Hoje na várzea, jogador deixou o Anzhi, de Roberto Carlos, após ser chamado de macaco

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Renato Cordeiro/UOL Esporte

    Robson mostra fotos de times em que jogou: nada sobrou da passagem pela Rússia

    Robson mostra fotos de times em que jogou: nada sobrou da passagem pela Rússia

Aos 35 anos, Róbson é conhecido na várzea de São Paulo. Meia-atacante rápido e habilidoso, foi semifinalista das últimas duas edições da Copa Kaiser, pelo Adega, e hoje joga no Carrão, que luta contra o rebaixamento na edição 2012 do torneio. A alegria que o jogador exibe nos campos de terra de São Paulo, porém, escondem uma história de preconceito vivida na Rússia.

O jogador passou pelo Anzhy  Makhachkala, mesmo time que tem hoje o lateral-esquerdo Roberto Carlos, em 2003. A passagem aconteceu antes da venda do time para o magnata Suleyman Kerimov e a consequente entrada na lista de novos ricos do futebol mundial – além de Roberto Carlos, a equipe contratou o atacante camaronês Samuel Eto'o a preço de ouro.

Quando Róbson defendeu o clube, o Anzhi tinha acabado de ser rebaixado da Premier League para a Primeira Divisão do futebol russo – que, na prática, era a Segundona. Com pouco investimento, apostou em estrangeiros. Robson chegou nessa época. O elenco já tinha outro brasileiro, William Oliveira, que tinha chegado um ano antes. Mesmo assim, a situação que encontrou na equipe foi das pioores: ele foi um dos primeiros negros a vestir a camisa do clube e sentiu o preconceito.

"Não foi uma passagem nada boa. Sempre que eu entrava em campo, os torcedores faziam gestos de macaco nas arquibancadas. Até os companheiros de time me tratavam de maneira diferente. Eu não entendia nada o que eles falavam nos treinos, mas o outro brasileiro do time, o William, entendia. Quando o treino terminava, ele me contava o que tinha sido falado. Eles também me ofendiam. Aguentei a situação por um ano. Não cheguei a reclamar, mas no meio da segunda temporada pedi para rescindir o contrato. Não dava mais", lembra o meia.

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    A cena da agressão ao congolês Christopher Samba: Roberto Carlos passou por caso idêntico

Enfrentando oposição interna e dificuldades de adaptação ao clima, a passagem de Robson pelo Daguestão foi ruim. Segundo o site oficial do Anzhi (que o chama de Robson Paolo, não Paulo), ele defendeu o clube em apenas cinco partidas, quatro pela Primeira Divisão e uma pelas oitavas de final da Copa da Rússia. Não marcou gols e somou um cartão amarelo. "Além do preconceito, a dificuldade com o frio foi muito grande. Para você ter ideia, desembarquei em Moscou só com camisa, sem jaqueta, nada. Fiquei esperando morrendo de frio até a bagagem ser liberada".

Histórias como a de Róbson são frequentes no futebol russo. Roberto Carlos, apesar do status de estrela, já sofreu na pela a intolerância das arquibancadas: em uma partida contra o Krylia Sovetov, o lateral saia de campo com a bola do jogo e um torcedor atirou uma banana em sua direção. Roberto Carlos, então, atirou a fruta de volta para a arquibancada, jogou a braçadeira de capitão de sua equipe no chão e reclamou com o juiz da partida.

Em março, um episódio idêntico voltou a envolver o Anzhi: enquanto saia de campo, o zagueiro congolês Christopher Samba foi atingido por uma banana na saída do jogo contra o Lokomotiv de Moscou. "O ato racista, como qualquer outro comportamento agressivo, deve ser erradicado porque não tem lugar na vida cotidiana ou nos estádios", reclamou Roberto Carlos, hoje dirigente do Anzhi, após a nova agressão.

ROBSON FOI TREINADO POR MURICY E JOGOU COM JORGINHO, TÉCNICO DA LUSA

Apesar do fracasso em seu único contrato profissional no exterior, a carreira de Robson dentro do Brasil foi sólida. Antes da Rússia, passou 12 anos no Juventus, entre categorias de base e o profissional. Em 1997, foi vice-campeão da Série C. "Até hoje, é minha principal conquista, por ser no time em que comecei no futebol". A saída do time da Mooca aconteceu 98, com o fim de seu contrato.

O meia passou, então, a rodar pelo Brasil. Entre 2001 e 2002, jogou no Náutico, quando foi treinado por Muricy Ramalho. Foi bem e chegou à Rússia. Ao voltar da experiência traumática, passou por Avaí e Ceará, times pelo qual disputou duas Copas do Brasil.

"Joguei com muita gente importante. O Muricy foi o técnico mais famoso com quem trabalhei, mas também fui treinado pelo José Carlos Serrão e pelo Vagner Benazzi. Entre os jogadores, peguei o fim da carreira do Fabinho, ponta do Corinthians, e do Jorginho, técnico da Portuguesa. Com o Jorginho, joguei no Santo André, ao lado do Vágner, aquele goleiro do Botafogo, e com o Índio, do Corinthians, campeão mundial".

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