O encontro deste domingo entre Brasil e Estados Unidos pela terceira rodada do Grand Prix colocará frente a frente os dois técnicos que guiaram suas seleções de vôlei à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2008. De um lado, José Roberto Guimarães, que comandou o time verde-amarelo feminino na conquista inédita. Do outro, Hugh McCutcheon, que levou a seleção masculina norte-americana de volta ao topo.
E é justamente o fato de ter dirigido um time de homens até há pouco tempo que faz do treinador neozelandês um seguidor dos passos do técnico brasileiro. Após levar os EUA aos títulos da Liga Mundial e das Olimpíadas, McCutcheon assumiu o difícil desafio de comandar uma profunda renovação no time feminino.
Em 2003, Zé Roberto fez o mesmo. Campeão de tudo que pôde com o time masculino do Brasil, o técnico recebeu a missão de resgatar a equipe feminina, que então passava por uma crise. Àquela época, Zé Roberto, que já tinha experiência com as mulheres no vôlei, passou a compreendê-las definitivamente.
"Você vai aprendendo a entender. Depois de sete anos à frente da seleção e de clubes, eu tenho uma relação de tentar entender esse universo. Agora já sei que antes de entender a jogadora, eu tenho que entender a pessoa", comentou Zé Roberto. "Antes eu era durão, queria ser como no masculino, não ficar muito próximo, mas agora é diferente. Eu exijo, mas escuto. Elas têm mais sensibilidade e têm muita coisa a dizer".
'Exemplo' para McCutcheon, Zé Roberto minimiza os possíveis conselhos que teria para o técnico. "Ah, não tenho muito conselho pra dar. Acho que ele vai penar no início. Ainda é uma seleção dos Estados Unidos, mas é outro jogo, outra maneira de lidar. Ele vai entender com o tempo, mas espero que entenda mais tarde", brincou o brasileiro, referindo-se ao encontro entre as duas equipes.
Por sua vez, o neozelandês se diz ciente das dificuldades, mas ainda não vê tantas diferenças em dirigir um time masculino e um feminino. "É um bom desafio, e eu aceitei porque esse é um time promissor. Mas a diferença não é tão grande, não. Esse grupo também trabalha bastante", afirmou o técnico, que comanda uma equipe feminina pela primeira vez.
Quem também está se iniciando nesta empreitada é o assistente técnico de McCutcheon, ninguém menos do que Karch Kiraly, bicampeão olímpico com a seleção de quadra dos Estados Unidos (1984 e 1988) e campeão na praia (1996), único esportista do mundo a colecionar ouros olímpicos nas duas modalidades.
Mas assim como o 'patrão', o ex-jogador, que também tem sua primeira experiência no vôlei feminino, não prevê grandes dificuldades na mudança. "Não é tudo isso que as pessoas dizem. O passe continua sendo passe, o levantamento ainda é levantamento, e por aí vai. Os movimentos e a técnica são iguais", minimizou Kiraly.
Melhor jogador do mundo em duas ocasiões, o norte-americano começa a se acostumar com o novo trabalho. "Esse é um grupo bastante talentoso e faminto para melhorar. São jogadoras muito novas, que têm vontade de aprender, e foi isso que me atraiu, além de McCutcheon ser um dos melhores técnicos do mundo na atualidade".
Brasil e Estados Unidos se enfrentam neste domingo, às 10h, no Maracanãzinho, em jogo válido pela terceira rodada do Grand Prix. Até agora, as brasileiras somam duas vitórias na competição. As norte-americanas, por sua vez, têm um triunfo e um revés (ambos os times já enfrentaram Alemanha e Porto Rico).