Reformado para Pan, Estádio de Remo vira suporte para ar condicionado

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

A arquibancada do Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, virou suporte para aparelhos de ar condicionado. O local é patrimônio histórico, foi reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007, e será local de competição da Olimpíada de 2016. 

As volumosas caixas de metal dos refrigeradores de ar – são cerca de 15 — dividem espaço há um ano e meio com exaustores também instalados na arquibancada que deveria ser usada por espectadores de competições esportivas realizadas na lagoa. Todas atendem a clientes de restaurantes e lanchonetes abertos no estádio desde que ele se tornou um centro de gastronomia e entretenimento.

O centro Lagoon é administrado pela Glen Entertainment, companhia que assumiu o controle do Estádio de Remo da Lagoa ainda em 1997.

O estádio é propriedade do Estado do Rio de Janeiro, mas teve sua administração repassada à iniciativa privada para que fosse reformado e passasse a ser mantido sem o aporte de recursos públicos. Em aditivos feitos a esse contrato, foi estabelecido que a Glen pagasse por adequações do espaço para o Pan.

Os Jogos Pan-Americanos chegaram e a reforma do estádio acabou sendo custeada com dinheiro público. Ao todo foram R$ 13,2 milhões gastos no espaço para que pudesse receber as provas de remo dos jogos continentais. Terminadas as provas, porém, o que era estrutura esportiva passou a servir a frequentadores de estabelecimentos comerciais que funcionam no estádio.

"O estádio de remo está sendo, pouco a pouco, descaracterizado. O que era um equipamento esportivo está virando um shopping", reclama o presidente da Confederação Brasileira de Remo, Edson Altino Pereira Júnior. "O estádio está bem cuidado. Todos podem ver. Mas está bem para a parte comercial, não para a esportiva."

Segundo Pereira Júnior, o fato de as arquibancadas estarem ocupadas por aparelhos de ar condicionado e exaustores é só um dos problemas que toda essa transformação do estádio causa ao remo nacional. "E nem é o pior", complementa ele, que se diz cansado de tanto queixar-se contra governos e empresas.

Pereira Júnior conta que o segundo bloco de arquibancadas do estádio de remo foi projetado para receber, abaixo dos assentos, uma garagem para barcos. Hoje, abriga salas de cinema. "A reforma para o Pan foi feita, na minha opinião, já pensando que aquilo tudo viraria um shopping", afirma.

Tombamento

Parte de todas essas mudanças, ainda segundo o presidente da CBR, descaracterizou o edifício do estádio de remo. Antes de ele ser transformado em um centro gastronômico e entretenimento, todos que passavam pelo lado de fora do estádio tinham vista para a Lagoa já que o prédio era vazado em seu piso térreo. Hoje, essa visão não existe mais.

REMADORES 'PAGAM' PARA TREINAR EM ESTÁDIO DA LAGOA

  • Divulgação/Frerj

    A disputa entre entidades ligadas ao Remo e a Glen, empresa que administra o complexo de entretenimento Lagoon, espaço que fica dentro do Estádio da Lagoa Rodrigo de Freitas, ganhou mais um capítulo neste ano. Atletas e dirigentes alegam desrespeito aos termos de permissão de uso firmado entre o grupo e o Estado e reclamam, entre outros pontos, de terem que pagar estacionamento para treinar no local e de infiltrações nas garagens dos barcos. Tudo em um dos palcos dos Jogos Olímpicos de 2016.

Apesar de o espaço ser uma propriedade do Estado, a Prefeitura do Rio de Janeiro é obrigada a zelar por ele, já que o estádio também é um patrimônio histórico do município. Procurada pelo UOL Esporte para comentar a instalação do ar condicionado na arquibancada, a administração municipal informou que está ciente do fato e agindo a respeito.

A assessoria de imprensa da prefeitura informa que a Glen Entertainment já foi notificada, mas não sabe dizer quando. Informa também que já identificou outros problemas de descaracterização do estádio de remo, mas não sabe dizer quais. Por fim, ainda explica que está cobrando da Glen um projeto para as adequações necessárias. Não sabe dizer qual prazo para elas.

O governo do Estado, por sua vez, não fez comentários sobre os aparelhos de ar condicionado nas arquibancadas do seu estádio. A SEEL (Secretaria Estadual de Esporte e Lazer) limitou-se a dizer que "garante que os equipamentos instalados nas arquibancadas não atrapalharão os expectadores durante os Jogos Olímpicos."

A Glen Entertainment foi procurada pelo UOL Esporte, mas não se pronunciou.

RIO DE JANEIRO ESTÁ ATRASADO NA PREPARAÇÃO PARA A OLIMPÍADA

RIO-2016 JÁ CUSTÁ R$ 29,2 BI E SUPERA ESTIMATIVA DA CANDIDATURA

  • Faltam três anos para o início da Olimpíada de 2016, e o evento ainda não tem um orçamento oficial. O que já se sabe, contudo, é que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro custarão mais do que o informado no dossiê de candidatura da capital fluminense à sede do megaevento.

  • Apesar de uma boa parte das obras necessárias para a Rio-2016 não ter um custo definido, os projetos relacionados ao evento que já têm, no mínimo, um orçamento inicial custarão R$ 29,2 bilhões. Em 2008, o comitê de candidatura do Rio à cidade-sede da Olimpíada estimou que R$ 28,8 bilhões fossem necessários para a preparação para os Jogos.

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