À espera da Rio-2016, Baía de Guanabara recebe velejadores em meio a lixo

Tais Vilela e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Latinhas, sacolas, sapatos, pneus e até sofá e televisão. Há realmente de tudo boiando nas águas da Baía de Guanabara. O local, que visto de longe é cartão postal do Rio de Janeiro, de perto não encanta ninguém. Pelo contrário. É hoje um dos maiores problemas para a preparação da capital fluminense para os Jogos Olímpicos de 2016 por causa de sua poluição.

Escolhida como sede das competições de vela da Rio-2016, a baía ainda é destino de parte do lixo produzido na Região Metropolitana do Rio ou trazido por embarcações. Recebe também, sem qualquer tipo de tratamento, 60% do esgoto das casas cariocas e de outras cidades que margeiam suas águas.

Por conta disso, chegou ser chamada recentemente por atletas e biólogos de "central de esgoto" e "lata de lixo" . Recebeu também diversas críticas de velejadores do Brasil e exterior que participaram na semana passada da Copa Brasil de Vela, torneio realizado na mesma raia que será usada, daqui a dois anos e meio, na Olimpíada de 2016.

"As condições estão longe do ideal. Ninguém gosta de velejar na água suja. Tem bactérias. Isso pode infectar os atletas", reclamou o velejador brasileiro Robert Scheidt, detentor de cinco medalhas olímpicas e campeão da Copa Brasil, classe Laser Standard. "E o problema maior problema nem é esse. São os sacos plásticos que podem enroscar no barco durante a regata e te frear."

"Realmente tem mais lixo aqui do que em outros locais", ratificou o britânico Alex Mills Barton, que veio competir na Copa Brasil. "No Rio, há muito vento, o lugar é bonito, mas todos esses resíduos podem deixar a competição injusta."

Promessa olímpica

O governo do Estado do Rio de Janeiro admite que a condição da Baía de Guanabara é imprópria para prática de esportes. Tanto é que assim que, ao se candidatar a sede dos Jogos Olímpicos, ele assumiu o compromisso com o COI (Comitê Olímpico Internacional) de reduzir em 80% a poluição das águas do local até o início do evento.

De acordo com o secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, tudo caminha para que o objetivo seja cumprido. Cerca de R$ 2,5 bilhões já foram investidos no Plano Guanabara Limpa, projeto composto por dez ações. Parte delas já foi concluída (extinção dos lixões na beira da baía, por exemplo) e o restante está em execução.

Em entrevista ao UOL Esporte, Minc explicou que, hoje, o principal foco do governo é reduzir o despejo de esgoto sem tratamento na baía. Ele disse que, há sete anos, só 12% dos dejetos que chegavam à Guanabara tinham sido tratados. Hoje, esse percentual é de 40%. Até 2016, entretanto, precisa chegar a pelo menos 60% para que a meta de despoluição seja cumprida.

"Também estamos construindo UTRs [Unidades de Tratamento de Rios] na foz dos rios bacia hidrográfica da Guanabara. Essas unidades tratam e retiram até 80% da poluição da água antes de ela chegar na baía", complementou o secretário. "Combinando as iniciativas, vamos reduzir muito a poluição."

Coleta no mar

Já para resolver o problema do lixo que boia na baía de Guanabara, o governo colocou para trabalhar neste ano três barcos coletores, os ecoboats. Cada barco tem uma rede metálica instalada em sua proa. Ao navegar pela baía, a rede raspa o espelho d'água e recolhe qualquer resíduo sólido que esteja na superfície. Isso é trazido para dentro do ecoboat e, no fim de uma viagem, retirado da baía.

Por dia, cada barco chega a retirar cerca de 300 quilos de lixo da baía. Por semana de trabalho, os três barcos juntos recolhem cerca de 5 toneladas de resíduos que estavam boiando na Guanabara.

Eles navegam, geralmente, nas áreas mais sujas da baía. Podem, inclusive, fazer uma limpeza num local específico visando a um evento pontual ou competição. Na semana da Copa Brasil de Vela, por exemplo, eles foram utilizados todos os dias para evitar problemas nas regatas.

O esquema funcionou. Nenhuma prova foi atrapalhada por lixo na baía –fato que não é incomum no Rio, segundo velejadores.

O brasileiro Thomas Low-Beer já teve que abandonar uma regata há cerca de um ano porque bateu num sofá. Na Copa Brasil, não teve nenhum problema. Mesmo assim, cobrou mais ação do governo para a limpeza da local.

"Na Copa Brasil, tivemos vento e sol. Só não tivemos água boa. É triste", afirmou. "É difícil pensar que haverá Olimpíada num local que não respeita a vida. A Baía de Guanabara é o banheiro de toda a população do Rio de Janeiro."

Barreira e mais barcos em 2016

Procurado pelo UOL Esporte, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016 informou em nota que, na Olimpíada, serão instaladas 18 barreiras flutuantes na baía para proteger a raia de vela da sujeira. Até 2016, a promessa do governo é que o número de barcos coletores de lixo chegue a dez.

O comitê informou também que vem acompanhando as ações estaduais para limpeza da baía. O órgão declarou que espera que a Olimpíada sirva para acelerar essas ações, que devem beneficiar não só atletas, mas também toda a população do Rio de Janeiro e região.

Por fim, o comitê informou não tem dúvida de que a baía terá condições de receber as regatas olímpicas. Ainda declarou que a saúde e bem estar dos atletas é prioridade.

SUSPEITA DE CARTEL E ATRASO DA LIMPEZA DAS LAGOAS DA BARRA

  • BBC

    Além de reduzir em 80% a poluição da Baía de Guanabara, o governo do Rio de Janeiro prometeu também limpar as lagoas da Barra e de Jacarepaguá até a Olimpíada de 2016. Os locais ficam ao lado do terreno em que está sendo construído o Parque Olímpico da Rio-2016. Lá, o trabalho está pelo menos cinco meses atrasado.

  • Isso porque a licitação para a dragagem do fundo da lagoa foi cancelada pelo governo. Indícios de formação de cartel entre empresas que participaram da concorrência foram revelados pela Revista Época em julho, dias após a divulgação do resultado da licitação de mais de R$ 600 milhões. O cancelamento deflagrou uma batalha judicial entre o governo e o consórcio Complexo Lagunar, vencedor da concorrência. O grupo é formado pelas construtoras Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez.

  • Só neste mês, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente obteve na Justiça a autorização para assinar um novo contrato com outra empresa para a execução da dragagem, fundamental para a limpeza da lagoa. "Enfim conseguimos resolver essa questão", comemorou o secretário Minc. "Houve um atraso, mas é possível recuperarmos o tempo perdido."

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