O estádio municipal Cláudio Moacyr de Azevedo fica na parte pobre da cidade. Com apenas dois mil lugares, é um estádio um tanto tímido. O mesmo não se pode falar da gigantesca bola inflável colocada em frente à entrada, que anuncia o nome de Mirinho, presidente do Macaé e candidato à reeleição como vereador.
Pergunto a um assessor do clube como se explica esta diferença, e ele desconversa. Arrisco um palpite: "Não seria porque o presidente do clube é candidato a vereador e aí acabam entrando umas pessoas a mais?" "É por aí", ele responde. Começo O jogo é decisivo. Quem vencer tem grandes chances de passar à fase seguinte. O empate é vantajoso para o Boavista, que tem um ponto a mais. A partida começa e o Macaé vai para cima. Logo aos 9', a bola bate no travessão do Boavista. Lá pelos 15' a partida fica equilibrada. E uma incansável charanga anima o time. Nenhum torcedor veio acompanhar o Boavista. Quem faz as vezes de torcida é o banco de reservas, que grita, fala palavrões e gesticula. 25': O Macaé volta a dominar o jogo. Lá no bar, Mirinho torce, grita, xinga. Aos 30', uma falta a favor do Macaé. É uma boa chance. A cobrança sai rasteira, passa pela barreira mas... fica nas mãos do goleiro. Reparo que, quando o time da casa ataca, a charanga aumenta o ritmo. É quase uma trilha sonora. Pena que não tenha um botão de volume. 34': O Macaé perde um gol na pequena área. Um gol feito. Daqueles que até um manco cego faria. Passo pelos policiais. Eles não mostram o menor interesse pelo jogo. Olham para os lados, contam façanhas, mas não reparam no que acontece em campo. 43': O Boavista promove um certo cai-cai. Por qualquer sopro seus jogadores rolam pelo chão como se fossem índios em filme de caubói. Meio
Decido aproveitar os quinze minutos para cumprir minha missão de investigador gastronômico-ludopédico. Encontro dois acepipes interessantes: uma pipoca com queijo e uma tapioca regada com leite condensado e acompanhada por uma cocada. Como já engordei uns três quilos nesta viagem, reconheço que a batalha está perdida e experimento as duas guloseimas. Medalha de ouro para a tapioca. O jogo e a banda recomeçam. Os primeiros minutos são equilibrados e só aos 15' o Macaé dá um bom chute. Mas a bola vai para fora. Três minutos depois, outro chute. E a bola segue o mesmo caminho da anterior. 22': Mais um jogador do Boavista vai ao chão. Pelo jeito como ele se debatia, pensei que fosse um ataque epilético. Mas era só cera mesmo. A incansável banda continua tocando alto. Fico curioso em saber o porquê de eles serem tão apaixonados pelo clube e entrevisto um dos oito integrantes. Ele me diz que, na verdade, não são torcedores. Foram contratados para animar o jogo. Cinquenta reais por cabeça. Aos 23', mais um chute do Macaé para fora. Não sei quem foi o autor, mas provavelmente foi um Leonardo, já que o time tem seis jogadores com este nome. Depois deste chute, o time parece desanimar e o Boavista reequilibra a partida. Tanto que aos 32' faz um belo contra-ataque. O goleiro sai e comete pênalti límpido, claro, óbvio como diálogo de filme pornô. Mas o juiz não dá nada. 38': O tempo passa e um bando de urubus sobrevoa o campo. Mau sinal. O fim O juiz dá quatro minutos de acréscimo e, aos 47', o Macaé consegue quatro escanteios seguidos. Num deles, um zagueiro do Boavista empurra com espalhafato um atacante do Macaé. A torcida reclama o pênalti, mas o juiz, mostrando imparcialidade, também não dá este. 49': O jogo acaba. Alguns torcedores que assistiram ao jogo pendurados no muro xingam o presidente. O Boavista está praticamente classificado. Basta vencer o Linhares em Saquarema. E não é uma missão difícil. No jogo de ida, em Linhares, venceu por quatro a zero. Já o Macaé, para se classificar, terá que vencer o invicto Guaratinguetá na casa do adversário. E, além disso, torcer para que o Linhares, que até já dispensou alguns jogadores, ao menos empate com o Boavista. Mas ninguém crê neste milagre. O sol se põe e começam a desmontar a arquibancada. Lá fora, um funcionário esvazia a bola de Mirinho. |
percorridos desde São Paulo
de gasolina gastos no seu possante
mordidas em refeições e lanches
Lar, doce lar
Os quilos que ganhei