Grandes clubes do futebol mundial, como Real Madrid, Ajax, Benfica, Flamengo e Boca Juniors são alguns dos gigantes representados na várzea de São Paulo. Nada menos do que 44 dos 192 times que disputam a Copa Kaiser de 2013, o maior torneio de futebol amador do Brasil, têm os seus nomes inspirados em clubes profissionais (do Brasil e do exterior). Se eles não conseguem nem sonhar com o mesmo apoio financeiro de seus espelhos, os times varzeanos podem ao menos curtir um pouco da fama dos seus xarás. Conheça melhor alguns destes genéricos da várzea:

Real Madri de Paraisópolis

Na Zona Sul, em uma das maiores comunidades de São Paulo, fica o Real Madri - assim mesmo, sem a letra D no final - de Paraisópolis. A agremiação, fundada em 2000, se dá ao luxo de ter um membro que faz tanto o papel de José Mourinho como o de Cristiano Ronaldo. Manoel dos Santos, o Cidão, é técnico e atacante da equipe da enorme comunidade da Zona Sul de São Paulo. Para pode organizar melhor o time e ciente de que está um pouco acima do seu peso ideal, Cidão começa literalmente no banco.

"Eu fico de técnico. Mas quando vejo que a situação está ficando complicada, eu entro em campo e tento fazer gol para a gente vencer. Sou mesmo uma mistura de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, um pouco mais para o Cristiano, pois faço bastante gol", comentou o treinador-atacante. "Eu torço para o Real daqui e para o de lá, da Espanha. A rivalidade com o Barcelona é muito grande lá. Aqui não temos um Barcelona no campeonato, mas todos querem ganhar do Real, porque a nossa camisa pesa", emendou Cidão.

Alçado à Série A da Copa Kaiser nesta temporada, o Real tem como principal objetivo se manter na elite da competição mais importante do futebol amador. E tem boas chances, já que foi bem na sua estreia, ao bater por 1 a 0 o Ouro Preto, do Jardim Iporanga, no último domingo. "Nossa meta é mesmo ficar na Série A. A gente nem pensa em cair, sai para lá", disse o comandante do Real de Paraisópolis.

Ajax da Vila Rica e Ajax do Jardim São Jorge

Em 2013, todos os times tentarão impedir o bicampeonato da Copa Kaiser de um oponente cuja inspiração é holandesa. O Ajax, da Vila Rica, que tem o mesmo nome do maior clube de Amsterdã, capital holandesa, manteve a base campeão em 2012 e demonstrou muita força logo em sua estreia neste ano, quando venceu por 3 a 0 o Águia Rocinha, de AE Carvalho, em jogo pelo Grupo 24 da Zona Leste, no último dia 17, no campo do Nacional.

O Ajax, da Vila Rica,  foi fundado, em 1973, por nove jovens que eram admiradores da seleção holandesa, que assombrava o futebol mundial e cuja base era o Ajax.  O time holandês, inclusive, era o atual campeão mundial interclubes.

Coincidentemente, existe outro Ajax na várzea paulistana. É o Ajax, do Jardim São Jorge. Fundado há 18 anos, o time da Zona Sul tem o distintivo muito parecido com o gigante holandês. Só mudam as cores, como é possível ver na imagem de abertura desta matéria. No lugar do branco, preto e vermelho, entram o amarelo e preto. Curiosamente, as cores do Ajax, do Jardim São Jorge são inspiradas no seu adversário nos terrões, o Ajax, da Vila Rica.

Ao contrário do atual campeão da Copa Kaiser, o seu xará não começou bem a edição de 2013 da competição. A equipe foi derrotada por 1 a 0 pelo ABC (como o clube potiguar), de Pedreira.

Internacional de Moinho Velho

O Internacional, de Moinho Velho, nasceu em 1973, quando o gaúcho Internacional formava a sua base que anos depois dominaria o futebol nacional conquistando o tricampeonato brasileiro (1975, 76 e 79). O xará da Zona Sul de São Paulo é considerado um dos mais organizados times da várzea paulistana.  Segundo Luiz Carlos, o Alemão, um fundadores e atualmente diretor do Inter, a agremiação chega forte para brigar pelo inédito título da Copa Kaiser.

"O nosso time está mais forte neste ano. Em 2012, nós ficamos entre os 20 melhores. Mas agora vai dar tudo certo", disse Alemão. Os colorados começaram muito bem a disputa. No último domingo, o Internacional bateu por 2 a 0 a Ponte Preta, do Jardim Mirna. A equipe alvinegra é outra cujo nome foi inspirado em um clube profissional. Além dessa Ponte já citada, também na Zona Sul, existe a Ponte Preta, do Jardim Leme, que venceu o Palmeirinha, de Paraisópolis, por 1 a 0, na estreia de ambos na Copa Kaiser de 2013, no último dia 17.

Boca Junior de Pirituba

Desde 2005, um catimbeiro time da várzea paulistana, mais precisamente de Pirituba, incorpora como ninguém o espírito argentino. Não por acaso ele se chama Boca Junior, inspiração óbvia no Boca Juniors, considerado um dos gigantes do futebol mundial. Tamanha admiração faz com que os dirigentes da agremiação da Zona Oeste torçam até mais para os hermanos do que para os brasileiros.

"O nosso time é raça, garra e luta em campo, bem como os argentinos. Eu sou corintiano, mas quando tem time argentino na disputa, eu sou até mais argentino. Só não fui na final da Libertadores, quando o Corinthians venceu o Boca", comentou o presidente do Boca Junior, Carlos Eduardo dos Santos, o Duda.

Ao contrário do sempre campeão Boca Juniors, de Riquelme, o Boca paulistano não vem conseguindo grandes resultados na várzea. Na primeira rodada da Copa Kaiser de 2013, a equipe perdeu por 2 a 0 para o Catumbi, do Jardim São Remo. "A expectativa é que a gente consiga passar ao menos para a fase em que jogamos contra as outras regiões da cidade. É difícil vencer na Zona Oeste, mas estamos confiante", comentou Duda, também apelidado de Maradona.

Botafogo do Jaçanã

Outro exemplo da transposição de nome e cores de um clube profissional para várzea é o Botafogo do Jaçanã. Alvinegro e com o mesmo distintivo do carioca famoso, o time do tradicional bairro da Zona Norte de São Paulo foi fundado em 1990 pelo já falecido Miltinho, um botafoguense fanático e ex-craque da várzea. Desde então, quem faz parte do Botafogo do Jaçanã precisa torcer também pela equipe do Rio de Janeiro.

"Não importa se é corintiano, são-paulino ou palmeirense. Quem frequenta ou joga pelo Botafogo do Jaçanã tem que torcer pelo Botafogo do Rio também", Nega, diretora da agremiação, filha de Miltinho e de Dona Fátima, que assumiu a presidência do Botafogo do Jaçanã, no ano passado, após a morte do seu marido.

O alvinegro carioca, que consagrou Mané Garrincha, também dá nome ao Botafogo de Guainases, que já venceu a Copa Kaiser, ao Botafogo de São Miguel e ao Botafogo da Favela.

Benfica e Flamengo da Vila Maria

Só mesmo na várzea, por exemplo, que o Benfica é vizinho do Flamengo. Isso acontece na Zona Norte de São Paulo. Inspirados no maior time de Portugal e no clube de maior torcida do Brasil, Benfica e Flamengo são agremiações do mesmo bairro da Vila Maria. E o campos dos dois faz jus ao verdadeiro nome de futebol de várzea. Eles ficam na margem da rio Tietê. Com boa estrutura, ambos os campos são usados na disputa da Copa Kaiser. 

Em sua estreia, no último domingo, o Flamengo de Vila Maria sofreu, mas venceu por 2 a 1, de virada, o VUP, da Casa Verde. Uma semana antes, o Benfica venceu pelo mesmo placar o Rio Verde, da Vila Iório.