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Angelina Ribeiro diz que presença das mulheres 'quebra o gelo' nas obras do Mineirão

Angelina Ribeiro diz que presença das mulheres 'quebra o gelo' nas obras do Mineirão

18/08/2011 - 12h00

Mulheres conquistam espaço nas obras do Mineirão para a Copa 2014

Guyanne Araújo
Em Belo Horizonte

Com atenção para detalhes que às vezes podem parecer imperceptíveis aos olhos masculinos, as 102 mulheres que trabalham atualmente nas obras de modernização do Mineirão para a Copa do Mundo de 2014 representam 10% dos cerca de 1 mil trabalhadores. A presença feminina pode ser sentida não apenas em funções administrativas, mas também em serviços operacionais, típicos da construção civil, ambiente ainda frequentado em sua maioria por homens.

“Tem sido legal, acho que quebra um pouco o gelo da construção só com homem. Cada área tem uma mulher, engenheira, técnica, cada função praticamente tem uma mulher. Com o tempo, os homens aprendem mais a respeitar a mulher no trabalho, na construção está sendo bem legal essa experiência”, observou a supervisora de tubulão Angelina de Souza da Silva Ribeiro, de 22 anos.

PRESENÇA FEMININA CONSOLIDADA NA REFORMA DE ESTÁDIO EM MINAS

  • Sylvio Coutinho/Divulgação

    Michele de Morais, Renata dos Santos, Sirley Souza e Jaqueline Cordeiro (da esquerda para a direita) desempenham diferentes funções nas obras de modernização do Mineirão para 2014

A jovem conseguiu seu primeiro emprego no Mineirão há dois meses. “No começo quando surgiu essa oportunidade me empolguei, fiquei bastante ansiosa, querendo começar logo. Quando comecei e vim aqui para o campo, fiquei um pouco assustada com cantadas, mas você vai se acostumando, você aprende a lidar com isso. Hoje em dia é uma rotina tranquila para mim, já me acostumei”, contou.

Antes de iniciarem os trabalhos, os operários contratados – homens e mulheres –, passam por um curso de capacitação. Ricardo Barra, diretor-presidente do Consórcio Minas Arena, responsável pelas obras do Mineirão, ressalta o que considera “papel fundamental” das mulheres em obras desse porte. “Geralmente, elas ocupam funções de supervisão. Além de serem muito respeitadas pelos homens, elas são bem caprichosas. O resultado do trabalho é sempre satisfatório”, afirmou.

Angelina veio de Pernambuco e conseguiu um emprego no setor para acompanhar o marido, Genival da Silva Ribeiro, que também trabalha com obras em Belo Horizonte. Apesar de incentivada pelo esposo, que a ajudou a conseguir o emprego, a operária conta que ele ficou com um pouco de ciúmes no início, já que o ambiente em sua maioria é composto por homens. “A gente foi conversando, conversando. Agora ele pergunta como está, se o pessoal dá em cima, se respeita, mas ele não se preocupa muito não”, contou.

VER A COPA DO MUNDO DE 2014 PELA TV

  • Guyanne Araújo/UOL Esporte

    A ex-manicure Jéssica de Souza, 20 anos, aceitou trabalhar em obra por causa da carteira assinada

Torcedora do Sport, Angelina diz estar com expectativa positiva para a Copa em 2014 e admite que seu desejo de ver um jogo ao vivo aumentou por estar participando da obra do Mineirão. “Agora estou bem entusiasmada de ir ao campo”, afirmou. “Está sendo muito interessante, saber que ajudei a construir um pedacinho, é bem legal. Aqui tem um pedacinho de mim. É uma sensação boa”, acrescentou a operária, que pretende se formar em engenharia ambiental.

O setor de perfuração de tubulões – tipo de fundação, que compreende um poço escavado revestido de concreto armado – é um dos que mais contam com a mão-de-obra feminina no canteiro de obras. As supervisoras de tubulão fiscalizam o trabalho dos escavadores e armadores. Elas checam se os operários estão usando os EPIs (equipamentos de proteção individual) corretamente, medem o gás com o auxilio de um aparelho e checam se eles estão na posição correta para manter a segurança da obra.

A função de apontadora é outra que também conta com muitas mulheres. O trabalho consiste em ‘fiscalizar’ e mensurar o serviço dos operadores no canteiro de obras, produzindo informações para a Gerência de Contratos e de Planejamento. De forma geral, as trabalhadoras do Mineirão se definem mais atenciosas, cuidadosas e detalhistas, e vem ganhando seu espaço na construção civil. “As mulheres são sempre mais cautelosas com o serviço mais cuidadosas, fazem o serviço de forma mais caprichosa”, afirmou a apontadora Sirley Souza do Carmo.

A engenheira de produção Ana Brito destaca que geralmente as mulheres são mais organizadas. “As mulheres têm mais atenção com detalhes, os homens geralmente são mais grosseiros. Às vezes vê detalhes que o homem não vê”, ressaltou.

Sirley está nas obras do Mineirão há três meses, mas já tem mais quatro anos de experiência com obras, chegando a trabalhar como servente, feitora e armadora. Ela conta que quando começou a atuar em obras os homens resistiam à ideia e comentavam que mulher em obra ‘não estava com nada’. “Mas acabamos ficando e mostrando que nós somos capacitadas a trabalhar na obra”, contou.

A apontadora que tinha ido a apenas uma vez ao estádio assistir uma partida de futebol conta que para agradar o namorado atleticano, torce também para a equipe alvinegra. Ela destacou que é um privilégio estar fazendo parte da reconstrução do estádio para a Copa. “É um prazer enorme saber, a gente trabalhou ali, construiu e agora estamos ai assistindo a Copa. Pretendo voltar para ver como vai ficar mesmo, se tiver o privilégio de assistir um dos jogos aqui vai ser muito bom”, avaliou.

Mudança de emprego

Antes de trabalhar na construção civil, Sirley do Carmo era empregada doméstica. “Foi uma experiência nova e é bem melhor do que trabalhar em casa de família. O salário é bem melhor e tem oportunidade de crescer dentro da obra, casa de família você não cresce para lado nenhum é só uma pilha de vasilha. Na construção em cada etapa você pode subir ter uma tarefa melhor, uma profissão melhor”, comparou.

  • Guyanne Araújo/UOL Esporte

    A apontadora Sirley Souza do Carmo vê a mulher com potencial para fazer um serviço caprichoso

Jéssica Roberta Fidelis de Souza, de 20 anos, supervisora de tubulão está trabalhando no Mineirão há quase três meses. Ex-manicure, o que pesou para jovem aceitar esse emprego foi o fato de ter carteira assinada.  “Essa é a primeira vez que trabalho em obras, antes era manicure. É legal, às vezes estressante. Vou ficar mais dois meses, mas quero continuar como apontadora”, afirmou Jéssica.

Atleticana, ela diz querer ficar algum tempo sem retornar ao estádio depois que terminar. “Para ser sincera quero ficar muito tempo sem vir aqui, porque é cansativo. Podia vir para a Copa, mas é caro. Dinheiro não vou ter, vou ver pela TV”, comentou. A supervisora de tubulão contou que seu celular ficou dentro da obra. “O celular caiu dentro do tubulão, tem parte minha aí”, acrescentou.

Jéssica ainda ressaltou a união das mulheres. “Tem brincadeiras, depois toma chope junto. A gente faz unha e sobrancelha uma das outras . Uma cuida da outra, vende perfume”, contou. Sobre o trabalho com os homens ela revelou que hoje eles são mais tranquilos e alguns acabam se tornando amigos. “A mulher acaba falando manso e eles acatando”, observou.

Renata dos Santos, 33 anos, outra apontadora, trabalha no estádio há dois meses. Mineira, ela trabalhava como auxiliar administrativa em Fortaleza e ficou sabendo da oportunidade pelo irmão que soube irmão que trabalha na ambulância das obras do Mineirão da oportunidade. “No começo estranhei, porque usava salto no trabalho. Agora é bota, tudo para mim é novo. Estou pensando em fazer engenharia”, contou.

Atleticana, a apontadora disse que sempre ia ao estádio acompanhado do irmão e almeja voltar depois que o estádio ficar pronto. “Sei que é caro e não tenho dinheiro, mas pelo menos na inauguração quero estar aqui. Vai ficar lindo demais com a reforma”, afirmou.

Como em todo canteiro de obras, muita poeira acaba deixando as mulheres até mesmo mais vaidosas com o cuidado com si mesmas, de acordo com Renata. “Agora estou me achando até mais vaidosa. Fazer a unha todo final de semana, porque fica com terra, o cabelo fica duro, tem que arrumar mais”, explicou.

  • Sylvio Coutinho/Divulgação

    Mulheres são 10% do total de funcionários que atuam, no momento, na obra de modernização do Mineirão. Na foto, um grupo de trabalhadoras almoça no refeitório do canteiro de obras

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