![]() Citadini conta história dos tempos de cartola corintiano e revela "oferta" de Vampeta |
O mesmo Corinthians que hoje se gaba de ter um dos maiores patrocínios do mundo e de estar em ascensão financeira já passou por fases delicadas. Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-diretor de futebol do clube Antônio Roque Citadini conta que, em um momento de crise, o volante Vampeta chegou a oferecer R$ 1 milhão para quitar os salários atrasados de seus companheiros.
“Em 2002 o clube tinha rompido com a Hicks [Muse, antiga parceira corintiana]. Ficamos seis meses sem receita. Foi um período dificílimo para nós. A gente tinha uma reunião com os jogadores para negociar e um deles era o Vampeta. E ele disse: ‘se vocês quiserem eu empresto uma grana’. Ele se dispôs a emprestar R$ 1 milhão”, disse Citadini, acrescentando que o clube não aceitou a proposta.
Agitador da oposição do clube hoje em dia, o polêmico ex-cartola corintiano ainda conta outras histórias de bastidores e fala da relação dele com Alberto Dualib, ex-presidente defenestrado do clube em 2007.
“Eu conheço muita gente que beijava o Dualib de todo lado, e agora, com a opinião pública contra, ataca. Eu tenho uma relação clara com ele. Tudo que foi feito de certo ou errado foi feito pelo futebol, ele nunca foi de interferir. Quando eu rompi com ele eu saí por uma coisa pública, deixei bem claro”, disse Citadini, referindo-se à parceria com a MSI em 2005, à qual ele se opôs.
Citadini ainda refuta ter um dia profetizado que o ponta Gil era melhor que o então são-paulino Kaká, em comentário a ele atribuído e que se tornou célebre no futebol paulista. Confira abaixo a entrevista completa:
UOL Esporte: Como foi a experiência de dirigir (o futebol) o Corinthians por tanto tempo?
Citadini: Tive o privilégio de ser diretor por quatro anos, o que é muito, porque diretor tem vida curta. Ninguém sabe a dificuldade de ser diretor antes de enfrentar o problema. Diretor serve pra uma coisa básica: justificar derrota. Porque se ganha, quem ganha é o técnico, o jogador, a torcida. Isso é do futebol. Eu estava tão direcionado para isso que as pessoas já contavam que eu ia lá enfrentar os jornalistas.
UOL Esporte: E a fama de polêmico? Você concorda?
Citadini: Olha, metade das frases que dizem que eu falei eu não falei. Mas também não desmenti. Todo mundo fala que eu disse que o Gil é melhor que o Kaká. Eu nunca disse isso. Você nunca vai achar uma frase minha dessas. O que disse é que o Gil ganhou mais títulos no Corinthians que o Kaká no São Paulo. E que enquanto eles foram contemporâneos o Gil foi mais importante para o Corinthians que o Kaká para o São Paulo.
UOL Esporte: Você conviveu com muitos grupos difíceis como diretor?
Citadini: Não é verdade essa fama de grupo ruim. Tive a felicidade de ter jogadores que eram complicados, mas em geral jogador bom é jogador complicado. Eu não via nisso um problema. É evidente que alguns dão trabalho. Mas o Corinthians tem uma facilidade, porque em todo lugar tem uma pessoa que sabe para quem ligar. Era comum eu receber ligação de madrugada dizendo: "Olha, tem um jogador aqui, não vamos servir mais ele”.
Foi um pai de santo que pediu para comprar uma galinha a cada gol do time. O problema das galinhas é que o time começou a golear...
UOL Esporte: Mas você viveu momentos tensos no Corinthians. Em 2001, por exemplo, perdeu a Copa do Brasil para o Grêmio e na sequência viu o Marcelinho brigar com o grupo e deixar o clube. Como foi aquilo?
Citadini: Ali eu estava convencido que íamos perder. É um problema que temos de enfrentar sempre quando tem uma vaga de técnico da seleção aberta. O Vanderlei [Luxemburgo, então técnico do Corinthians] achava que seria chamado pra seleção, e havia indícios de que ele voltaria. E infelizmente não se confirmou. Eu dizia pra ele: "Esquece isso e vamos treinar". Só que se criou um ambiente, que no fundo desconcentrou. E o caso do Marcelinho são problemas de um pouco antes. Estavam reprimidos, talvez desde a derrota para o Palmeiras na Libertadores. Tinham muitas cicatrizes dentro do grupo.
*Nota da Redação: Às vésperas da decisão contra o Grêmio, Emerson Leão havia sido demitido da seleção brasileira. Luiz Felipe Scolari acabou sendo escolhido pela CBF.
UOL Esporte: Mas você também passou por situações curiosas, como quando os americanos da Hicks Muse se assustaram com a notícia de que o Corinthians estaria comprando galinhas para agradecer um pai-de-santo. Como foi isso?
Citadini: [risos] Um deles chegou para mim e disse: ‘Olha, está saindo no jornal que nós estamos comprando galinhas d’ Angola’. E eles ficaram preocupados com a repercussão que isso podia dar, porque eles eram americanos. Eu falei: "Espera aí, não vem falar das nossas macumbas porque vocês não aceitam 13º andar, têm Halloween, então deixa a gente aqui". Foi um pai-de-santo que pediu para comprar uma galinha a cada gol do time. O problema das galinhas é que o time começou a golear...
UOL Esporte: Você lembra de alguma outra história engraçada do seu tempo de diretor?
Citadini: Ah, tiveram muitas histórias. Tem uma que dá para contar, que é do Vampeta. Em 2002, o clube tinha rompido com a Hicks. Ficamos seis meses sem receita, porque naquele rompimento a Hicks acabou ficando com a renda da TV, que era deles mesmo. Foi um período dificílimo para nós. A gente tinha reunião com os líderes dos jogadores, para negociar, e um deles era o Vampeta. E aí ele falou: "Se vocês quiserem eu empresto uma grana". Ele se dispôs a emprestar R$ 1 milhão. E dissemos que não precisava porque estávamos pra fechar com a Nike, que vai liberar as luvas. Mas você vê que ele queria ajudar, e era um negócio arriscado.
UOL Esporte: Você foi aliado do Alberto Dualib até a parceria com a MSI. Hoje, ele é muito criticado no clube, apesar de todo o histórico. Como você avalia o ex-presidente?
Citadini: Conheço muita gente que beijava o Dualib de todo lado, e agora, com opinião pública contra, ataca. E deve muito ao Dualib. Eu tenho uma relação clara com ele. Tudo que foi feito de certo ou errado foi feito pelo futebol. Em geral, os presidentes gostam de ser diretores de futebol. O Dualib não. Ele cometeu um grave erro, que foi se iludir com aquela parceria. O que eles não entenderam é que o clube estava fazendo negócios com um grupo muito complicado. Lá no Corinthians os que mais xingam são os que mais deviam explicar as relações com ele. Eu fui um diretor com autonomia. Quando não concordei cheguei e falei para ele. Lamento que ele não tenha entendido isso. Agora, muitos no fundo xingam o Dualib para expiar os pecados dele.
*Produção e video-reportagem de Alexandre Rosafa, César Cunninghant e Priscila Gomes
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