O BILIONÁRIO E A VOLTA AO MUNDO |
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 Oleg Zherebtsov ajusta cabos para velejar. Bilionário russo é avaliado em US$ 2 bi |
 Kosatka, o barco que Zherebtsov fez para dar a volta ao mundo, enfrenta as ondas |
 Molhado? Cenário do convés quando o veleiro atravessa as ondas. Foto da 1ª etapa |
 Zherebtsov e o comandante que o colocou na vela, o jornalista Andreas Hanakamp (e) |
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Não é de hoje que a regata de volta ao mundo Volvo Ocean Race leva seus velejadores para os mares mais perigosos do planeta. A novidade, desta vez, é que o poder do vento e a força das ondas não são os únicos problemas que os velejadores vão enfrentar. Piratas da Somália viraram uma ameaça para os milionários barcos da competição e um verdadeiro pesadelo para um certo velejador bilionário.
O russo Oleg Zherebtsov, dono da rede de supermercados Lenta, com 31 lojas espalhadas pela Rússia, é patrocinador e o proeiro do Kosatka, o único veleiro russo entre os oito competidores. Seu patrimônio é estimado em US$ 2 bilhões.
O perigo dos piratas da Somália surgiu graças a uma mudança na rota da competição. Nas edições anteriores, os velejadores iam da África do Sul para a Austrália e passavam bem longe da península da Somália. Dessa vez, porém, a regata chegou à Índia e vai parar em Cochi, no Oeste do país.
A região tem ocupado os noticiários nos últimos dias, com vários ataques piratas a navios petroleiros e cargueiros. Atualmente, 13 navios estão em poder dos piratas, com 270 tripulantes seqüestrados. Um cargueiro ucraniano, lotado com tanques de guerra, foi abordado a 800 km da costa da Somália - já foram registrados ataques a mais de 2300 milhas náuticas de terra firme. Só neste ano, 96 navios foram atacados e 36 acabaram em poder dos piratas.
As chances de uma abordagem a um dos veleiros da Volvo Ocean Race, os mais velozes do planeta, são mínimas. Mesmo assim, a organização alertou os velejadores a se afastarem da costa africana quando começarem a subir em direção à Índia. Atualmente, os veleiros seguem rumo ao oriente, aproveitando ventos mais fortes nos Mares do Sul, mas nos próximos dias irão velejar para o norte, já em direção ao fim da segunda etapa.
Os perigos que o milionário enfrenta, porém, não só os piratas. Aos 40 anos, esta é a apenas a segunda vez que Zherebtsov disputa uma regata oficialmente. Ele entrou em um barco pela primeira vez em 2005 e o velejador com menos experiência de toda a regata. Para piorar, sua função, de proeiro, é a que carrega mais risco dentro de um barco.
Normalmente, ele fica na proa (parte da frente) do barco e é o responsável pela troca de velas que, em alguns casos, tem o tamanho de uma quadra de tênis. Tudo isso recebendo o impacto de ondas gigantes. "Ás vezes, temos de fazer uma troca de vela à noite. Você está cansado, fazendo força e, do nada, uma parede de água cresce na sua frente. Você é arrastado e a única coisa que te prende ao barco são os cabos de segurança", conta o bilionário.
Ex-militar, ele compara a vida à bordo dos Volvo 70, a classe de barcos usada na regata de volta ao mundo, ao seu tempo no exército russo. "Em 1986, eu servi no Uzbequistão. Vivíamos em tendas e era muito frio. Exatamente como nesses barcos, molhados, com frio, fazendo força e vivendo de comida desidratada", compara o russo.
Além disso, ele também cita o violento mundo dos negócios na Rússia, em que a Máfia tem muito poder, como similar aos riscos da Volvo - incluindo os piratas. "A sociedade russa está crescendo e ter um negócio é arriscado. Existe muita negatividade, burocracia e corrupção. E ainda tem os problemas do petróleo e do gás (que muitas vezes estão em poder de mafiosos). Acho que posso dizer que não é primeira vez que coloco minha vida em risco".