A previsão oficial do custo de construção e reforma dos estádios que serão utilizados na Copa do Mundo de 2014 já subiu R$ 590 milhões desde janeiro de 2010, quando foi assinada a Matriz de Responsabilidade da Copa pelos governos federal, estaduais e municipais que receberão os jogos. O Estádio Nacional de Brasília lidera a lista de alta nas previsões, com um acréscimo de R$ 175,8 milhões no custo da obra, valor que ainda vai subir, segundo o próprio governo do DF.
À época da assinatura da Matriz, a previsão do Ministério do Esporte era que a soma do custo das 12 arenas alcançaria a cifra de R$ 5,6 bilhões. Já levando em consideração a última atualização das previsões do governo federal, de novembro de 2011, e as últimas atualizações dos governos locais feitas de novembro para cá, o valor alcançou R$ 7,08 bilhões.
ESCALADA DA PREVISÃO DE CUSTO DOS ESTÁDIOS DA COPA DO MUNDO*
Estádio
Previsão de custo em jan/2010*
Previsão de custo atual*
Itaquerão (SP)
(sem previsão)
890
Maracanã (RJ)
828
931
Arena Fonte Nova (BA)
592
597
Arena Amazônia (AM)
533
532,2
Arena Pantanal (MT)
597
597**
Estádio Nacional (DF)
671
846***
Estádio das Dunas (RN)
413
417
Castelão (CE)
452
518,6
Beira-Rio (RS)
154
290
Arena da Baixada (PR)
185
234
Arena Pernambuco (PE)
491
532
Mineirão (MG)
684
695
Total
5600
7080
* em R$ milhões
** Estado ainda fará licitação para construção de cobertura
*** DF ainda fará licitações para compra de gramado e cadeiras
Fontes: Ministério do Esporte, governo do Distrito Federal e Odebrecht
O aumento de custo de R$ 590 milhões representa a diferença entre as duas previsões, menos o custo previsto para o Itaquerão (R$ 890 milhões), estádio do Corinthians que está sendo construído em São Paulo e que, em janeiro de 2010, ainda não possuía qualquer previsão de preço.
Nove dos 12 estádios estão sendo erguidos ou reformados integralmente com recursos públicos. Os outros três, privados, contam com empréstimos estatais subsidiados (Beira-Rio, Arena da Baixada e Itaquerão) e incentivos fiscais de Estado e município (Itaquerão).
Não é possível saber, ainda, qual será o custo final das arenas. O que é fato, porém, é que esses valores ainda irão subir. Isso porque pelo menos dois estádios (em Mato Grosso e no Distrito Federal) terão novas licitações, para a construção da cobertura da arena (Mato Grosso) e para a aquisição de cadeiras e gramado (Distrito Federal).
O anúncio de novas licitações que encarecem o valor final de uma obra no decorrer de sua construção é uma triste tradição brasileira. Em relação aos estádios da Copa, o ente público que vem utilizando o expediente com mais despudor é o governo do Distrito Federal.
As autoridades distritais assinaram a Matriz em janeiro de 2010 anunciando que gastariam R$ 702 milhões para demolir o Mané Garrincha e construir o Estádio Nacional de Brasília. Assim como para as demais 11 sedes, por óbvio, o custo ali previsto era para a totalidade da obra. Em 2011, o governo do DF chegou a reduzir esta previsão, para R$ 671 milhões.
Tal informação, porém, não corresponde à verdade. Além da assinatura dos mandatários do DF na Matriz de Responsabilidade a desmentir a justificativa, o próprio governo do Distrito Federal já informou ao UOL Esporte, no dia 26 de outubro de 2011, que o custo estimado do Estádio Nacional de Brasília era de R$ 671 milhões. A informação foi transmitida por e-mail, em resposta a pergunta sobre previsão de custo total da obra do estádio de Brasília.
O UOL Esporte questionou o governo do Distrito Federal sobre o motivo da discrepância entre o que consta na Matriz de Responsabilidade da Copa e na mensagem enviada ao UOL Esporte com o que agora anunciam as autoridades distritais. Jamais obteve resposta.
Além disso, no mesmo dia 26 de novembro, o DF informou que fará ainda duas outras licitações, para aquisição do gramado da arena e para a compra de cadeiras de arquibancada. A conta deve ultrapassar R$ 15 milhões.
Contrariando tudo que vinha sendo dito até então, foi divulgado que tal valor era suficiente para erguer um estádio para 48 mil pessoas. Para chegar a 68 mil pessoas, capacidade exigida pela Fifa para o jogo inaugural, seria necessário um investimento de R$ 70 milhões (segundo a Odebrecht, empreiteira que toca a obra).
Quem arcará com o custo extra será o governo de São Paulo, cujas autoridades se apressaram em tranquilizar o povo paulista: não se trata de doação de dinheiro público a um ente privado; as arquibancadas, com capacidade para 20 mil pessoas, serão removíveis. Após a Copa, o governo irá retirar o equipamento do estádio, mantendo-o como patrimônio do Estado.
Já no sul do país, o aumento nas previsões de custo nas reformas da Arena da Baixada (Curitiba, no Paraná) e do Beira-Rio (Porto Alegre, Rio Grande do Sul), tem como principal motivo o atraso no calendário de obras.
No estádio do Internacional, a previsão de custo de 2010 para a reforma era de R$ 134 milhões. Atualmente, está em R$ 290 milhões. As obras ficaram por mais de seis meses paralisadas no ano passado, período em que o clube e a construtora responsável pelos trabalhos, a Andrade Gutierrez, passaram discutindo cláusulas contratuais. A previsão inicial, de realizar as obras em módulos, sem nunca precisar fechar a arena, deu lugar a um plano intensivo, com três turnos de trabalho, entrando pela madrugada.
Já em Curitiba, disputas internas do Atlético-PR atrasaram a obra. Além disso, o clube teve difilcudades para apresentar as garantias necessárias para pleitear um empréstimo junto ao BNDES para financiar a obra. Até agora, o clube ainda não obteve a liberação do dinheiro, e seu pedido está em análise no banco estatal. De janeiro de 2010 a novembro de 2011, a previsão de custo da reforma foi de R$ 185 milhões para R$ 234 milhões.