Com vaia fajuta, África do Sul explica idolatria a único branco da seleção

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O "OBINA" DA ÁFRICA DO SUL
Reuters
Matthew Booth (ao lado do goleiro) é o único titular branco da África do Sul
EFE
Pode soar como vaia, mas a torcida grita o nome do jogador quando ele toca na bola
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Com 1,98 m, Booth é um jogador folclórico, como um Obina para a torcida sul-africana
"HIT", JOEL DESDENHA DE CRÍTICAS
MAIS DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES
Quem gosta de esporte na África do Sul tem a noção clara de que a população negra gosta de futebol, e a comunidade branca segue rúgbi e críquete. Esse é um retrato de um país que ainda experimenta cotidianamente barreiras raciais, mesmo depois de duas décadas de extinção do Apartheid, regime oficial que negava cidadania aos negros. É nesse cenário complexo que a idolatria por um jogador da seleção conhecida como Bafana Bafana ajuda a intimidar o preconceito e a estimular alguma interação.

Único branco titular na seleção comandada pelo brasileiro Joel Santana, o zagueiro Matthew Booth é uma das exceções de sua raça num esporte dominado pelos negros no país (o outro branco do elenco é o goleiro reserva Rowen Fernandez). O jogador de 32 anos é um ídolo local, independente de origem do torcedor e também a despeito das 'vaias' que recebe nos jogos da África do Sul.

Na Copa das Confederações, toda vez que Booth pega na bola, o estádio vem abaixo no que parece ser uma ensurdecedora vaia combinada da maioria negra nas arquibancadas contra o branco do time. A sensação de 'agressão' soa nítida para o visitante estrangeiro que acompanha o torneio. No entanto, essa é apenas uma impressão de preconceito equivocada, como explicam os sul-africanos.

Na verdade, o fã sul-africano de futebol grita o sobrenome do zagueiro, que se assemelha com a onomatopéia de vaia em inglês. Booth é um ídolo folclórico, uma espécie de Obina do país. O número 14 da seleção é um defensor grandalhão de 1,98 m, com técnica bem limitada, mas muito aguerrido e adorado pela torcida. Nesta semana, a Fifa entrevistou o jogador em seu website oficial e se referiu a ele como um "herói cult".

"Não existe preconceito. Gritamos o sobrenome dele. Era o mesmo que fazíamos com o Mark Fish, outro jogador branco. Gritávamos: 'Fiiiiiish!'", endossa didaticamente Tumi Mothobi, fã de futebol da cidade de Bloemfontein.

Booth estava no jogo entre Brasil x África do Sul nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, na histórica vitória do time sub-23 dos Bafana Bafana por 3 a 1, em 17 de setembro daquele ano, em confronto na primeira fase.

"É muito respeitado. Inclusive, ele é casado com uma modelo negra conhecida (Sonia Bonneventia, ex-participante do concurso miss África do Sul). A torcida sul-africana respeita ele, principalmente por estar na vitória sobre o Brasil nas Olimpíadas", diz Yusuf Muhammad, jornalista local da agência Back Page Media.

"Outros brancos já estiveram na seleção sul-africana e foram muito respeitados. Tivemos até brancos capitães do time, como Mark Fish (campeão da Copa Africana de Nações em 1996). Não existe racismo no futebol sul-africano. É o único esporte do país em que todos podem estar unidos nas arquibancadas. Não é como críquete e rúgbi", adiciona o jornalista especializado em futebol.

Apesar de adorado pela torcida, Booth teve convocação para a Copa das Confederações criticada por parte da mídia local, que o rotula como um defensor lento. A preferência era por Nasief Morris, do Recreativo Huelva da Espanha. No entanto, Joel Santana optou pelo grandalhão atleta do Mamelodi Sundowns por considerá-lo um reforço para o frágil jogo aéreo de sua seleção.

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