Futebol de várzea discute até teto salarial após times gastarem mais de R$ 100 mil por ano

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Bruno Doro/UOL Esporte

    <strong>GILMAR FUBÁ ESTREIA NO "CORINTHIANS DA VÁRZEA" COM PÚBLICO DE 2 MIL PESSOAS </strong> <p>Gilmar, quem foi o melhor em campo? "Ah, hoje? O barro". O diálogo acima resume a estreia, na Copa Kaiser, de uma das figuras mais folclóricas do futebol brasileiro. O volante Gilmar Fubá, campeão do mundo pelo Corinthians em 2000, estreou neste domingo pelo Ajax, da Vila Rica, chamado de "Corinthians da Várzea" pelo tamanho de sua torcida. <p>No campo do Burgos, em Ermelino Matarazzo, cerca de duas mil pessoas foram acompanhar a estreia do jogador. O Ajax não decepcionou. Com Fubá no meio de campo, o time da Vila Rica venceu o Paulista por 3 a 0, com dois gols de Washington e um de Erik.

    GILMAR FUBÁ ESTREIA NO "CORINTHIANS DA VÁRZEA" COM PÚBLICO DE 2 MIL PESSOAS

    Gilmar, quem foi o melhor em campo? "Ah, hoje? O barro". O diálogo acima resume a estreia, na Copa Kaiser, de uma das figuras mais folclóricas do futebol brasileiro. O volante Gilmar Fubá, campeão do mundo pelo Corinthians em 2000, estreou neste domingo pelo Ajax, da Vila Rica, chamado de "Corinthians da Várzea" pelo tamanho de sua torcida.

    No campo do Burgos, em Ermelino Matarazzo, cerca de duas mil pessoas foram acompanhar a estreia do jogador. O Ajax não decepcionou. Com Fubá no meio de campo, o time da Vila Rica venceu o Paulista por 3 a 0, com dois gols de Washington e um de Erik.

Um conceito que nasceu no esporte profissional nos Estados Unidos e foi adaptado para a realidade europeia pode chegar ao Brasil por um caminho alternativo: o futebol de várzea. Com os custos aumentando muito no futebol amador paulista, os principais clubes da cidade estão discutindo maneiras de diminuir as despesas, que podem superar os R$ 100 mil por temporada para quem avança em torneios importantes, como a Copa Kaiser.

Durante o Debate do Futebol Amador, organizado no último sábado pelo jornal "A Voz do Futebol Amador", até mesmo teto salarial foi discutido. O esporte profissional americano já usa a medida para evitar gastos astronômicos, limitando salários e dividindo lucros entre times mais populares e de mercados menores. Na Europa, os limites chegaram na forma de um acordo de fair-play financeiro, que pede que os clubes não contraiam dívidas que não podem pagar.

"Os trouxas, nesses casos, somos nós. A gente cavou a própria cova pagando esses valores para os jogadores. Uma hora, o caixa acaba. E, pelo menos aqui, está acabando", admite Sérgio Ricardo, presidente do Pioneer, da Vila Guacuri, campeão da Copa Kaiser em 2010, que sediou o debate.

Atualmente, os grandes times da várzea pagam luvas para trazer os melhores jogadores e a maioria dos clubes pagam a cada atleta uma bonificação por partida. A reportagem do UOL Esporte descobriu que alguns times gastam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por partida, incluindo custos adicionais, como café da manhã para atletas, uniformes e aluguel de ônibus. Se uma equipe com custos dessa magnitude chegasse à final da Copa Kaiser, o custo de uma temporada chegaria a casa dos R$ 70 mil.

"Já começamos a formatar uma proposta para conter os custos. Precisamos de uma união, definir limites. Não sei se esse limite seria não pagar luvas, limitar o valor e o número de jogadores que recebem essas luvas ou estabelecer o máximo que se pode pagar por jogo. Só que precisaríamos de união para isso. Fazer com que os 30 maiores times que disputam a Kaiser, por exemplo, assinassem o acordo e concordassem com punições, que a própria organização do torneio definiria", explica Francisco Prince Ribeiro, o Kiko, presidente do Ajax da Vila Rica.

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Apesar do alívio financeiro que originaria, a proposta não agrada a todos. Principalmente pela dificuldade de chegar a um acordo em um universo tão grande como o futebol amador – só a Copa Kaiser tem 192 times só na Série A. "Acho essa saída muito difícil de se tornar realidade. Não podemos limitar o crescimento do esporte fazendo isso limitando os gastos. A saída é profissionalizar o que for possível. Criar departamentos de marketing para buscar mais verba, buscar apoio jurídico para conseguir contratos que segurem os atletas. Se um dia eu conseguir um grande patrocínio, quero ter a opção de assinar com vários profissionais e tornar o meu time forte", diz Johnny do Balão, presidente do Santa Cruz, do Jardim Sinhá.

Sem acordo, outras soluções apontadas eram de implantação mais fácil. "Tem time que investiu mais de R$ 50 mil só para começar a Copa Kaiser e não sei passa da segunda fase. Ouvi gente dizendo que não volta mais porque ficou no banco. Quando você vai montar time, pede fulano e ciclano, monta um time forte, mas não consegue montar um relacionamento. É isso que precisa ser o foco. Gente esquece que com o bom e barato também se ganha", explica Sebastião Lucas de Almeida, o Tião, técnico do Classe A e único treinador bicampeão da Copa Kaiser, com o próprio Classe A no ano passado e o Vida Loka, da Vila Brasilândia, em 2009.

Para isso, Tião ensina onde buscar talentos. "Todo mundo fica na mesmice. Os diretores de todos os times da várzea sempre vão em cima dos mesmos jogadores. Isso tem que mudar. Ninguém vai atrás de revelações. É só andar um pouco. Vai até Cajamar, ABC. Sai um pouco de São Paulo e procura", fala o treinador. "Todo mundo quer só ganhar e ganhar e não percebe que a bola de neve só aumenta. Isso está acabando com o espírito da várzea. Precisamos resgatar a tradição de descobrir talentos. Hoje, são os veteranos que estão voltando para a várzea para encerrar as carreiras", completa Gabriel Marques, da comissão técnica do Classe A.

Copa Kaiser de futebol amador
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