Estádio cheio e uniforme bizarro: torneio amador mostra a árbitro Fifa a várzea "de verdade"

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Renato Cordeiro

    20.out.2013 - A equipe de arbitragem da final da Série A da Copa Kaiser 2013

    20.out.2013 - A equipe de arbitragem da final da Série A da Copa Kaiser 2013

Quando você ouvia seu avô falando que "na várzea que era bom", a imagem que se formava era um verdadeiro clichê. Bolas surradas, campos cheios de buracos, zagueiros de fazenda e pernas de pau correndo atrás da bola. Na tarde de domingo, o principal torneio amador do país mostrou a um árbitro Fifa que está bem longe dessa realidade.

A final da Copa Kaiser não teve as mais de 20 mil pessoas do ano passado, é verdade, mas ainda assim foi um evento digno do país do futebol. O público superou as dez mil pessoas no estádio do Nacional, na Barra Funda. Foi maior, por exemplo, do que o público de cinco dos dez jogos do último fim de semana no Campeonato Brasileiro da Série A.

A presença do público impressionou o escolhido em dirigir a partida. "É uma final, um grande jogo. É uma satisfação muito grande. A regra não tem diferença entre profissional e amador. O respeito é o mesmo. Futebol no Brasil é coisa séria", disse Wilson Seneme, do quadro da Fifa.

"A diferença é o glamour", analisou. E ele teve uma dosa das características incomuns que você só encontra na várzea. O maior exemplo ficou por conta dos uniformes. Vencedor da partida e campeão pela primeira vez da Copa Kaiser, o Leões da Geolândia manteve, para a decisão, sua numeração bizarra.

Desde o início do ano, para comemorar os 13 anos da equipe justamente em 2013, o time da Vila Medeiros, na Zona Norte, usou o 13 nas costas. Isso criou uma numeração única, com o goleiro reserva usando o 1313, o volante de 3113 e o atacante e destaque do campeonato, com a 135. Um pesadelo para o juiz quando era hora de anotar um cartão.

Do outro lado, do Família 100 Valor, Seneme ganhou uma ajuda. As camisetas do time do jardim Panamericano chamaram atenção desde o início do ano com seu design inusitado. Um grande ccifrão e as cores verde e branco (em referência ao dólar norte-americano), transformavam a identificação dos números um pesadelo. Mas o uniforme feito especialmente para a final era um pouco mais discreto, predominantemente preto e com o número em branco, muito mais visível.

Em campo, os amadores não eram tão amadores assim. Pelo lado do 100 Valor, a maioria dos atletas passaram por categorias de base de times profissionais e alguns contam com passagens pelo futebol internacional. Um deles, o lateral Róbson, chegou a jogar no Anchi, da Rússia (onde sofreu com o preconceito de companheiros de time). Pelo Leões, o lateral Caio Vilela jogou, até o ano passado, no interior de São Paulo. Ele disputou o Paulista, por exemplo, pelo Sertãozinho.

"O futebol profissional tem mais técnica. Aqui tem mais espaço, mas é a condição ideial para a prática do futebol. Um ambiente muito bom, uma torcida maravilhosa, tem coisas aqui você não encontra lá. Mas a rigidez é a mesma. O status Fifa não garante nada, você precisa impor respeito em campo", explicou.

Para os jogadores, a presença de Seneme, no início, intimidou. A maior prova foi que o jogo começou muito disputado no meio-campo, mas sem faltas. Quando um gol do Leões foi anulado, no fim do primeiro tempo, a reclamação foi mínima. Na segunda etapa, quando o Leões abriu 1 a 0, com gol do veloz atacante baiano Capetinha, as entradas ficaram mais duras. Mas bastou ao juizão mostrar dois amarelos para as coisas se acalmarem. A única discussão mais ríspida foi com o volante do 100 Valor Baiano, por reclamação. Mas o volante logo desistiu.

Até mesmo a final da Série B da Copa Kaiser teve um árbitro famoso. Guilherme Ceretta de Lima não é Fifa, mas apitou a final do Campeonato Paulista desse ano. Ele foi o responsável por controlar os ânimos do empate entre Classe A, da Barra Funda, e Santa Cruz do Jardim Sinhá – que venceu nos pênaltis. Sem nenhuma ocorrência.

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