Governo assume custos e alivia orçamento privado do Comitê Rio-2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • J. P. Engelbrecht/AFP

    Comitê Organizador da Rio-2016 vai gastar R$ 7 bilhões com Jogos e transferiu responsabilidades

    Comitê Organizador da Rio-2016 vai gastar R$ 7 bilhões com Jogos e transferiu responsabilidades

Quatro anos após o Rio de Janeiro ser eleito sede da Olimpíada de 2016, o comitê organizador do evento finalmente divulgou seu primeiro orçamento dos Jogos. O órgão, que será o responsável pela operação do evento (alimentação de atletas, equipamentos esportivos, etc), informou que pretende gastar R$ 7 bilhões para cumprir com suas obrigações olímpicas. E mais: não usará nenhum recurso público para isso.

Engana-se, porém, quem acredita que o fato de o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016 dispensar a ajuda governamental significa que a Olimpíada de 2016 sairá mais barata aos cofres públicos. Na verdade, o comitê transferiu parte de suas responsabilidades a Prefeitura do Rio, governo do Estado e governo federal. Agora, serão eles quem vão providenciar parte do que, inicialmente, seria providenciado pelo comitê.

O custo total das responsabilidades do comitê transferidas ao governo ainda não foi divulgado, assim como o orçamento geral da Olimpíada (incluindo construção de linha de metrô, de estádios, Parque Olímpico, etc). No dossiê de candidatura do Rio a sede dos Jogos de 2016, foi informado que o evento custaria cerca de R$ 28 bilhões. Disso, aproximadamente R$ 24 bilhões seriam custeados com recursos públicos.

Por enquanto, esse ainda é a cifra oficial de quanto os governos vão gastar com a Olimpíada. Ou seja, mais de três vezes o que o Comitê Rio-2016 investirá no evento.

Manobra matemática

Quando o Rio de Janeiro apresentou sua candidatura à sede da Olimpíada, ainda em 2008, o custo da preparação da cidade para o evento foi dividido em dois. Construção de linhas de transporte público, obras em aeroportos ou mesmo de estádios ficaram sob a responsabilidade do governo. Já despesas diretamente ligadas aos Jogos, como acomodação de atletas e o programa de voluntários, foram atribuídas ao comitê organizador.

Esse comitê é uma entidade privada. Ele vende direitos de patrocínio da Olimpíada, ingressos e outros produtos ligados aos Jogos para arrecadar dinheiro e custear suas despesas. Mesmo assim, caso ele não consiga ganhar tudo o que precisa gastar, há um compromisso de governos com o COI (Comitê Olímpico Internacional) de injetar dinheiro no órgão para que a diferença seja paga.

No caso do Brasil, a aporte dos governos no comitê foi estimado em R$ 1,4 bilhão em 2008. No dossiê de candidatura do Rio a sede dos Jogos de 2016, foi informado que esse valor seria necessário para custear algumas estruturas olímpicas.

Acontece que o plano mudou. O Comitê Rio-2016 decidiu ser independente de recursos públicos. Para isso, passou para o governo a responsabilidade de pagar o que próprio comitê pagaria usando o dinheiro do governo. 

Questões em aberto

Apesar dessa decisão já ter sido tomada, nem o presidente do Comitê Rio-2016, Carlos Nuzman, nem o diretor geral do órgão, Sidney Levy, detalharam o resultado das transferências. Durante a entrevista coletiva que ocorreu após a apresentação do orçamento do comitê, ambos foram seguidamente questionados sobre o assunto, mas se recusaram a responder.

A justificativa é que, como agora a responsabilidade é governamental, é o governo quem deve falar a respeito. Informações sobre as ações do governo relacionadas à Olimpíada serão divulgada na terça-feira.

"Nós [do comitê] e o governo chegamos à conclusão que dinheiro público e privado não devem ser misturados", explicou Levy. "O que governo fará para a Olimpíada será divulgado pela Autoridade Pública Olímpica [APO], que coordena essas ações."

Orçamento equilibrado

Com o governo pagando diretamente por mais coisas do que o inicialmente previsto, Levy assegurou que o orçamento do Comitê Rio-2016 está equilibrado, contando só com recursos privados. Os R$ 7 bilhões que serão gastos pelo órgão na Olimpíada sendo arrecadados com patrocinadores, COI ou outras ações. Segundo ele, 70% das receitas já estão garantidas.

Isso se deve ao grande interesse de empresas sobre os Jogos Olímpicos do Rio, disse Sidney. O diretor geral afirmou, inclusive, que a previsão de arrecadação com patrocínios cresceu desde que o Rio foi escolhido como sede da Olimpíada. O aumento vai cobrir a elevação dos custos que o órgão vai ter com o evento.

Em 2008, foi estimado que o Comitê Rio-2016 gastasse, sem contar a ajuda do governo, R$ 4,2 bilhões com a Olimpíada. Seis anos depois, porém, esse valor já atingiu os R$ 7 bilhões. Ressalta-se que cerca de R$ 1,3 bilhão desse novo valor é referente a correção monetária acumulada no período.

Nuzman mostrou-se satisfeito com o gasto. Disse que ele é 30% menor do que o do Comitê Organizador dos Jogos de Londres-2012. Em Londres, segundo ele, o comitê gastou cerca de R$ 12 bilhões. Esse valor, porém, foi só o gasto do comitê, que ganhou ajuda do governo para fechar suas contas. Toda a Olimpíada de Londres custou cerca de R$ 30 bilhões.

*Atualizada às 10h

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos