A Fórmula 1 jamais viu tantos debates e polêmicas fora das pistas nas últimas duas décadas como em 2009. Foram discussões sobre como seria definido o campeão, a conduta ética (ou não) de Lewis Hamilton e o uso do difusor traseiro nos carros da Brawn GP, Toyota e Williams. Nesta quinta-feira, às 23h (horário de Brasília), quando iniciará o primeiro treino livre para o GP da China, a Fórmula 1 tenta enfim se concentrar apenas nos trabalhos na pista e realizar a sua primeira prova "normal" do ano.
O circuito de Xangai receberá a principal categoria pela sexta vez, mas sendo a primeira no início do calendário, já que antes a prova era uma das últimas da temporada. Com a definição da novela envolvendo o difusor usado por três equipes, a pista chinesa deverá ver um cenário frequente nas próximas provas: ser um campo de teste para os difusores que serão colocados nos carros de sete escuderias (BMW, Ferrari, Force India, McLaren, Red Bull, Renault e Toro Rosso) para combater os três concorrentes que já usam o equipamento com frestas para maior passagem de ar, melhorando assim a aerodinâmica.
A Renault já adiantou que pode testar na China o novo difusor para tentar diminuir a diferença que as equipes estimam ser de 0s5 por volta de Brawn GP, Toyota e Williams. Nos bastidores, os chefes das equipes protestantes devem reclamar, mas não há mais o que ser feito após a FIA aprovar duas vezes o uso do difusor. "Este foi um período desafiador para a Fórmula 1 e estou satisfeito que agora é passado. Nós podemos focar em uma temporada empolgante na pista", disse o chefão da Toyota, Tadashi Yamashita.
Um cenário de alívio após duas provas cercadas de polêmicas nos dias que a antecederam. Na Austrália, a discussão girou em torno da proposta de Bernie Ecclestone, chefão comercial da F-1, de definir o campeão através do número de vitórias nas provas, descartando o uso dos pontos, que só seria decisivo em caso de empate entre vitoriosos. A mudança foi definida em 17 de março e só foi deixada de lada na semana do GP inicial.
Na véspera da prova em Melbourne, foi a vez de o "caso difusor" entrar em cena. Ferrari, Renault e Red Bull questionaram a legalidade do difusor traseiro usado por Brawn GP, Toyota e Williams, mas os comissários rechaçaram o protesto no mesmo dia. As equipes levaram o caso à Corte de Apelação da FIA, que ainda recebeu o protesto da BMW uma semana depois. Porém a missão não teve êxito e a corte ratificou a legalidade do equipamento em 15 de abril.
A prova australiana ocorreu sem maiores incidentes até as últimas quatro voltas. Neste instante, Sebastian Vettel e Robert Kubica bateram, provocando a entrada do
safety car, que seguiu até a volta final. Porém, neste intervalo, teve início a "novela Lewis Hamilton". O inglês abriu passagem para o italiano Jarno Trulli, aceitando uma ordem da equipe e o fato levou à desclassificação do piloto da Toyota.
Entretanto, quatro dias depois, na véspera do GP da Malásia, a direção da FIA se reuniu com os dois pilotos e mudou totalmente a decisão. Ela recolocou Trulli em terceiro lugar e desclassificou Hamilton por "citar evidências que deliberadamente iludiram a decisão dos comissários do GP". O atual campeão concedeu constrangido uma entrevista coletiva no mesmo dia e admitiu que ter sido instruído a mentir no depoimento aos comissários. O responsável pela recomendação foi Dave Ryan, que acabou demitido da McLaren, onde era o diretor esportivo.
Em Sepang, outra polêmica ganhou destaque. A prova foi interrompida pela chuva na 32ª volta e não foi mais reiniciada, pois quando a chuva cessou não havia mais visibilidade na pista, já que o GP foi marcado para às 17h (horário local). Assim, a Fórmula 1 viu a primeira prova com metade dos pontos válidos, já que não foi cumprido mais de dois terços da prova, desde 1991. Após o GP, novas críticas e pressão dos pilotos para alterar os horários de provas na Ásia, que visam principalmente atender a interesses comerciais da categoria.
Agora com todas as novelas, aparentemente, encerradas a Fórmula 1 tenta, enfim, voltar sua atenção para a pista. Na China, a expectativa é de novo domínio das equipes com difusor e a Brawn GP busca a terceira vitória seguida. A prova será importante para Rubens Barrichello evitar que o inglês Jenson Button, vencedor das duas primeiras provas, ganhe outra, dispare na liderança do Mundial e possa pleitear o posto de primeiro piloto.
"Venci a primeira corrida aqui em 2004. É uma pista que traz boas lembranças e com o carro competitivo que temos, fico empolgado com a possibilidade de andar de novo na frente. Nosso carro foi bem em pistas muito diferentes e espero que isso seja mantido", explicou o vice-líder da temporada, com dez pontos, cinco atrás de Button.
Se a perspectiva é de domínio de Brawn GP, Toyota e Williams, equipes tradicionais como Ferrari e McLaren tentam evitar um novo vexame. Até agora, os dois times são meros coadjuvantes e somam apenas um ponto, este obtido pela equipe inglesa. Os italianos estão zerados e amargam o pior início desde 1992.