Há algumas semanas, o Corinthians se despediu de dois dos jogadores mais importantes de seu elenco. O lateral-esquerdo André Santos e o volante Cristian deixaram o clube logo após a conquista do título da Copa do Brasil. Valorizados, os dois foram negociados com o Fenerbahce. Elano, presente nas listas de convocados para a seleção brasileira, trocou o Manchester City pelo Galatasaray. Para quem acredita que eles fizeram um mau negócio, a Turquia se tornou nos últimos anos uma excelente vitrine para os brasileiros.

Nesta sexta-feira, começa a disputa do Campeonato Turco. Ao todo, 18 clubes lutam pela taça - destes, 14 contam com brasileiros em seus elencos. Alguns deles até se naturalizaram e mudaram seus nomes, como Márcio 'Mert' Nobre, Marco 'Mehmet' Aurélio e 'Gokcek' Vederson. Afinal, o que tornou a Turquia o 'novo eldorado' para nossos atletas?

"Além do futebol competitivo, a parte financeira e viver em um país tranquilo também são atrativos. Aqui, não há assaltos e se pode andar com calma na rua", destaca Edu Dracena, zagueiro do Fenerbahce.

Para Mert Nobre, atacante do Besiktas, atual campeão nacional, a confiança nos jogadores brasileiros começou a aumentar no Fenerbahce, onde jogou entre 2004 e 2006. "Na época, a equipe só tinha o Fábio Luciano e o Marco Aurélio, além de mim, de brasileiros. Estávamos onze pontos atrás do líder, mas tiramos a diferença e fomos campeões. Isso fez com que o clube olhasse para o nosso país e abrisse portas", explicou.

Se os clubes turcos se sentiram atraídos pela qualidade em campo, os jogadores levaram em consideração outro aspecto determinante para escolher o país como seu destino. "Em outras ligas, sempre há problema com imposto. Aqui na Turquia, os grandes clubes arcam com estas despesas. O Ankaragücü, por exemplo, completa cem anos e contratou Darius Vassell, que passou pelo futebol inglês, e quer contar com Sol Campbell. Em outros centros, eles pagariam altas taxas", cita Alex, meio-campista do Fenerbahce.

Não apenas brasileiros 'invadiram' a Turquia. Hoje, as equipes contam com atletas de diversas nacionalidades, um sinal da evolução do futebol no país. "Os times menores cresceram e houve uma maior abertura do mercado. Todos os clubes contam com estrangeiros, o que ajudou a desenvolver o futebol local. Após a Copa do Mundo de 2002, a Turquia caiu de rendimento. Depois, na Eurocopa, a seleção foi bem, o que ajudou a renovar o futebol local", lembra Mert Nobre.

O atacante, ao lado de Alex, foi um dos primeiros brasileiros a atuar no país. "Com o maior número de estrangeiros, a qualidade do futebol turco aumentou. Quando cheguei, só havia jogadores de países de pouca tradição. Hoje, há argentinos, tchecos, entre outros, que jogam em seleções maiores e já passaram por grandes clubes", ressalta o meio-campista.

A competitividade da Süper Lig também chama a atenção. Embora a disputa pareça polarizada entre Fenerbahce, Galatasaray e Besiktas, nos últimos tempos outras equipes causaram dores de cabeça aos times grandes. Na temporada passada, por exemplo, o Sivasspor surpreendeu ao liderar boa parte do torneio e terminou como vice-campeão, à frente do Fenerbahce.

"No ano passado, houve a disputa mais acirrada pelo título, quando três times chegaram à última rodada com chances de ser campeão. O único grande era o Besiktas", afirmou Mert Nobre. Além das forças tradicionais, o Trabzonspor sempre corre por fora. "Eles só não ganharam o título porque faltou alguma coisa em momentos cruciais", apontou Alex.

A velha história de que quem vai para o futebol turco se 'esconde' ficou para trás. Com a constante presença de clubes do país em fases decisivas da Liga dos Campeões e da Copa Uefa (agora chamada Liga Europa), os jogadores têm a oportunidade de frequentar uma vitrine desejada e se manter sob os holofotes, mesmo sem o Campeonato Turco ter jogos transmitidos para o Brasil.

"A Turquia está no mesmo nível de França e Portugal, que seriam o segundo escalão do futebol europeu. Dependendo do time, ele está sempre em uma competição continental. Nas listas de convocados para a seleção brasileira, sempre há jogadores destes centros. Isso não influi", comenta Alex sobre a 'lenda do sumiço'.

Os turcos são conhecidos por seu grande fanatismo pelo futebol, o que nem sempre leva para o lado positivo. "Aqui, o fanatismo pelo futebol segue as mesmas linhas na religião e na política. Quando há o clássico entre Galatasaray e Fenerbahce, as duas torcidas se enfrentam sempre. Mesmo assim, os casos de violência são menores do que no Brasil", diz Edu Dracena.

A temporada na Turquia foi aberta com a Supercopa, conquistada pelo Fenerbahce em cima do Besiktas com uma vitória por 2 a 0 - com dois gols de Alex. Um bom indício de que as disputas no país devem ser positivas para os brasileiros.