temos que conseguir complicar o ataque adversário o máximo possível", afirma Anderson Varejão.

O armador Leandrinho é outro que confirma o foco defensivo de Magnano. "Para ele, a coisa mais importante é a defesa", afirma, aprovando a determinação. "Por muitos anos, fomos mal na defesa. Acho que é o momento de corrigirmos esses erros históricos. É defender com força para poder contra-atacar".

No ataque, a ordem é mais solidariedade, menos individualismo. "A equipe sabe que não precisamos de 40 pontos de um jogador. Quero cinco jogadores com dois dígitos e 25 assistências por jogo", afirmou ao UOL Esporte em Nova York, etapa de preparação da seleção.

"Assim como o Moncho (Monsalve, antecessor de Magnano na seleção), ele gosta de estilo de jogo mais cadenciado do que o Lula (Ferreira, outro ex-técnico do Brasil)", define Splitter. "Ele tem um estilo de jogo europeu. Quer que a gente trabalhe mais a bola, mas não quer tirar a agressividade", afirma Leandrinho. "O que ele passa é que tranquilidade no ataque é um ponto muito importante", diz Varejão.

Nesse ataque mais paciente e cadenciado, há, claro, jogadas e movimentações combinadas. De acordo com José Neto, assistente-técnico da seleção desde a breve "era Moncho", Magnano, ao assumir, quis saber como era planejado o ataque. "Ele aproveitou algumas coisas que já tínhamos. Claro, mudou outras. Em alguns casos, o início é o mesmo, mas a finalização é de uma maneira que ele prefere. Mas houve uma preocupação com a continuidade".

A mudança principal aparece nos detalhes. "Ele para o treino a todo momento para dizer o ponto onde devemos estar, o momento em que o bloqueio deve ocorrer em cima e embaixo", afirma Varejão. Vanderlei Mazzuchini, diretor da seleção masculina e ex-jogador do time nacional, concorda. "Ele é muito detalhista. Explica e cobra cada pequena postura. E o que é melhor: ele é carismático. Tem o poder da liderança, essa coisa que o cara já nasce com ou já nasce sem. Fala e os jogadores acreditam. Estou aprendendo muito com ele".

O ala Guilherme Giovannoni, 30, um dos mais antigos na seleção, aprova o técnico. "Magnano tem uma grande experiência internacional, de ser campeão olímpico, vice-campeão mundial. E isso o Moncho não tinha", compara. Leandrinho também elogia. "É um técnico muito bom e experiente. Até mais experiente do que a gente imaginava", diz. "Ele é um cara muito direto. Trata todo mundo de maneira simples. Conversa com cada um, explica o que quer", aponta Nenê, cortado do time por contusão.

Se, ao menos no discurso, os principais jogadores estão gostando de Magnano, a recíproca parecia verdadeira duas semanas atrás, antes dos amistosos -e derrotas- na Europa. "Estou surpreso com a vontade, com a intensidade, com o comprometimento, com o trabalho desses meninos".

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