Filme retrata 'terror' e 'covardia' em remoção de bairro para a Rio-2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Nem só sobre superação, atentados, vitórias ou derrotas são os filmes produzidos sobre uma Olimpíada. Os Jogos Olímpicos do Rio, por exemplo, ainda nem começaram, mas já têm um documentário que aborda um tema bem distante do universo esportivo: o terror e a covardia para a extinção de uma vila por causa do evento.

"Se essa vila não fosse minha" (veja trechos acima) conta a história da Vila Autódromo, bairro pobre localizado ao lado do canteiro de obras do Parque Olímpico da Rio-2016. Segundo o diretor do filme, Felipe Pena, a intenção do documentário é mostrar como a Prefeitura do Rio age de forma para desalojar quase 600 famílias que há décadas vivem ali.

O filme foi produzido de forma independente e será exibido em sessão especial na próxima terça-feira, dia 18, às 10h, no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, no Rio. Também já está inscrito em festivais internacionais e será exibido em Pequim, na China, ainda neste mês. Pequim, aliás, foi cidade-sede da Olimpíada de 2008.

Para Pena, que também é jornalista e escritor, a história da vila Autódromo é representativa. Segundo ele, usando a Olimpíada como pretexto, o município age deliberadamente para retirar moradores pobres de uma área que está se valorizando com a chegada dos Jogos ao Rio de Janeiro.

"Tudo está ligado à especulação imobiliária. Todos os moradores da Vila Autódromo sabem disso", afirmou Pena, em entrevista ao UOL Esporte. "A prefeitura diz que quem quiser ficar no bairro pode ficar. Porém, demole as casas de todo mundo que resolveu sair. Obriga moradores a conviver com entulho e lixo. É uma estratégia covarde e de terror."

Pena disse também que a Vila Autódromo contradiz toda promessa de legado trazido pelos Jogos Olímpicos. "Como pode haver legado se a história e a dignidade de moradores não são respeitados? Não existe legado de metal e concreto. O legado tem que ser humano. Dignidade e história são maiores que qualquer evento."

O diretor destaca ainda que a Vila Autódromo é só um exemplo do que vem acontecendo no Rio e no país nos últimos anos. Casos como o da Vila Autódromo, segundo ele, precisam ser divulgados para que se discuta quais os verdadeiros interesses por trás de um megaevento esportivo.

Prefeitura rebate

Responsável pelo processo de negociação para a saída dos moradores da Vila Autódromo, a SMH (Secretaria Municipal de Habitação) rebateu às críticas feitas por Pena em entrevista ao UOL. Segundo o órgão, o trabalho da prefeitura foi sempre "foi transparente, com realização de diversas reuniões de esclarecimento e atendimento individual das famílias, como é de praxe em todas as ações de reassentamento realizadas na cidade". "A Prefeitura repudia com veemência qualquer acusação de uso de violência e desrespeito aos direitos das famílias da Vila Autódromo", declarou o órgão.

De acordo com a SMH, das 583 famílias que viviam na vila, 280 estavam na faixa que passará por obras de canalização dos rios e de duplicação de avenidas no entorno do bairro. Para atender a essas pessas, a prefeitura ofereceu apartamentos de dois e três quartos (45 adaptadas para pessoas com necessidades especiais) no Parque Carioca, condomínio novo localizado a um quilômetro da Vila Autódromo. Os moradores também puderam optar pela indenização.

Das 280 famílias que estão no traçado das obras, 204 optaram pelo imóvel no Parque Carioca e 76 preferiram indenização.

A SMH ressalta ainda que que 172 famílias que não seriam diretamente afetada pela obra pediram para sair da comunidade e também foram reassentadas. Neste grupo, 140 foram para o Parque Carioca e outras 32 indenizadas.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos