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Aposentado Daniel Fondelo (dir) olha o andamento das obras do Itaquerão

Aposentado Daniel Fondelo (dir) olha o andamento das obras do Itaquerão

20/10/2011 - 18h04

Abertura da Copa em Itaquera divide moradores do bairro

Paulo Cabral
Da BBC News

Da janela de seu apartamento, o aposentado Daniel Fondelo acompanha passo a passo a construção do estádio da abertura da Copa do Mundo de 2014. O conjunto da Cohab 1, onde ele mora há 30 anos, fica no topo de uma colina vizinha ao terreno onde o “Itaquerão” está em construção.

Mas Fondelo está desapontado porque, quando o barulho das máquinas tiver dado lugar aos gritos dos torcedores, ele não vai conseguir ver mais nada: o teto e as marquises do estádio vão impedir qualquer visão de fora.

"Na primeira maquete que nos mostraram, muitos anos atrás, parecia que ia dar pra ver os jogos de casa", conta. "Pelo projeto de agora, não vai dar pra ver nada. Uma pena: queria poder assistir quando meu Palmeiras jogasse com o Corinthians."

Apesar da decepção, o palmeirense gosta do projeto. "Dá emprego para o pessoal e incentivou outras obras, como o shopping center e a faculdade", diz.

Sem unanimidade
Mas Itaquera está longe da unanimidade em relação ao estádio. Há moradores que temem que o caos se instale no bairro e que os preços de alugueis e serviços disparem.

"Metade está feliz e a outra metade reclamando. Os corintianos reclamam menos, claro", diz o diretor financeiro da Associação de Síndicos (dos prédios) da Cohab, Luiz Germano de Oliveira

"Eu mesmo acho que pode ser bom para o bairro, porque vai atrair novas indústrias e comércios. Mas tem muita gente que acha que há outros problemas mais sérios aqui que tinham que ser resolvidos antes de se trazer o mundo para Itaquera."

O taxista Antônio Souza Santos –que morou a vida inteira no bairro –não concorda com as prioridades escolhidas pelas autoridades.

"Nem sei quantas vezes tive de rodar de um hospital a outro com um passageiro precisando de atendimento. O governo nem consegue dar um atendimento decente à saúde dos brasileiros aqui em Itaquera e quer agora encher esse lugar de estrangeiros", diz.

"Um absurdo gastarem dinheiro público com uma obra como essas."

Dinheiro público
Mas o diretor de contrato da Odebrecht (a empreiteira responsável pelo Itaquerão), Antônio Gaviolli, diz que não há dinheiro público na obra.

"O contrato aqui é de R$ 820 milhões e na modalidade turn key e lump sum (termos que, no jargão do setor, significam que a empreiteira recebe um valor fechado para entregar a obra pronta)", diz.

Mas embora os valores sejam financiados por um fundo criado pela construtora junto com o Corinthians, não deixam de ter origem nos cofres públicos: R$ 400 milhões virão de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), enquanto os outros R$ 420 milhões serão pagos com títulos, lastreados em incentivos fiscais da prefeitura de São Paulo.

"Os incentivos fiscais não existem apenas por causa do estádio. A prefeitura oferece esses incentivos para qualquer investimento nesta região, que precisa de apoio para seu desenvolvimento", diz Gaviolli.

O Governo do Estado vai também ter que colocar a mão no bolso –um gasto de até R$ 70 milhões - para adicionar, aos 48 mil assentos fixos do estádio, outros 20 mil lugares em arquibancadas provisórias, para chegar à capacidade para 65 mil torcedores exigida para a abertura da Copa.

Incentivo ao desenvolvimento
A secretária executiva do Comitê Paulista para a Copa, Raquel Verdenacci, diz que todos os investimentos valem a pena, porque receber a abertura da Copa do Mundo vai movimentar a economia de São Paulo e, sobretudo, incentivar o desenvolvimento da Zona Leste da capital paulista.

"Não é só um estádio. É todo o 'Polo Institucional de Itaquera' que está sendo constituído, com comércio, educação e serviços para a população", diz.

Verdenacci observa que, ao contrário de cidades menores, o município de São Paulo já tem uma infraestrutura que lhe permite absorver o público de um "mega evento".

"A linha de metrô que chega a Itaquera já transporta 1,5 milhão de passageiros por dia, então acomodar mais 65 mil que vão para o estádio é mais uma questão operacional do que de novos investimentos em infraestrutura. São Paulo já está preparada para uma Copa do Mundo", diz.

"O que precisamos fazer na região são apenas readequações viárias para resolver o trânsito no entorno do estádio."

Mas uma coisa em que todos os envolvidos concordam é que o estádio vai ficar pronto a tempo. O diretor de marketing do Corinthians, Luiz Paulo Rosemberg, diz que agora que todas as questões financeiras estão sendo equacionadas, o mais difícil já passou.

"As obras estão em ritmo acelerado e do ponto de vista de engenharia, fazer um estádio de futebol é até mais simples do que fazer um shopping center. O Corinthians e o Brasil vão ter um estádio para se orgulharem."

*Colaborou Jessica Fiorelli, da BBC Brasil em São Paulo

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