Goleiro estrábico pega pênalti e dá título de Segundona da várzea para "time família"

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Renato Cordeiro/UOL

    Goleiro Galo, que é estrábico, mostra a medalha de campeão da Série B da Copa Kaiser

    Goleiro Galo, que é estrábico, mostra a medalha de campeão da Série B da Copa Kaiser

No último domingo, a Copa Kaiser, principal torneio de futebol amador de São Paulo, decidiu o campeão de sua segunda divisão. E, em um capricho que só os gramados parecem proporcionar, um goleiro estrábico, que muitos de sua própria torcida acreditam ser cego de um olho, foi o grande destaque da conquista.

O personagem em questão é o jovem Galo e seu problema físico não é óbvio para quem fala com o goleirão do Unidos de Pacarana. Apesar de ser estrábico do olho direito, o desvio fica camuflado pelo olhar sério. Os torcedores de sua equipe preferiram olhar para o assunto de uma maneira mais épica. Alguns, ao comemorar a vitória nos pênaltis sobre o Inter do Jaraguá, fizeram questão de salientar a "deficiência": "Ele é cego, mas pega muito", gritava um. "Aê, Galo. Não precisa de dois olhos, não", falava outro.

Bem humorado, Galo nem ligou para as piadas. "Não sou cego, não. Eu enxergo perfeitamente. O único problema é um desvio no olho direito, mas que não atrapalha. Se fosse cego, como teria feito a defesa do pênalti?", questiona, sorrindo.

FINAL DA SÉRIE A SERÁ NO PACAEMBU, EM BUSCA DE RECORDE EM TORNEIO AMADOR

  • Divulgação

    O maior público da história do Pacaembu é de um jogo de 24 de maio de 1942. Naquele dia, um domingo, 70.281 pessoas acompanharam o empate em 3 a 3 entre Corinthians e São Paulo. No próximo dia 18, também domingo, o tradicional estádio paulistano vai receber um público bem menor e, ainda assim, quebrará um recorde se a marca de 15 mil expectadores for superada.

    O local vai receber a final da Copa Kaiser, o principal torneio de futebol amador da cidade. E, em uma jogada de marketing, a cervejaria Heineken, dona da marca, anunciou a partida como uma tentativa de quebra do recorde de maior torcida de futebol amador do Brasil. Para isso, convocou a RankBrasil, uma empresa especializada em recordes, para homologar a marca.

    O objetivo para a decisão do torneio é atrair mais de 15 mil pessoas para o duelo entre Ajax, da Vila Rica, e Turma do Baffô, do Jardim Clímax. Com esse público, a decisão 2012 superaria a final do ano passado. Em 2011, o jogo que deu o título ao Classe A, da Barra Funda, atraiu oficialmente 10 mil pessoas ao estádio Nicolau Alayon, do Nacional, na Barra Funda. Extraoficialmente, porém, os portões foram fechados pela polícia após a entrada de 15 mil expectadores, com parte dos torcedores ficando de fora do estádio.

     

Aos 22 anos, o goleiro foi o grande responsável pelo título do Unidos da Pacarana na Segundona da Copa Kaiser. Na tarde do último domingo, sua equipe e o Inter do Jaraguá empataram em 1 a 1 na grande decisão. Com o campeão definido nos pênaltis, a sorte de Galo apareceu. Em seis chutes, só dois entraram. E ele ainda defendeu o último, cobrado por Índio.

O título coroa uma campanha de superação do Pacarana, chamado por jogadores e pelo técnico Maciel Rodrigues de um time família. "A diferença é que é todo mundo unido. Em outro time, os caras recebem seu dinheiro e viram as costas, vão embora. Aqui, não. No começo da Copa, depois de todas as derrotas, íamos para a nossa sede e conversávamos sobre o que tinha de mudar", diz o zagueirão Reinaldo, chamado de Ricardo Rocha pelo bigode.

É verdade que foram apenas duas derrotas durante toda a competição, mas a campanha esteve longe de ser brilhante. O time precisou de quatro decisões de pênaltis para levantar o troféu, incluindo uma que terminou em 16 a 15, ainda nas semifinais zonais (a Copa Kaiser é dividida em zonas Leste, Oeste, Norte e Sul). E, nas oitavas de final, o time perdeu duas vezes e só se classificou graças a um milagre. "Perdemos as duas e fomos para a última rodada desacreditados. Acho que tínhamos menos de um porcento de chance de classificação", lembra o zagueiro.

Na final, a história foi parecida. O Inter do Jaraguá chegou para a partida como o único invicto e melhor campanha de toda a competição, incluindo a Série A. Mas o time dominou o primeiro tempo, abriu o placar com Rafael, em uma falha da defesa do Inter. O empate veio ainda antes do intervalo, com Carioca. O empate seguiu até os pênaltis, onde o goleiro estrábico brilhou mais uma vez.

O mais impressionante é que, há um ano, o time nem mesmo pensava em disputar o torneio. O futebol de várzea em São Paulo é tão complexo que sua principal competição, a Copa Kaiser, tem três divisões. A principal é a Série A, com final marcada para o próximo domingo no Pacaembu. A Segundona é a Série B, que teve o Pacarana levantando o troféu. As seletivas espalhadas pela cidade, na prática, servem como a terceira divisão.

Há um ano, o time nem mesmo estava pensando em disputar uma dessas seletivas. Quando veio o convite para disputar a Copa Cartola, o Pacarana passou a montar seu time. Chamou um de seus ex-jogadores, Maciel Rodrigues, para montar a equipe. E acabaram campeões. "Quando vencemos a Copa cartola, percebemos que esse time tinha muito a oferecer. E entramos na Série B para ser campeão, não só para conquistar o acesso. No ano que vem, vamos chegar muito mais fortes", avisa o treinador.

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