Ela é a primeira mulher a vencer uma corrida na Indy Lights, já sofre o assédio de equipes da categoria principal e tem o respeito dos adversários por defender um país com grande tradição nas pistas dos Estados Unidos. Mas Bia Figueiredo passou da fase de sonhar com a Fórmula 1, onde constatou que tudo depende de "politicagem". Por isso, diz preferir ficar onde está para traçar o caminho certo até o seu principal objetivo, que é brilhar nos ovais norte-americanos.
Terceira colocada na categoria de acesso à Fórmula Indy em 2008, a paulistana de 23 anos se especializou em quebrar paradigmas. Antes de ser a primeira mulher a terminar as 500 Milhas de Indianápolis entre os cinco primeiros na Lights, ela já havia sido a primeira a vencer na Fórmula Renault e a conquistar a pole position Fórmula 3 Sul-Americana. Se depender dela, no entanto, a Fórmula 1 vai continuar sem nenhuma mulher em destaque.
Mas nem sempre ela pensou assim. Após terminar em quinto lugar na Fórmula 3 Sul-Americana em 2006, ela foi levada pelos empresários André Ribeiro (ex-piloto) e Augusto Cesário (chefe de sua equipe na F-3) à Inglaterra, a fim de preparar terreno para sua entrada na Fórmula 1. Bia ficou quatro meses na Europa, mas não conseguiu ingressar na F-3 inglesa e decidiu ir para os Estados Unidos fazer um teste na equipe Sam Schmidt na Indy Lights. Deu certo.
Sobre voltar a brigar por uma vaga na Fórmula 1, Bia não pensa duas vezes: "Não. Meu objetivo agora é a Indy. Depois de passar aquele tempo na Inglaterra, vimos que, para chegar na Fórmula 1, precisaríamos de pelo menos quatro anos, investimento de uns US$ 8 milhões, e ainda não ter a certeza de conseguir a vaga", explica Bia, por telefone, ao
UOL Esporte.
"Na Fórmula 1 hoje em dia, ou você tem muito dinheiro ou conhece as pessoas certas. É muita politicagem. Na Indy, basta você mostrar vontade que os caras te respeitam", dispara. Para ela, a categoria mais nobre do automobilismo ainda não aceita tão bem as mulheres, e o mesmo acontece no Brasil.
Já nos Estados Unidos, onde há três pilotos mulheres na categoria principal da Indy, o público está acostumado à presença delas e inclusive valoriza mais os feitos femininos. "Os americanos acham demais as mulheres quebrando barreiras", avalia. Depois que Bia fez história ao ser a primeira a vencer uma prova da Indy Lights em Nashville, no ano passado, ela confirmou ter sentido essa diferença.
"Várias pessoas começaram a acompanhar minha carreira, muitas cartas chegaram, todos dando a maior força, parabéns e tudo mais", revela. Além de ser mulher, outro fator contribui para a popularidade de Bia nos Estados Unidos. "Já vi muita gente brincando, dizendo 'além de mulher, ela é brasileira, então vai ser fogo'. O pessoal respeita muito os brasileiros aqui, porque grandes pilotos fizeram história na Indy", comenta.
Mais um motivo para Bia focar sua carreira nos Estados Unidos. Mas ela não pretende apenas subir de categoria. Visando brigar pelo título da Fórmula Indy a partir de 2010, Bia rejeitou convites recebidos já no ano passado e preferiu ficar mais uma temporada na Indy Lights, buscando outros bons resultados para entrar em uma equipe de ponta no próximo ano.
"O plano inicial já era fazer dois anos na Indy Lights. Quando o André [empresário] recebeu propostas de subir ainda no meio do ano, vimos que era muito cedo", explica. Para ajudar Bia a tomar decisões como essa, seus agentes contrataram Robert Clarke, ex-diretor da Honda nos Estados Unidos, que também trabalha com Gil de Ferran na American Le Mans Series. "Ele sabe tudo sobre o automobilismo norte-americano", adianta Bia.
A própria piloto confessa que teve que aprender praticamente tudo sobre as pistas dos Estados Unidos. Para quem acha que é fácil guiar em um circuito oval, ela logo avisa: "É difícil pra caramba. Todo mundo diz que são só duas curvas e deu, mas acontece que a diferença é feita por milésimos. É muito pouco, e para achar esses milésimos no carro é muito complicado", explica.