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Junior Cigano, enfrenta o campeão Cain Velásquez neste sábado, em San Jose (EUA)

Junior Cigano, enfrenta o campeão Cain Velásquez neste sábado, em San Jose (EUA)

07/11/2011 - 07h00

Cigano foge do rótulo de celebridade em luta da vida e quer nocaute: '5 rounds é chato'

Maurício Dehò
Em São Paulo

Há seis anos, Júnior dos Santos nem mesmo era lutador. Catarinense de Caçador, ele só passou a viver das brigas quando se mudou para Salvador. Foi na Bahia que ele conheceu o jiu-jítsu, sua porta de entrada para o MMA. A jornada foi curta e meteórica: 13 vitórias e uma derrota depois, ele ganha, neste sábado, a chance de ser o campeão dos pesos pesados do UFC. Celebridade tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, foi até estrela de reality show. Mas não se engane: Cigano recusa o rótulo e, para chegar ao topo, quer repetir sua característica mais marcante, o nocaute.

Cria do ex-técnico de Acelino Freitas, o Popó, e marcado por sua força no boxe, Cigano encara Cain Velásquez, na primeira defesa do norte-americano. O evento é histórico para o Ultimate, que estreia nos grandes canais de TV aberta. Nos EUA, o evento passará na FOX. No Brasil, na Rede Globo.

Cigano se cercou de nomes fortes em sua preparação. Estão ao seu lado, por exemplo, Minotauro e Fábio Maldonado. O catarinense se diz preparado para o que tiver pela frente contra o campeão, mas não esconde que tentará usar a força dos punhos pelo cinturão. Com bom-humor e o jeito humilde que seus amigos e colegas garantem que ele não abandonou, ele explica o desejo: “lutas de cinco rounds ficam muito chatas para os pesos pesados”. Confira abaixo a entrevista com o desafiante ao título:

Júnior Cigano
Júnior Cigano

UOL Esporte - Você chega ao seu momento mais importante com um status de celebridade dentro do Brasil, por suas vitórias, e nos EUA, por ter sido técnico do reality show "The Ultimate Fighter". Como você encarou essas mudanças?
Cigano:
  Pois é, hoje em dia eu sou conhecido em muitos lugares.  As pessoas me param na rua, em restaurante, em shopping. Pra falar a verdade, eu gosto disso. Gosto de sentir o apoio dos fãs.  E isso me faz lembrar onde já consegui chegar, me faz sentir orgulho do que já conquistei.  Mas eu não me considero celebridade, e sim um lutador. O meu foco é treinar, vencer lutas, e quero que continue assim.

Você trabalhou para evitar que isso pudesse prejudicar a preparação desta luta?
Eu estou na reta final antes da luta, e por isso realmente evito outros compromissos; querendo ou não, eles tiram o nosso foco. Nessa reta final a gente fica muito ansioso, querendo que o dia chegue logo, e eu prefiro manter o meu foco. Acho que o momento de bater papo com o mundo é outro, entende?  Mas eu não tenho preocupação que essas coisas possam trazer prejuízo para a luta.

Catarinense já vendeu picolé e trabalhou de garçom antes de começar no MMA

  • Como muitos lutadores, a vida de Cigano não foi das mais fáceis. Nascido em Caçador (SC), ele vendeu picóles e entregou jornais para ajudar nas despesas da mãe. Mais velho, aos 18 anos, resolveu deixar a cidade natal e foi para Salvador, Na capital baiana ele foi garçom e teve uma loja de brinquedos com a mulher, mas conheceu o jiu-jítsu e acabou se jogando de cabeça no mundo das lutas. Yuri Carlton foi seu mestre e a indicação que mudou sua vida foi para trabalhar com Luis Dórea, ex-técnico de Popó. A dedicação de Cigano e o talento para os socos o levaram a virar um bom lutador de MMA, e a partir disso sua carreira decolou. O único tropeço foi em 2007, quando foi finalizado, mas no UFC o catarinense soma sete vitórias, contra nomes como Roy Nelson, Cro Cop, Fabrício Werdum e Napão.

Você venceu muito bem suas duas últimas lutas, mas foi cuidadoso e levou por pontos. Desta vez você espera acabar mais rápido, com nocaute?
A gente sempre espera ter uma luta decidida por nocaute, para não deixar margem para dúvidas.  Mas não podemos contar com isso.  Eu estou preparado fisicamente para lutar cinco rounds, da forma que for - em pé ou no chão.  Mas torço para vencê-lo antes, acho que para pesos pesados, lutas de cinco rounds ficam muito chatas.

Como foi a preparação para um duelo de cinco rounds, contra um adversário forte no wrestling?
Tenho trabalhado todas as modalidades de forma muito intensiva, além de treinar muito a parte cardiovascular.  Tive para a trocação e boxe meu professor, Luiz Carlos Dórea.  No muay thai, Billy Sheibe fez os preparativos finais, e no jiu-jítsu Yuri Carlton e Ramon Lemos.  E desta vez trouxe um americano do wrestling para o Brasil para passar esse ultimo mês comigo, o Josh Janousek. Além de tudo tenho o pessoal do Team Nogueira para fazer sparrings.

Falando do seu passado, você trocou Santa Catarina pela Bahia, foi garçom, vendeu brinquedos e só depois virou lutador. Ao chegar a esta luta pelo cinturão, qual o seu sentimento?
Meu maior sentimento é a gratidão a todos que me apoiaram.  Minha vida de lutador começou depois que saí de casa, então não houve aquelas coisas de mãe brigando, querendo impedir. Eu entrei muito por acaso no jiu-jítsu, e tudo aconteceu de uma forma muito rápida.  Na época, lembro de me sentir muito inseguro, de ter dúvidas se valia a pena ou não entrar a sério na coisa.  E naquela época foi a minha esposa, Vilsana, quem mais me apoiou e quem segurou as pontas.  Ela disse que se eu acreditava nisso, deveria fazer. 

Sua luta contra Velasquez já é um marco por valer o título para o Brasil. Um segundo marco é a chegada do UFC em TVs abertas nos EUA e no Brasil. Esta novidade aumentou a importância do combate?
Eu achei ótimo!  Acho que vai ajudar muito ao esporte essa audiência nova. Acho que a Globo mostrou um reconhecimento pelo nosso esporte que estava faltando, bem como a FOX fez nos EUA.  O preconceito contra o MMA existiu e existe.  Mas acho que a profissionalização do MMA foi uma ótima coisa, inclusive ajudou a cortar aquela historia de “pitboys” brigando na rua.  Atleta de MMA não briga na rua; isso é coisa de moleque.  Atleta luta, não briga.

Até onde você acha que o MMA pode chegar com o investimento da TV aberta?
Acredito que o MMA é um esporte que pode ser compartilhado e apreciado mundialmente; não é um esporte com divisão cultural - todas as culturas gostam de lutas.  Com isso, acho que pode ser muito grande sim.  Eu acho difícil vir a ser maior que o futebol, mas não descarto essa possibilidade.

Você é um cara bastante jovem. Se for campeão, o fará com 27 anos. O que mais é possível sonhar dentro do UFC? Que tipo de desafios vê pela frente? A esperada luta com Brock Lesnar, talvez?
Eu quero ser o campeão, e quero defender o meu título muitas vezes e por muito tempo.  Acho que os novos desafios virão, com certeza o nível dos atletas cresce cada vez mais.  O esporte em si cresce, não tem como prever aonde vai chegar.  Mas a minha meta vai ser a mesma: quero me tornar, e permanecer, o campeão. Quanto a próximos rivais, não penso nem um pouco nisso.  Agora, só penso em vencer Cain Velásquez.

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