Com Arsenal, Real, Benfica ou Napoli, várzea de São Paulo tem sua própria Liga dos Campeões
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Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

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    Balotelli de volta à Inter? Não, jogo do Inter do Jaraguá, da "Champions da várzea"

    Balotelli de volta à Inter? Não, jogo do Inter do Jaraguá, da "Champions da várzea"

A Liga dos Campeões começa nesta terça-feira na Europa. Mas quem está em São Paulo também pode acompanhar, do alambrado, craques defendendo Arsenal, Ajax, Lazio, Napoli, Inter...

Com uma série de equipe inspiradas nos famosos clubes europeus, o futebol de várzea oferece uma verdadeira "Champions League" dos terrões. Confira:

AJAX: BRANCO E VERMELHO NA HOLANDA, PRETO E AMARELO NO BRASIL
  • Milton Flores/UOL
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O nome do time holandês, na década de 70, era sinônimo de bom futebol. Com um verdadeiro esquadrão comandado por Cruyff e Neeskens, o Ajax foi tricampeão europeu de 71 a 73 e ainda foi a base da seleção holandesa na Copa do Mundo de 1974 – isso mesmo, a Laranja Mecânica. Sem esquecer de jogadores marcantes que passaram por lá, como Van Baasten e Rijkaard, nos anos 80, e Seedorf, Davids e Kluivert, nos anos 90.

Com tantos predicados, não é de se estranhar que o time é um dos preferidos da várzea paulistana. A Copa Kaiser, o maior torneio de futebol amador da cidade, é um exemplo disso. Duas versões do Ajax foram longe na edição desse ano, mas com um detalhe irônico: nenhum deles é vermelho e branco, como o original. Os dois têm uniformes preto e amarelo, mais para Peñarol, do Uruguai.

O da Vila Rica (foto ao lado) é o mais famoso. Foi criado em 1973, em homenagem ao time de Cruyff e Neeskens, e é chamado de "Corinthians da várzea" por sua torcida numerosa e empolgada – apesar de ter escolhido um escudo mais parecido com o do Santos. Em campo, o time está classificado para as quartas de final.

O do Jardim São Jorge (foto grande) é mais jovem e um pouco mais conservador. Se, na cor, ele imita o irmão da Zona Leste, pelo menos no escudo ele imitou o original e manteve os traços do deus grego Ajax, como o do clube de Amsterdã.

ARSENAL: O ESCUDO CONTROVERSO

Outro time muito lembrado vem da Inglaterra: o Arsenal. Apesar de não ter conquistado a Europa como o Ajax, o time londrino caiu nas graças dos brasileiros com o sucesso alcançado sob o comando do técnico francês Arsene Wenger. No cargo desde 1996, o time foi campeão inglês em 1998, 2002 e 2004 e ainda foi vice-campeão da Liga dos Campeões em 2005 (perdendo a final para o Barcelona de Ronaldinho).

"Quando fundamos o time, não tínhamos um nome, só uniforme. Era vermelho e branco, com o nome do América. Só que ninguém gostava desse nome e resolvemos fazer uma votação. Os dois nomes em votação eram Real, pelo Real Madrid, e Arsenal. Acabou dando Arsenal, que foi o nome que escolhi", lembra Diego Duarte, atual presidente do Arsenal do Jardim Brasília.

  • Milton Flores/UOL

O nome, então, estava escolhido, mas ainda faltavam as cores e o escudo: "Não queríamos copiar, poderiam falar que é embalo. E, aqui no Jardim Brasília, temos o Unidos, nosso rival, que é vermelho e branco. Então escolhemos o preto e o amarelo. E o escudo seria o mesmo da infantaria do exército, duas espingardas e uma granada", conta Diego.

O problema é que, quando entrou na Kaiser, esse símbolo foi considerado violento demais. "Acharam que era apologia ao crime e proibiram. Tivemos de mudar. Hoje, o escudo só tem letras. E os uniformes com o escudo velho virou coisa rara, de colecionador. Quem tem não tira de casa".

Já o Arsenal da Vila Iara, que disputou a série B da Kaiser em 2010, não teve esse problema. Sem vergonha em imitar o símbolo do primo inglês famoso, o time usa o escudo com o tradicional canhão do Arsenal até hoje – apesar de, atualmente, jogar de azul.

BENFICA: TIME DE PORTUGUESES ILHADO NA MARGINAL
  • Renato Cordeiro/UOL

Você pode não ter percebido, mas se mora na cidade de São Paulo, certamente já passou ao lado de um dos clubes da Liga dos Campeões da várzea. O Benfica da Vila Maria é um dos clubes de futebol amador que estão ilhados no meio da Marginal Tietê, na Zona Norte de São Paulo.

O clube, fundado por imigrantes portugueses em 1938, fica na ilha central da Marginal, entre as pistas expressa e central – e já revelou ao menos um nome para o futebol brasileiro. O zagueiro David Braz, ex-Palmeiras e Flamengo, hoje no Santos, passou pelas categorias de base da equipe antes.

DÍNAMO DE SANTANA: ENTRE REAL MADRID E BENFICA, DYNAMO DE KIEV GANHOU

Quem olha o símbolo do Dínamo de Santana pode fazer várias apostas, menos que o time que inspirou o nome veio da capital da Ucrânia. Fundado em 1957, o clube originalmente se chamada Chohfi Futebol Clube, já que era formado por funcionário de uma tecelagem com o mesmo nome. O nome atual só apareceu no ano seguinte, em uma eleição com três concorrentes: Real Madrid, Benfica e Dynamo de Kiev. O escolhido foi o time ucraniano, um dos mais fortes times soviéticos da época.

ESTRELA VERMELHA: BELGRADO INSPIRA EX-TIME DE RICARDO OLIVEIRA
  • Milton Flores/UOL

Em 1966, o time da Vila Nivi se chamava Andorinha. A entrada na "Champions League" aconteceu quando o Estrela Vermelha de Belgrado foi campeão mundial, em 1991. "Foi ai que resolvemos mudar o time. Como homenagem", lembra Jorge Luiz, atual presidente.

Jorge, aliás, tem uma história curiosa: foi ele que descobriu o atacante Ricardo Oliveira, ex-Portuguesa, Santos e São Paulo. Ele disputou a Copa Kaiser pela equipe em 1999 e chegou à seleção brasileira em 2004. Hoje, após passar pelo futebol italiano e espanhol, está jogando em um time árabe.

INTER: NO JARAGUÁ, EXCESSO DE RIVAIS OBRIGA CAMISAS VERMELHAS E AMARELAS
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Com menos história, o Inter do Jaraguá, clube de dez anos que disputa a Série B da Kaiser, é uma homenagem ao Inter de Milão. O escudo é praticamente uma cópia da versão europeia e o uniforme principal, branco com detalhes em azul, é um dos mais bonitos que a reportagem do UOL Esporte já viu na várzea. O mesmo, porém, não pode ser dito do uniforme 2. Ele é vermelho e amarelo e não combina com o escudo, preto e azul marinho. "Nosso segundo uniforme também era parecido com o do Inter, azul e preto. O problema é que tem muito time que joga de branco ou azul. Quando fomos pedir o fardamento novo, pensamos que esse vermelho e amarelo poderia dar certo", conta o presidente Sérgio Bila.

LAZIO: TIME DO TATUAPÉ NASCE GRAÇAS A SORTEIO DE UNIFORMES
  • Bruno Doro/UOL

O caso da Lazio do Tatuapé também envolve uniformes. O time foi fundado em 2001 por Armando Pires Neto. "Na época, a Copa Kaiser sorteava uniformes, um por mês, e eu acabei ganhando dois. Resolvi ir atrás de um time. Na época, a Lazio estava em evidência. Tinha cinco ou seis argentinos. Não é que eu goste de argentinos, mas o Simeone era o capitão, era um grande jogador, assim como o Verón. E o uniforme era um dos mais bonitos do mundo. Copiei o uniforme e o escudo. Que é o mesmo, só usando o Futebol Clube. O italiano é Sociedade Esportiva". O time está bem na Série B e luta para subir para a elite da Copa Kaiser em 2013.

NAPOLI: ENTRE OS FAVORITOS PARA O TÍTULO DA VÁRZEA
  • Milton Flores/UOL

Outro que é uma cópia fiel de sua versão europeia é o Napoli. O time italiano contou com Maradona e Careca e foi um dos mais fortes da "Bota" na segunda metade da década de 80 e início dos anos 90. Atualmente, voltou a viver boa fase e é o atual campeão da Copa da Itália.

O mesmo acontece com o Napoli da Vila Industrial. Fundado em 1979, o time foi campeão da Copa Kaiser há dez anos e, desde então, não conseguia repetir a campanha. Em 2012, finalmente, o time da Zona Leste montou um elenco forte e é um dos favoritos para o título da Série A. Sempre mantendo o azul bebê no uniforme principal e o N no escudo.

REAL MADRID DA VÁRZEA SURGE DE TIME DE PORTEIROS

Time mais vitorioso da Europa, o Real Madrid não poderia deixar de aparecer na Champions League da várzea. Atualmente, o principal representante merengue é o Real Madri (sem o D) de Paraisópolis. O time tem dez anos e uma história interessante. Nasceu de amigos porteiros que montaram o time para se divertir aos domingos, dia em que todos estavam de folga. "O nome original seria Afogadense, porque a maioria dos amigos era de Afogados de Ingazeira, em Pernambuco, a cidade da Yane Marques, que ganhou medalha na Olimpíada (foi bronze no pentatlo moderno). Mas o pessoal achou muito pesado. E a favela tinha 36 times na época, não tinha sobrado mais nenhum nome, só Real Madris", explica o presidente (técnico e jogador) Jadeilson Ferreira Bezerra, o Peu Cowboy.

O time da capital espanhola também tem outros primos, em que a homenagem não é tão direta. O Real do Jardim Santo André tem, além do real no nome, a coroa em seu escudo. Quem também lembra da realeza é o Real Atlético, do Parque Santo Antônio. Já o Madrid, fundado em 1937, lembra a cidade, mas não o time.

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