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24/03/2012 - 06h00

Justiça suíça adia decisão sobre possível caso de corrupção envolvendo Teixeira e Havelange

Roberto Pereira de Souza
Do UOL, em São Paulo

Ricardo Teixeira e seu ex-sogro João Havelange (internado no Rio de Janeiro com um quadro infeccioso grave) parecem ter conseguido uma vitória parcial na corte federal suíça, em Lausane, que investiga o suborno recebido por oficiais da Fifa, entre 1974 e 2000. A divulgação dos nomes da pessoas envolvidas em atos de corrupção - codificados por B2 e B3 - foi adiada para o final das investigações, que devem acontecer em alguns meses.

A corte Federal de Lausanne disse que não liberará os documentos da investigação até que o processo transite em julgado ou que se esgotem as chances de recursos por parte dos envolvidos. A ação não será trancada por habeas corpus.

No Brasil, Teixeira é um vitorioso judicial, conseguindo bloquear todas as investigações criminais feitas contra ele. O nome do ex-presidente da CBF aparece 16 vezes nos arquivos do Tribunal Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo). Mesmo assim, todos os pedidos de trancamento de investigação por lavagem de dinheiro foram aceitos pelo tribunal, na forma de habeas corpus (desde a CPI do Futebol). A inocência de Teixeira, para alguns juízes, é presumida de maneira incontestável.

Agora, O TRF2 está sob inspeção da corregedoria federal, desde o dia 18.

 Um relatório técnico deverá ser concluído na primeira semana de abril e assinado por um desembargador do Conselho Federal, responsável pelo trabalho.

Em sentido oposto, a corte federal suíça vive outro momento jurídico. Os desembargadores não interromperam as investigações contra os cartolas da Fifa envolvidos em suborno, mas concederam uma liminar para suspender apenas a divulgação dos nomes dos suspeitos codificados como B2 e B3, até que o caso seja encerrado, nos próximos meses.

O jornalista inglês Andrew Jennings, da BBC de Londres, afirma categoricamente que desvendou o mistério dos códigos B2 e B3. “Eles correspondem a João Havelange e a Ricardo Teixeira”, confirma Jennings.

Na última sexta-feira, as agências internacionais reproduziram o comunicado da justiça suíça e os nomes dos brasileiros correspondentes aos códigos B2 e B3.

Ao jornalista suíço Francois Tanda, os advogados de B2 e B3 disseram que seus clientes podem “ter a reputação destruída para sempre, caso seus nomes sejam divulgados pela Justiça”. Mais que isso, os advogados dizem que “os clientes correm risco de ser sequestrados ou mesmo assaltados em plena rua se seus nomes forem conhecidos”.

O argumento de “risco de sequestro e latrocínio em plena rua” sugere que os dois corruptos são mesmo sul-americanos e muito provavelmente brasileiros. Fora Colômbia, México e países da América Central, o Brasil é o país onde é registrado o maior número de sequestros e roubos a mão armada (assalto).

Esse argumento usado pelos advogados também é bastante comum em cortes brasileiras, quando se pede sigilo de justiça para proteger suspeitos de crimes de colarinho branco e lavagem de dinheiro: o sigilo é pedido para “proteger a reputação dos suspeitos”, disse um advogado ao UOL Esporte.

Pelas informações disponíveis, B2 e B3 aceitaram devolver parte do dinheiro recebido em propina, cerca de US$ 9 milhões ou 6,1 milhões de francos suíços, em 2011. O acordo foi feito para que os nomes dos envolvidos não fossem divulgados. Tudo isso aconteceu há menos de um ano.

De lá para cá, o mundo "quase acabou" para Ricardo Teixeira: o dirigente conseguiu extinguir uma investigação criminal pedida pelo MPF do Rio de Janeiro, por lavagem de dinheiro, operação em que seu irmão Guilherme Teixeira e a empresa Sanud surgem como possíveis escudos.

Pressionado do Planalto Central ao Pão de Açúcar, Teixeira pediu licença médica e se afastou da CBF, temporariamente. Três dias depois, ele decidiu renunciar à presidência da entidade e deixou o paulista José Maria Marin em seu lugar.

Teixeira abandonou também o Comitê Organizador Local da Copa 2014 e sua cadeira executiva na Fifa. Seu assento na Suíça será ocupado por Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol.

A pressão também é grande sobre João Havelange. Além de ser visto como possível B2 na investigação suíça, o ex-dirigente do futebol  mundial enfrentou apuração interna no Comitê Olímpico Internacional no último trimestre de 2011. Para evitar sua expulsão do órgão, Havelange também se demitiu do cargo executivo do COI.

No último domingo, Havelange foi internado com um grave foco infeccioso no tornozelo direito e vive os últimos seis dias na UTI do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.

Uma leitura rápida nos documentos apreendidos pelos investigadores suíços revela nomes de empresas usadas para o recebimento das propinas. Nomes escritos em português ou invertidos, como Sanud (Dunas, na ordem inversa).

O dinheiro saiu dos cofres da International Sports Leisure, empresa montada pela Adidas e pela empresa japonesa Dentsu, segundo investigações da Justiça. A ISL comercializava os direitos de televisão para a Fifa. O homem da mala era Jean Marie Webber. Ele contou tudo aos juízes suíços e como usou empresas para ocultar os nomes dos cartolas do futebol mundial.

ALGUMAS EMPRESAS ENVOLVIDAS EM SUBORNO, SEGUNDO JUSTIÇA SUÍÇA

Garantie JH

Sanud

US$ 1,5 milhão

US$ 8,5 mihões

      03/03/1997

de 16/02/93 a 28/11/97

Beleza US$ 1,5 milhão de 27/03/91 a 01/11/91
Ovada US$ 820 mil 22/01/1992
Wando US$ 1,8 mihão de 06/07/89 a 22/01/93
Sicuretta US$ 42,4 mihões de 25/09/89 a 24/03/99

A lista apresenta dezenas de empresas e algumas devem esconder operadores brasileiros como, por exemplo, "Garantie JH", "Sanud", "Beleza", "Wando", "Ovada", "Sicuretta", entre outras.

Segundo a justiça suíça, cerca de US$ 150 milhões foram usados para subornar dirigentes da Fifa na compra de direitos de transmissão de várias Copas do Mundo entre 1974 e 1998, tempo em que Havelange mandou na entidade e Joseph Blatter era seu secretário-geral.

Para limpar a imagem de ser uma entidade corrupta, Blatter contratou Mark Pieth, um acadêmico que costumava trabalhar para Organização das Nações Unidas. Ele foi chamado para aplicar tardiamente os conceitos de transparência aos comandados de Blatter.

Perguntado sobre a liminar concedida pelo Tribunal Federal de Lausanne em favor de B2 e B3, Pieth ficou entre constrangido e resignado. “O tribunal poderia agilizar um pouco mais a análise do processo de suborno da Fifa e divulgar tudo de uma única vez. Até lá, temos de esperar”, disse o acadêmico.

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