Rúgbi do Brasil faz anúncio no exterior em busca de talentos para Rio-2016

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

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    Brasileiras que moram nos EUA e Canadá procuraram a seleção feminina de rúgbi

    Brasileiras que moram nos EUA e Canadá procuraram a seleção feminina de rúgbi

A seleção brasileira de rúgbi está em busca de atletas que tenham potencial para representar o país nos Jogos Olímpicos-2016, mas ainda não sabem que podem jogar pelo Brasil. Por isso, a Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) disparou um anúncio, como daqueles classificados de jornais, para sites especializados em alguns dos principais países praticantes da modalidade em busca de brasileiros "perdidos" pelo mundo.

A meta é descobrir atletas talentosos com laços familiares com o país e um bom lastro de experiência no esporte. A CBRu busca expatriados, filhos ou netos de brasileiros na Europa, Austrália, Estados Unidos ou Canadá, dignos de vestirem a camisa amarela dos Tupis, apelido da equipe nacional, em 2016.

O rúgbi ainda luta para ser popular no Brasil. A base de atletas está em desenvolvimento e nossa equipe principal segue de forma disciplinar a um extenso calendário de treinamentos e competições para atingir um bom nível internacional. Nesta semana, por exemplo, o time acaba de retornar de um período de intercâmbio na Austrália, uma das potências do esporte.

Os anúncios da CBRu foram lançados na web em agosto de 2013. A procura foi grande e em março deste ano, a entidade deu início aos contatos. A entidade afirma estar em conversação com 30 atletas de nove países, sendo sete da Inglaterra, um dos expoentes da modalidade.

Em junho deste ano, por exemplo, o winger (ala) Adrian Antonio Gardner manifestou o interesse em naturalizar-se brasileiro e disputar os Jogos-2016. Ele tem o apelido de Ade (pronuncia-se Êid) na Inglaterra, é uma das estrelas do St. Helens, um dos clubes mais tradicionais do país, com 144 anos de história. Ele é filho de mãe brasileira, mas nascido e criado na Inglaterra, e foi um dos que viu o anúncio da CBRu. Ade já representou a Inglaterra na Copa do Mundo da IRB (sigla em inglês para o Conselho Internacional de Rúgbi), em 2008, na Austrália., o que não o impede de representar o Brasil em 2016. "Minha mãe ficaria muito orgulhosa de mim se eu jogasse pelo Brasil no Rio", afirmou ao site da BBC.

Embora tenha direito ao passaporte brasileiro, e, com isso poderia jogar pelo Tupi, Ade ainda não tem a documentação do país. Por este motivo, a CBRu evita comentar sobre o caso. "Mantivemos contatos com atletas bons, de alto nível internacional, mas só podemos revelar alguns nomes quando toda a documentação estiver acertada", afirmou ao UOL Esporte Agustín Danza, CEO da CBRu.

Mesmo que Ade não possa jogar pelo Brasil, a confederação conseguiu uma boa quantidade de atletas aptos. "Fizemos uns contatos muito bons com alguns atletas de alto nível em diversos países. Alguns estão em fase de acerto da documentação para que tenham a nacionalidade brasileira em definitivo", disse Danza.

Ele garante que a meta não é montar uma seleção brasileira repleta de atletas estrangeiros. "A equipe que vamos levar para os Jogos Olímpicos do Rio será composta por, no máximo, 25% de atletas que encontrarmos fora do país. Ainda assim, são brasileiros, mas que moram fora do país", explicou o executivo da confederação.

"Se olharmos para as melhores seleções do mundo no nosso esporte, vamos ver diversos atletas de países africanos representando a França ou de ex-colônias britânicas jogando pela Inglaterra. A Nova Zelândia, os famosos All Blacks, conhecidos mundialmente, têm, ou tiveram em algum momento importante, atletas nascidos em países como Samoa ou Tonga", exemplificou.

Há casos como o de Alexander Browne, escocês de nascimento, mas de família brasileira. Hoje joga pelo São José (SP) e já fez parte do Tupi. Ou do fullback (defensor) australiano David Harvey, que disputa a liga da Austrália, e é conhecido por, entre outras coisas, ser neto de um famoso jogador de críquete do país da Oceania, Neil Harvey. David compôs o elenco do Tupi que treinou na Austrália e regressa ao Brasil nesta semana. Juliano Fiori é outro talento garimpado no exterior. Filho de pai brasileiro, foi um dos destaques das categorias de base da Inglaterra e está em condições de jogar pelo Brasil.

Existem, também, exemplos no feminino, em que a equipe nacional até alcança resultados internacionais muito mais relevantes do que o masculino, como o 9º lugar no Circuito Mundial do ano passado, feito inédito para o Brasil. Ainda assim, algumas garotas se interessam pelo anúncio da CBRu e fazem teste para ver se têm nível para integrar a seleção. A fluminense Isadora Cerullo nasceu em Niterói, mas cresceu e aprendeu a jogar nos Estados Unidos. Hoje, faz parte da seleção brasileira.

"A questão física, nós conseguimos trabalhar aqui. O que buscamos são atletas com experiência na tomada de decisões dentro de um jogo, no calor da partida, que só os muitos anos de prática em alto rendimento vão trazer. Isso, o Brasil ainda não tem", explicou Agustín Danza. "Nossa meta não é fugir do último lugar no Rio-2016, mas fazer frente aos melhores do mundo, lançar um desafio em campo para aquelas equipes que vão estar nos Jogos Olímpicos, mostrar que não é fácil ganhar do Brasil. Acho que isso seremos capazes de fazer", concluiu.

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