Na Alemanha, tem um brasileiro que vence. É no tênis de mesa

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

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    Calderano bateu o ex-número 1 do mundial: "Foi a maior vitória da vida"

    Calderano bateu o ex-número 1 do mundial: "Foi a maior vitória da vida"

Exatamente 100 dias após o vexame na Copa do Mundo ante a Alemanha no Mineirão lotado, teve um brasileiro dando o troco nos alemães na casa deles igualmente lotada. Vá lá que ocorreu no tênis de mesa e não no futebol, e era apenas a segunda rodada da Bundesliga da modalidade, na pequenina cidade de Ochsenhausen, no sul da Alemanha, de oito mil habitantes.

Não havia as quase 60 mil pessoas do Mineirão, como nos 7 a 1, mas um quarto da população de Ochsenhausen presenciou, no domingo, 18, a vitória do carioca Hugo Calderano, 19, ante Timo Boll, 31, um dos grandes nomes do tênis de mesa mundial, dono de duas medalhas olímpicas, ex-número 1 do mundo.

Calderano é atleta do TTF Liebherr Ochsenhausen, time de mesatenistas profissionais da pequenina cidade alemã, desde setembro. Foi contratado exatamente um mês após faturar a inédita medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juentude, na chinesa Nanquim, em agosto. Compõe um time que ainda conta com um francês, um russo e um inglês. Eles recebem salários, obedecem a um cronograma de treinamento, concentração e competição tal qual um jogador de time do campeonato alemão de futebol. A Bundesliga de tênis de mesa é tradicional e muito acirrada, existe desde a década de 1930.

Todos os atletas do Ochsenhausen estão entre os top 70 do ranking mundial. O carioca ocupa a 65ª posição e seu duelo contra Timo Boll, atual dono do 9º posto, parecia apenas para cumprir tabela, dada a distância entre os dois no ranking e a disparidade nos currículos.

O carioca começou a se dedicar integralmente ao tênis de mesa há pouco mais de três anos, em 2011, quando trocou o Fluminense, onde iniciou na modalidade, pelo São Caetano, no ABC Paulista. A esta altura, enquanto Calderano ainda engatinhava na modalidade, Boll já completara 10 anos no Top 10 do ranking mundial, tinha sido bicampeão da Copa do Mundo (2002 e 2005), cinco vezes campeão europeu, prata nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Nos anos seguintes, ele ainda conquistou mais um titulo continental e um bronze em Londres-2012.

O russo, inglês e o francês do Ochsenhausen haviam caido ante Boll em temporadas anteriores. Então, o técnico croata Dubravico Skoric, do Ochsenhausen, jogou o brasileiro na fogueira. E ele saiu dela muito melhor do que seus companheiros de time.

Diante de 2,5 mil torcedores, Calderano aplicou um surpreendente 3 sets a 0 em Timo Boll, com parciais de 11-8, 11-9 e 11-9. A imprensa alemã noticiou que a agressividade do brasileiro e a facilidade na variação nos golpes, principalmente nos backhands e topspins, desarmaram o perigoso alemão.

Assim, o carioca vingou nossa seleção de futebol na Alemanha. "Foi a maior vitória da minha vida. Foi épico", disse ao UOL Esporte o mesatenista. Houve pouco tempo para ele curtir o triunfo. E a sisudez alemã não permitiu uma comparação, ainda que bem humorada, com o resultado daquela fatídica semifinal no Mineirão. "Se fosse o contrário, um alemão vencendo no Brasil, nós todos iríamos fazer piada. Mas aqui não teve nada disso. Aliás, no dia seguinte, já emendamos um treino físico bem pesado. Não deu tempo para aproveitar muito a vitória", contou Caderano.

Agora, ele já começa a vislumbrar um caminho longo mas que pode marca história no tênis de mesa nacional. Calderano sonha com a medalha olímpica. "Estou evoluindo meu jogo aqui na Alemanha. Isso vai ajudar a superar a concorrência interna no Brasil, que é de altíssimo nível", constatou. Gustavo Tsuboi, que também está jogando na Bundesliga, defende o Schwalbe Bergneustadt, é o melhor brasileiro no ranking mundial (39º).

Outro fator que pode contribuir para alcançar o objetivo vai além da técnica, tática ou preparação física. O brasileiro está morando no apartamento do clube, que, coincidentemente, durante muito tempo foi casa do sul-coreano Ryu Seung-Min, que fez história na modalidade ao quebrar a hegemonia chinesa no topo do pódio olímpico, quando faturou o ouro em Atenas-2004, encerrando uma sequência de 12 anos de conquistas chinesas. "Vai que o apartamento me dá sorte também, né? Quem sabe?", brincou Calderano.

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