Técnico do Grêmio, adversário do Cruzeiro na disputa da semifinal da Libertadores, Paulo Autuori tem seu nome escrito na história do clube celeste. Ele comandou a equipe mineira na conquista do seu segundo título da competição internacional, em 1997, mas, dez anos depois, teve uma saída conturbada do time que dirigia pela terceira vez.

NÚMEROS DE AUTUORI NO CRUZEIRO
Vinícius Simas/UOL Esporte Autuori alegou "vergonha na cara" para sair do Cruzeiro após goleada do rival, em 2007
Ano Jogos Vitórias Empates Derrotas 1997 37 17 9 11 99/2000 29 16 6 7 2007 20 11 5 4
AUTUORI NÃO VÊ FAVORITISMO
SEMIFINALISTAS INVERTEM ESTILOS

"Vou falar rápido e breve, chamei a direção e falei que sou profissional e pessoa com vergonha na cara. Por dignidade se tiver de fazer o jogo de domingo vou fazer, mas ganhando ou não o título não vou continuar e coloquei de forma clara para a direção", afirmou Paulo Autuori, no vestiário do Mineirão, em 29 de abril de 2007, ao justificar sua decisão de deixar o cargo de treinador do Cruzeiro.

A equipe celeste, que havia feito a melhor campanha na fase de classificação, havia acabado de ser goleada por 4 a 0 para o rival Atlético-MG, no primeiro jogo da decisão do Campeonato Mineiro. Durante a partida, o goleiro Fábio, ainda hoje titular e um dos destaques do time, estava de costas para o lance, no gol marcado por Vanderlei, um dos atacantes atleticanos.

Autuori não comandou o Cruzeiro no jogo de volta, uma semana depois. Com Emerson Ávila como treinador interino, a equipe celeste venceu o Atlético-MG por 2 a 0, resultado, no entanto, insuficiente para impedir a comemoração do título pelo rival. No Brasileiro, o time cruzeirense teve Dorival Júnior como treinador.

Sem citar nomes, no dia de sua saída do Cruzeiro, Paulo Autuori enfatizou ser "um homem com dignidade e vergonha na cara" e disse que, por isso, não podia aceitar "a forma como entregamos aqui o jogo de bandeja para o Atlético-MG". "Em nenhum momento vou falar ou já falei de jogador. O que é minha responsabilidade chamo para mim, como sempre fiz, espero que as pessoas chamem para si, e as pessoas são os jogadores, a responsabilidade", acrescentou, na ocasião, o técnico.

Dos 14 jogadores que atuaram pelo Cruzeiro naquele jogo, somente dois, ambos titulares, continuam na Toca da Raposa II: o goleiro Fábio, que ainda se contundiu naquela partida, e o lateral-direito Jonathan, que atuou improvisado no lado esquerdo.

Jonathan não quis polemizar. Ao contrário. Não poupou elogios a Autuori, a quem se diz agradecido por ter lhe dado uma oportunidade de jogar no time principal. "Foi um dos melhores treinadores com quem trabalhei aqui no Cruzeiro. É muito competente, honesto, muito gente boa. É difícil falar do Paulo, ele me deu oportunidade, acho que meu crescimento começou com ele", ressaltou.

O lateral-direito, que este ano já atuou novamente improvisado no lado esquerdo, disse ter percebido que o seu futebol começou a crescer a partir da chegada de Paulo Autuori. "Ele confiava no meu trabalho, eu estava jogando bem realmente. Ele me deu confiança, acho que um jogador precisa de confiança para jogar e procurei jogar bem", ressaltou.

A terceira passagem de Autuori pelo Cruzeiro foi rápida. Ele comandou a equipe naquele ano em 20 jogos, com 11 vitórias, cinco empates e quatro derrotas (aproveitamento de 63,33%). O atual treinador celeste, Adilson Batista, que está há um ano e meio no cargo, período em que comandou o time em 100 jogos, tem desempenho de 67,33%, com 62 vitórias, 16 empates e 22 derrotas.

Levando-se em conta as três vezes que comandou o Cruzeiro - além de 1997, quando foi campeão da Libertadores, e 2007, ele esteve na Toca da Raposa também em 1999/2000 -, Autuori comandou a equipe em 86 partidas e conseguiu 44 vitórias, 20 empates e 22 derrotas, o que corresponde a um aproveitamento de 58,91%.

Sem comentar sua passagem em 2007, Autuori, que não vê favoritismo no confronto, elogiou o agora adversário. "O Cruzeiro tem uma bela equipe, com excelentes jogadores, tem um excelente elenco", afirmou o treinador, lembrando que os semifinalistas brasileiros "são dois clubes de muita tradição".

Da mesma forma que aconteceu em 1997, no Cruzeiro, Paulo Autuori assumiu o comando do Grêmio este ano, com a Libertadores em andamento. Indagado há alguns dias sobre essa coincidência, o técnico havia afirmado que no clube mineiro tinha sido um pouco diferente.

"Eu assumi antes, ainda numa fase inicial da Libertadores", explicou Autuori, anteriormente. Nesta terça-feira, ele lembrou-se de seus antecessores pela posição ocupada pelo Grêmio na Libertadores. "O Grêmio está nessa situação graças ao que fizeram o Celso Roth, o Marcelo Rospide (interino) e a esse grupo de atletas", disse.

* Com escritório de Porto Alegre