Prefeitura do RJ vai levar desabrigados da Rio-2016 para área de risco

Patrick Mesquita e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

  • Obras do Parque Carioca, local para onde serão levadas as famílias da Vila Autódromo

    Obras do Parque Carioca, local para onde serão levadas as famílias da Vila Autódromo

A Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu levar para uma área de risco as cerca de 500 famílias que serão removidas da Vila Autódromo para a construção do Parque Olímpico dos Jogos de 2016. O terreno em que estão sendo erguidos os prédios nos quais viverão parte dos desabrigados pelas obras para a Rio-2016 tem possibilidade de deslizamento. Um estudo feito pelo próprio município comprova o fato.

A área tem mais de 80 mil m² e fica ao lado da Estrada dos Bandeirantes, zona oeste da capital fluminense. Ela fica nos sopés do Maciço da Pedra Branca, formação rochosa na qual está o ponto mais alto do Rio de Janeiro: o Pico da Pedra Branca, que tem 1.024 m de altitude.

Por suas características geológicas e a sua proximidade com a montanha, o espaço foi apontado como de médio risco no Mapa de Suscetibilidade de Escorregamento do Rio. O documento foi elaborado pela Geo-Rio (Instituto de Geotécnica do Município) após desastres causados pelas fortes chuvas em 2010.

Isso, entretanto, não impediu que a prefeitura escolhesse aquele local para abrigar as pessoas que hoje vivem na Vila Autódromo. O bairro fica ao lado do canteiro de obras do Parque Olímpico da cidade e será removido por causa da construção do principal espaço da Rio-2016.

Como alternativa de residência aos moradores da vila, a prefeitura ofereceu um apartamento no chamado Parque Carioca. O conjunto de prédios, construído por meio do programa Minha Casa Minha Vida, fica exatamente na área com risco de desmoronamento, segundo a Geo-Rio.

O prefeito Eduardo Paes lançou pessoalmente as obras do Parque Carioca em fevereiro deste ano. Hoje, os prédios do conjunto estão adiantados. Quem passa na frente do canteiro de obras pode ver todos os edifícios já de pé, esperando pintura e acabamento. Alguns deles foram erguidos bem próximos a uma pedra do Maciço da Pedra Branca.

A construção de todo o condomínio está orçada em R$ 81,4 milhões e deve estar pronta em 2014. Serão 900 apartamentos. A obra está sendo tocada pela construtora Direcional Engenharia, com apoio da Caixa Econômica Federal, governo federal e a prefeitura.

A Secretaria Municipal de Habitação (SMH) informa que o empreendimento tem todas as licenças necessárias. O órgão, entretanto, repassou à Geo-Rio a responsabilidade sobre as informações a respeito da segurança da área escolhida para os apartamentos.

Na quinta-feira, o presidente do instituto geotécnico, Marcio Machado, concedeu uma entrevista ao UOL Esporte. Machado confirmou que os dados do Mapa de Suscetibilidade de Escorregamento são válidos. De acordo com dados geológicos, o local escolhido para o Parque Carioca pode sofrer deslizamentos.

Machado lembrou, contudo, que isso não significa que o local não pode ser habitado. Segundo ele, caso obras de contenção, como muros e reforços nos sopés dos morros, sejam feitas, uma área de risco pode abrigar empreendimentos residenciais com segurança. "Ocupar uma área com risco de deslizamento é uma questão de engenharia", resumiu ele.

O presidente da Geo-Rio informou que o instituto exigiu as obras de contenção da construtora do Parque Carioca para licenciar o empreendimento. A reportagem do UOL Esporte, então, informou Machado que passou pelo canteiro de obra do conjunto e que não viu qualquer obra de contenção citada por ele. Machado não soube informar se elas foram feitas.

A reportagem também procurou a Direcional Engenharia, construtora do Parque Carioca. A empresa não respondeu à reportagem.

MAPA DE SUSCETIBILIDADE DE ESCORREGAMENTO DO RIO

  • Reprodução

    Área em amarelo, onde está o Parque Carioca, indica risco de escorregamento

Ministério das Cidades, gestor do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), também foi procurado. O órgão informou que não avaliou o Parque Carioca pois ele tem menos de 1.500 unidades habitacionais. Segundo as regras do MCMV, quando o conjunto tem menos residências que isso, a Caixa Econômica define sozinha se o financia ou não.

Em nota, a Caixa informou que não financia obras em áreas de risco. Sobre a segurança do Parque Carioca, especificamente, o banco informou que está apurando as informações.

Enquanto isso, representantes de moradores da Vila Autódromo rejeitam a proposta de mudança para o Parque Carioca e dizem que vão resistir à remoção.

Altair Antunes Guimarães é presidente da associação de moradores do bairro. Ele vive na Vila Autódromo desde 1990 e disse a maioria dos habitantes de lá tem título de posse de sua casa emitido pelo Estado, há cerca de 40 anos.

Para ele, a prefeitura quer remover a Vila Autódromo para "valorizar" a área do Parque Olímpico. Depois da Rio-2016, o local será explorado por construtoras que hoje participam da construção do espaço.

"O prefeito Eduardo Paes é o Robin Hood dos ricos. Quer nos tirar daqui para dar o local para os ricos montarem condomínios de luxo. Somos uma comunidade pacífica e temos direito de morar aqui", disse em entrevista ao UOL Esporte.

A Secretaria Municipal de Habitação rebate, diz que a remoção da Vila Autódromo é uma determinação da Justiça e que a área do bairro será transformada em um parque público após a Olimpíada. Esse parque, inclusive, poderá ser acessado por novas linhas de ônibus que estão sendo construídas para os Jogos Olímpicos do Rio.

"O terreno onde hoje fica a Vila Autódromo será transformado num parque público cuja construção abrangerá a recuperação das faixas marginais de proteção da Lagoa de Jacarepaguá e do rio Pavuninha", informou o órgão, em nota.

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