O Alagoinhas não tem campo próprio, por isso treina e joga no Estádio Municipal Antonio Carneiro. Inaugurado em 1971, ele oferece boa visão, tem capacidade para mais de 15 mil pessoas, possui assentos de plástico na área nobre, uma parte coberta, arquibancada de cimento em boas condições e a iluminação está pronta para estrear. É o melhor estádio que vi nesta viagem até agora.
Nos dois bangalôs amarelos ficam mais de vinte jogadores. As acomodações são modestas. Há muitas camas por quarto e pouca, ou nenhuma, privacidade. Apenas os cinco jogadores que chegaram por empréstimo do São Paulo ficam num hotel (mas não no melhor da cidade). Os atletas do Atlético recebem em média mil reais por mês (só dois ganham mil e quinhentos). Mas, em compensação, o clube fornece as três refeições diárias. Numa das casas amarelas entrevistei um jogador veterano e outro em início de carreira (ver boxes). Depois fui com eles até o estádio. Zanata Para minha surpresa, o técnico era o ex-lateral-direito Zanata, ídolo do Bahia e com boas passagens por Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro. Eu sabia que o técnico do time chamava-se Zanata, mas pensei que se tratava de um homônimo, e não o sujeito que já foi minha figurinha. Depois que encerrou sua carreira como jogador, em 1993, Zanata passou a treinar categorias de base e há dois anos começou como técnico de times profissionais. Teve passagens elogiadas no Colo-Colo e no Fluminense de Feira de Santana. Como jogador, ele exibia uma vasta cabeleira loira. Agora, como técnico, está mais conservador: tem o cabelo castanho e um corte tradicional. O treino de Zanata começa com uma troca de bola entre jogadores. Depois temos um rápido coletivo, a fim de que os cinco jogadores que recém chegaram do São Paulo ganhem conjunto. Sobre este empréstimo, é bom fazer um parêntese. Ou melhor, um colchete [o Atlético não pagará nada pelos jogadores, mas terá que desembolsar o preço de inscrição (RS $ 1 mil) e mais o hotel dos rapazes (mais uns mil e pouco por mês). Parecem gastos pequenos, mas, para um time como o Atlético, é um investimento razoável. O empréstimo foi conseguido graças à amizade de um assessor (nascido em Alagoinhas) do Ministro dos Esportes com a diretoria tricolor]. Treino Quando começa o coletivo, os vinte torcedores presentes ao estádio (vários da Nação Carcará, a jovem e animada torcida do clube) começam a fazer piadas. Por exemplo, quando o massagista Bina entra em campo, gritam: "Bina, estou com saudade de sua massagem!". Chamam os jogadores pelo nome e estes acenam de volta. Um bom clima, apesar de o time vir de duas derrotas. O primeiro gol do treino é marcado por Elzon. O meia canhoto cobrou uma falta no ângulo. Seu jeito de chutar lembra Alex, ex-Cruzeiro e Palmeiras. Aproveito para conversar com o diretor de marketing, Duda do Churro. Ele tem duas barracas de churros na cidade (nos sabores goiabada, chocolate, doce de leite, ameixa e queijo) e ainda trabalha na Schincariol. Aliás, nesse domingo não poderá ver o jogo, pois seu turno começa às 15h45. Duda diz que o clube teve em média de 4 mil torcedores por jogo no Baiano (3% da população da cidade). O gasto mensal está por volta dos 50 mil. O Atlético não tem ajuda monetária da prefeitura. Sobrevive graças ao patrocínio (4 que, somados, chegam a 16 mil) e à renda dos jogos. O time não possui grandes dívidas e nem sobras de caixa. Mas há dois anos era pior. "Se viesse alguém de fora fazer um teste, não tinha nem meião. Agora, olha só." Olho e vejo todos os jogadores com vistosos uniformes laranjas. O treino acaba. Mas a parte mais surpreendente da noite ainda estava por vir: uma reunião entre o presidente do clube e a Nação Carcará. Pensei que o encontro havia sido convocado pela torcida, chateada com as duas últimas derrotas. Mas não. Foi o próprio presidente Raimundo Queiróz, 39, quem pediu o encontro. A idéia era elogiar os torcedores e dizer que ele também não se conformava com as duas derrotas, tanto que tinha dispensado oito jogadores. Queiróz, que tem duas bombonieres na cidade e é Coordenador de Esportes na Prefeitura, ainda deu outra notícia: não concorrerá à reeleição. Os torcedores protestaram, mas Queiróz manteve a posição. Depois, os torcedores ficaram falando em como evitar brigas nos próximos jogos, que deveriam inibir provocações pela internet, receber bem a torcida adversária, etc... Na volta para o hotel, fiquei pensando no que tinha visto: um clube com contas em dia, um presidente que não quer ficar para sempre no cargo e uma torcida pensando em não brigar. Realmente, a Série C tem coisas bem diferentes da Série A. |
percorridos desde São Paulo
de gasolina gastos no seu possante
mordidas em refeições e lanches
Lar, doce lar
Os quilos que ganhei