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Aidar enviou mensagem que irritou Osorio, que diz: "Levarei para sempre"

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

08/10/2015 13h00

Foi do presidente Carlos Miguel Aidar a mensagem que fez Juan Carlos Osorio pensar em pedir demissão do São Paulo ainda no fim de agosto. Tanto aliados como opositores de Aidar confirmam, com diferentes justificativas. Questionado pelo UOL Esporte na última terça-feira se a mensagem foi de autoria do presidente, Osorio não negou nem confirmou, e disse que guardará o segredo para sempre.

"Levarei essa mensagem para sempre comigo", disse Osorio, em troca de mensagens com a reportagem.

A fatídica mensagem foi enviada por aplicativo de celular após a derrota para o Ceará, no Morumbi, por 2 a 1, pela Copa do Brasil. Segundo ex-dirigentes do São Paulo e pessoas próximas a Osorio, Aidar encaminhou ao treinador uma mensagem que recebera de um conselheiro, que continha críticas ao método de rodízio do elenco e improvisações de jogadores fora de suas posições de origem. O presidente, segundo o relato, referendou que pensava o mesmo.

Aliados de Aidar confirmam que a mensagem foi enviada por ele, mas discordam do tom. Dizem que o presidente não encaminhou nenhuma mensagem, que tudo foi de autoria própria, e defendem que Aidar tinha o direito, como chefe, de cobrar Osorio depois da derrota na Copa do Brasil. A autoria da mensagem foi também publicada pelo Blog do Juca Kfouri, nesta quinta-feira.

A mensagem, porém, quase causou um pedido de demissão. Três dias depois da partida, Osorio e o São Paulo foram ao Maracanã, no Rio de Janeiro, e perderam por 2 a 1 para o Flamengo. Na viagem, segundo relatam dirigentes que acompanharam a delegação, Osorio se recusou a falar com Aidar, depois de ter tomado como ofensa a mensagem recebida. Após a derrota, o técnico falou pela primeira vez sobre pedir demissão: "Recebi uma mensagem de um diretor após a partida e fiquei muito surpreso. Então vou sentar e ver o que é melhor".

Na segunda-feira seguinte, Osorio se reuniu com Ataíde Gil Guerreiro e falou sobre sair do São Paulo. Revelou ao ex-vice de futebol - e só ao ex-vice de futebol - o autor da mensagem que o chateou. Osorio se sentiu sem respaldo, mas foi convencido a ficar.

Em seu pronunciamento de despedida, um mês e meio depois, na última quarta-feira, agradeceu a todos os funcionários do clube, até ao "senhor que corta a grama do CT", mas o único dirigente que citou foi Ataíde Gil Guerreiro, de quem disse ter recebido "apoio incondicional, do início ao fim". Não citou o nome de Carlos Miguel Aidar.

O São Paulo atualmente vive enorme crise de gestão. O episódio da briga entre Aidar e Ataíde Gil Guerreiro na última segunda-feira causou a exoneração do vice de futebol e iniciou processo de dissolvência da diretoria. Alguns vice-presidentes e diretores entregaram cargos, outros renunciaram e motivaram o presidente a convocar demissão coletiva, em massa. Desde a noite de terça-feira todas as vice-presidências e diretorias do São Paulo estão vazias, e o clube é comandado apenas pelo CEO Paulo Ricardo de Oliveira.

Aidar tenta reconstruir a nova diretoria, mas encontra dificuldade. Na quarta-feira, a seu serviço, os conselheiros Ives Gandra e Antonio Claudio Mariz conversaram os ex-presidentes do clube e os convidaram a participar ou indicar nomes para a nova cúpula. Não obtiveram apoio. Nesta quinta-feira, há programação para que o próprio Aidar se reúna com os ex-presidentes.

Diferentes grupos agora na oposição articulam para que conselheiros que sejam convidados por Aidar para ocupar cargos não aceitem os convites. A estratégia é impedir a composição da diretoria para isolar Aidar e causar a renúncia. Importantes dirigentes que entregaram os cargos na última terça-feira já avisam que não voltarão à diretoria se convidados.