Após estrear para três mil pessoas, Gilmar Fubá deixa "Corinthians da várzea" pelo showbol

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Renato Cordeiro/UOL

    Gilmar em lance da primeira fase da Copa Kaiser: volante foi destaque quando jogou

    Gilmar em lance da primeira fase da Copa Kaiser: volante foi destaque quando jogou

O showbol venceu o futebol de várzea. E o principal torneio amador da cidade de São Paulo perdeu uma de suas figuras mais carismáticas. Campeão do mundo pelo Corinthians, o volante Gilmar Fubá teve de abrir mão do Ajax, da Vila Rica, por conta dos compromissos que assumiu com a organização do eventos, que passa todo fim de semana na TV a cabo.

OS CAUSOS DE GILMAR FUBÁ

  • A BMW – Quando foi campeão com o Corinthians, Gimar recebeu um gordo prêmio. No mesmo dia, sacou tudo e foi a uma concessionária da BMW e, com dinheiro vivo, comprou o carrão. Ao chegar em casa, sua mãe reclamou que ele não tinha onde deixar o veículo, já que a casa não tinha garagem. "Eu disse para deixar ali na rua mesmo, mas a minha mãe ficou dormindo lá dentro. Eu falei 'Toma conta aí então'. Eu tinha que descansar direito para treinar. Mas a BMW é confortável!".

    No Qatar – Quando chegou no Al-Ahly, ele não sabia falar árabe. "Mas ficava quatro, cinco horas conversando com os árabes. O Osvaldo de Oliveira ficava doido comigo. No final, fui até o capitão do time, sem saber nada. Tinha um iraniano lá que aprendia fácil o português. Um dia, estava no DM e ele perguntou o que eu tinha, eu falei: 'migué'. Expliquei o que era migué para ele em português. E um dia ele estava deitado lá no DM, e chegou um fisioterapeuta brasileiro, que perguntou para o Osvaldo o que ele tinha: 'Esse aí tá de migué'. O iraniano levantou e começou a dizer: 'migué não!'".

    Evaristo de Macedo - Em uma partida contra a Inter de Limeira, ainda no Corinthians, ele ficou no banco de reservas. "O Evaristo jogou no Barcelona, no Real Madrid, então, para ele, ele é o melhor do mundo. E ele chegava lá e dizia: 'Olha esse Vampeta, como ele pode ser jogador de seleção? Olha esse Rincón, esse Gamarra, eles são muito ruins!'. A gente só ria no banco. Aí ele olhou para nós no banco e falou: 'Vocês estão rindo do quê? Vocês são reservas deles!'".

     

Fubá fez apenas quatro jogos pelo Ajax, chamado de Corinthians da várzea por conta de sua torcida, mas deixou a sua marca. Além da liderança sempre que jogava, mandava no meio-campo com sua força física e experiência – mesmo que o preparo físico não seja mais o mesmo dos tempos em que conquistou o Mundial da Fifa, em 2000. Além disso, ainda marcou um gol, fato raro em sua carreira.

"O meu calendário acabou ficando muito apertado. Quando aceitei jogar pelo Ajax, sabiam que a prioridade era o showbol. E já tinha o compromisso com o masters do Corinthians e ainda tem de lembrar dos eventos que me contratam aos fins de semana. O pessoal até reclamou que eu estava jogando na várzea e correndo muito atrás da molecada. Mas eu não podia falar não para o convite. Eu vim da várzea. Antes do Corinthians, jogava no 'Vem q Tem'. Foi lá que me descobriram, é minha raiz", explica o volante.

Enquanto esteve em campo, o lado folclórico esteve sempre presente. Quando era jogador profissional, Gilmar ficou famoso por causos, como o mamadeira de fubá que tomava quando criança ou do carro comprado com dinheiro do primeiro salário – e no qual mandou a mãe dormi dentro quando lembrou que não tinha garagem na casa em que morava. Na várzea, a mesma coisa aconteceu.

Um exemplo aconteceu em sua estreia. Contra o Paulista, na vitória de 3 a 0, o Ajax teve de entrar em campo em condições muito ruins. A chuva tinha castigado o campo durante a madrugada e, no lugar do terrão, o terreno de jogo estava um verdadeiro lamaçal. Quando saiu de campo, Fubá foi rápido ao brincar com a situação: "Hoje, quem ganhou foi o barro".

Esse jeito espontâneo e as tiradas engraçadas conquistaram o time. Tanto que os destaques do Ajax, como o atacante Uochinton Baraúna, lamenta a saída do volante. "É um grande jogador, dava tranquilidade para o time, por sua experiência. Ele não está com a gente, mas se quiser voltar, será bem vindo. E vai deixar a equipe ainda mais forte", fala o artilheiro do time, sete gols na Copa Kaiser em 2012.

Apesar do apelo, Gilmar acha difícil voltar à equipe. "É claro que gostaria de jogar, se eles chegassem na final, por exemplo. Mas é complicado ficar tanto tempo longe e, quando o time chega em uma fase decisiva, tirar o lugar de alguém que correu o campeonato inteiro. Por isso, se eles forem avançando, e o calendário permitir, vou estar lá para torcer, mesmo se não for para entrar em campo", avisa.

Até agora, as chances de Gilmar Fubá voltar a acompanhar as chances do time são grandes. O Ajax é um dos quatro times que já estão classificados para as quartas de final da competição e, neste domingo, encara a Turma do Baffô, atual vice-campeã da Copa Kaiser, apenas para garantir o primeiro lugar na chave – que tem, também, o atual campeão Classe A.

"Quando fizemos a primeira reunião no Ajax, eu falei que era pé-quente. Quando fui para o Qatar, o time não ganhava o título há 25 anos e ganhou. O Ajax também nunca ganhou a Kaiser, quem sabe chegou a hora de ganhar", prevê o volante, lembrando de sua passagem pelo Al-Ahli, que foi campeão nacional no Qatar na temporada 2005/2006, com ele em campo.

Copa Kaiser de futebol amador
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