A final nacional da Copa Kaiser, em Blumenau, acabou com um episódio lamentável. Durante a decisão do torneio, entre Botafogo de Pomerode e Ajax, de São Paulo, o atacante Thiaguinho, da equipe paulista, deixou a partida no meio do segundo tempo para registrar um boletim de ocorrência contra a torcida do time catarinense por racismo.

"Na sexta-feira, a gente já tinha sofrido preconceito. Falaram que há 15 anos aqui não entrava preto. E durante a partida, eles começaram a gritar que aqui não tinha jaula, que zoológico só em São Paulo, que a gente tinha de voltar para a nossa família. Na parada técnica, aconteceu uma discussão com os torcedores e o técnico acabou me tirando do jogo", afirmou Thiaguinho.

Ao deixar o campo, ele fez um boletim de ocorrência no batalhão local, incluindo o nome de pessoas que teriam cometido as ofensas racistas. "Fui orientado a ligar na segunda-feira para o batalhão aqui de Blumenau, para pedir que o B.O. seja enviado por e-mail e tomar as providências, com advogados, em São Paulo", explicou o atacante.

O jogo terminou empatado em 0 a 0 e, nos pênaltis, o Botafogo foi melhor. Venceu por 8 a 7, graças a uma defesa do goleiro Alexandre, que entrou no fim do segundo tempo especialmente para as cobranças.

A reportagem do UOL Esporte apurou que os problemas racistas começaram já na sexta-feira com outro time. Naquela noite, o Botafogo venceu o Pedreira, de Porto Alegre, por 2 a 1 pelas quartas de final. "No jogo de sexta-feira, a torcida ficou atrás do meu goleiro, o Jaderson, chamando de macaco. Isso não pode. É várzea, mas tem de haver respeito. E o pior é que é só com o time deles. Hoje, mais uma vez aconteceu, com o time de São Paulo. O garoto que era o melhor em campo do time deles ouviu a mesma coisa e ficou desequilibrado. Teve de sair", afirmou Thiago Lemos, dirigente do Pedreira, em declaração por telefone.

Marcelinho, dirigente do Ajax, também revelou que o time já tinha sofrido na sexta com os torcedores. "Nós fomos acompanhar as partidas de sexta-feira e já falaram coisas que não deviam. Disseram que há alguns anos escravo não entrava em alguns lugares. Agora chamaram o Thiaguinho de macaco. Isso é inaceitável", reclamou o cartola paulista.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, ainda durante o jogo a torcida e jogadores do Ajax se desentenderam. A polícia interviu, usando cacetétes e gás de pimenta para conter a confusão. O número de presentes não era grande, com cerca de 600 torcedores no Clube Velha Central, em Blumenau.

A reportagem do UOL Esporte entrou em contato com os responsáveis pelo evento. A Evidência, empresa que realizou o torneio, avisou que o time de Blumenau pode receber punições. "É lamentável. Essa é uma copa miscigenada. O Ajax, inclusive, tem um nigeriano que é o mais adorado pela torcida. Tem jogador branco, amarelo, negro... Fazemos isso há 18 anos. São mais de 15 mil jogos realizados e esse é o primeiro fato dessa natureza que aconteceu", declarou Flávio Adauto, da Evidência.

"Assim que percebemos o que estava acontecendo, fomos até a Polícia Militar. Relatei que era um absurdo o que estava acontecendo e pedi providências. Não vejo culpa do outro time. A final foi limpa. Mas isso vai ser analisado. Vamos ver os relatórios e ponderar sobre futuras participações. Não podemos execrar alguém sem analisar os culpados, mas algum tipo de punição deve acontecer. Na Copa Kaiser, o time é responsável pelos atos de sua torcida", completou.

A Kaiser, patrocinadora do campeonato, lamentou o fato. "Com relação ao ocorrido na Grande Final da Copa Kaiser, em Blumenau, Santa Catarina, a  Kaiser, patrocinadora oficial do campeonato, afirma que repudia qualquer manifestação de discriminação. O evento, que já existe há quinze anos, visa promover a integração social e o incentivo ao esporte, por meio da promoção do futebol amador", afirmou a empresa, por meio de sua assessoria.