Pausa no treino do Irã. Hamed Haddadi, Arsalan Kazemi e companheiros logo apanham garrafas e ingerem líquido, reduzindo os efeitos do forte calor do verão turco. O gesto, banal para os ocidentais, rompe a tradição de jejum que os muçulmanos devem observar durante os 40 dias do Ramadã.
As datas do Ramadã são determinadas pelo calendário lunar. A cada ano, o Ramadã começa dez dias antes em relação ao ano anterior. O jejum, que se inicia com o nascer do Sol e acaba quando ele se põe, inclui proibições a todo tipo de ingestão (comida, bebida, fumo), relações sexuais, brigas, maledicências e discussões. O objetivo é purificar o organismo e incentivar reflexões.
Nesta semana, cena idêntica fez com que o astro Ali Karimi, terceiro maior goleador da história da seleção iraniana, chegasse a ser dispensado por seu clube, o Azin FC. Dias depois, após a repercussão internacional da demissão relacionada à ingestão de água, o clube voltou atrás e reintegrou o atacante.
Haddadi diz que nenhum jogador do time consegue seguir à risca na Turquia as regras do Ramadã (veja quadro). “São seis horas de treino por dia. Eu e alguns outros até tentamos, mas precisamos treinar forte. Precisamos honrar nosso país”, disse o pivô de 2,18 m, o primeiro do time a atuar –ou melhor, esquentar o banco- na NBA. Ele é reserva do Memphis Grizzlies.
De acordo com um jornalista do país, como estão em viagem maior do que dez dias, os jogadores podem abster-se de seguir à risca o jejum. Para Haddadi, é também uma questão de sobrevivência no primeiro Mundial de basquete do país. “Estamos aqui para jogar bem. Temos de demonstrar esforço. Não esperamos vencer os jogos, mas não podemos perder por 50 ou 60 pontos”, diz Haddadi, que não reclama das datas do Mundial. “É o calendário, temos de respeitar”.
Esporte e Ramadã
Um dos maiores jogadores de basquete da história, o nigeriano Hakeem Olajuwon, treinava e, quando os jogos eram realizados durante o dia, atuava em jejum. Para ele, a água ingerida ao final de um dia de respeito às regras do Ramadã tinha um gosto especial.
De acordo com Haddadi, o Irã assistiu a duas horas de um vídeo editado pela comissão técnica sobre o Brasil. "Vai ser um jogo difícil. Podemos perder, mas vamos jogar com bastante força", afirmou. Hadaddi disse ainda que a ênfase do técnico é na cobertura do jogo de garrafão do Brasil. “Ainda vamos treinar na manhã deste sábado para entrarmos afiados”, disse.
Dois jogadores famosos de futebol também costumam atuar sem beber ou comer nada desde o nascer do sol. O ganês Sulley Muntari chegou a ser pivô de uma polêmica com o técnico português José Mourinho. Em um empate entre Internazionale e Bari, ele foi substituído ainda no primeiro tempo. Mourinho disse após a partida que “Muntari teve problemas com o Ramadã, talvez com este calor não seja bom para ele fazer jejum. O Ramadã não chegou em um momento ideal para um jogador atuar em uma partida de futebol”, disse o português. A repercussão causou polêmica, e líderes religiosos muçulmanos na Itália reclamaram da “ingerência em assuntos religiosos”.
Freddie Kanouté, do Sevilla, é outro jogador que respeita o Ramadã. “O jejum dá forças aos muçulmanos, não os enfraquece. Tento respeitar o máximo possível”, diz.
De acordo com a CNN, os Emirados Árabes Unidos marcaram jogos do campeonato de futebol local para as 23h. Assim, os jogadores têm tempo de se alimentar antes de entrar em campo.
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