Filho de Lombardi, do Sílvio Santos, vira exemplo de técnico linha-dura na várzea

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • UOL/Folhapress e divulgação

    Lombardi, o locutor, Silvio Santos e Lombardinho, o treinador

    Lombardi, o locutor, Silvio Santos e Lombardinho, o treinador

Luiz Fernando Lombardi é um dos nomes mais conhecidos do futebol de várzea paulista, mas não apenas pelo sobrenome. Filho do ex-locutor de Sílvio Santos, Lombardinho tem no currículo passagem pelo futebol profissional, uma final da Copa Kaiser e a fama de ser um dos treinadores mais linha-dura dos terrões de São Paulo. Até cartilha de comportamento o treinador adotou.

PAI NÃO GOSTAVA DE VER JOGOS, MAS ASSISTIU À FINAL DE 2009

Folhapress

A relação de Lombardinho com o pai, que morreu em 2009, era próxima. O locutor Luiz Lombardi sempre apoiou a carreira paralela do filho e inclusive foi um dos responsáveis pelo contato com Felipão. O detalhe é que ele não costumava assistir aos jogos do filho.

"Ele não gostava de ver. Ficou um pouco assustado com as histórias de brigas que eu contava", lembra Lombardinho. Um jogo, porém, o pai assistiu: em 2009, Lombardi foi até o campo do Nacional, na Barra Funda, para assistir à final do Ajax contra o Vida Loka, da Vila Brasilândia.

"Naquele dia, ele saiu do SBT, foi até o Nacional, assistiu a 15 minutos do jogo. Ele não falou nada. Quem me contou foi o motorista. Poucos dias depois, ele morreu. Eu já estava arrasado pela derrota na final. Foi um período muito difícil", lembra o treinador.

"Temos um guia de conduta para os atletas. Exigimos comprometimento do time. E quem não cumpre com o que foi combinado é multado. Por mais que seja lazer e você faça por amor, temos que ter seriedade. O futebol não aceita desaforo", discursa.

CONHEÇA A CARTILHA DE LOMBARDINHO

  • Milton Flores/Renato Cordeiro/Copa Kaiser

    A cartilha de Lombardinho é uma das mais severas do futebol amador paulista. Cada jogador recebeu o material impresso, com uma série de recomendações e avisos. Para o UOL Esporte, porém, o técnico não mandou o texto completo. "Tem algumas coisas particulares, que não podem ser divulgadas. Ou todos vão copiar", explica. O treinador, porém, dividiu alguns pontos com a reportagem:

    - Todo jogador precisa se apresentar na concentração uniformizado com o Kit Atleta que recebe do clube. Quem não estiver devidamente uniformizado recebe multa em dinheiro (que pode ser debitado do bicho que cada atleta recebe após os jogos);

    - Horário: todo jogador deve se apresentar pontualmente ao local de encontro para apresentação nos dias de jogo ou treino. Quem não cumprir com o horário é multado em R$ 1,00 por minuto de atraso;

    - Todo ato de indisciplina é punido.

    Para finalizar, e evitar que a cartilha tenha apenas avisos e multas, Lombardinho também incluiu algumas frases de motivação. "Uso algumas frases de livros, como o do Bernardinho, e coisas que ouvi do Felipão".

O tom austero, quase ranzinza, ao falar sobre o pulso firme no comando do time tem origem no pai famoso. Mas se engana quem pensa que Lombardi era duro com o filho: foi o locutor famoso que conseguiu um estágio para o filho no Palmeiras, no fim dos anos 90, quando Luiz Felipe Scolari era o comandante alviverde.

"Não foi exatamente um estágio. Na época, o [diretor de futebol Sebastião] Lapola, amigo do meu pai, pediu ao Felipão para que eu conhecesse o funcionamento do clube. Não foi exatamente um estágio, mas permitiram que eu acompanhasse o time em algumas ocasiões", conta.

Após esse período, Lombardinho criou um estilo próprio, muito similar ao de Felipão. Prova disso é a cartilha, que prevê multas para quem se atrasa ou falta a treinos ou jogos. O estilo gera polêmica no universo do futebol amador. O UOL Esporte ouviu elogios ao profissionalismo do treinador, mas também críticas por ações disciplinares contra jogadores-chaves, mas indisciplinados.

"O pessoal não está muito acostumado com isso. Acham que, por ser várzea, pode ser no vamos que vamos. Mas eu tenho um grupo de trabalho muito seleto. Escolho a dedo os jogadores que vem para o meu time. Quem não se encaixa, não joga. O respeito é importante porque o clube tem gastos, por mais que não seja CLT. Temos de encarar de forma profissional. Eu montei a cartilha com o que aprendi com o Felipão e com a experiência de jornalismo esportivo. Ao longo do tempo, fomos agregando algumas coisas", defende-se.

Os resultados, porém, mantém Lombardinho em alta no mercado da bola da várzea. Ele começou a carreira como técnico trabalhando com veteranos no futebol society de Santo André. Com os títulos, passou a chamar atenção de times amadores de futebol de campo. Em 2009, treinou o Ajax da Vila Rica, vice-campeão da Copa Kaiser. Em 2011, passou pelo futebol profissional: comandou, por quatro meses, o Palestra, de São Bernardo. Teve de deixar o time porque não conseguiu conciliar o trabalho de radialista com a dura rotina de treinos e jogos.

Hoje, é técnico do Adega, time considerado um dos favoritos para o título da Kaiser de 2012. E já viveu uma situação inusitada: após tropeço na primeira rodada, um empate em 1 a 1 com o Escadão, quase deixou o time.

"Depois da primeira partida, eu pedi para sair do clube. Mas não aceitaram. A diretoria me ligou durante a semana inteira. Quando o grupo de jogadores também pediu para que eu continuasse, repensei a situação. Tomei uma atitude por algo que aconteceu e que não quero tornar público, mas colocamos os pingos nos is". O resultado? No segundo jogo do Adega, vitória por 2 a 0 sobre o Santos, do Jardim das Oliveiras, e vaga praticamente garantida na segunda fase.

Copa Kaiser de futebol amador
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